Respeitar a tradição
e a vontade do povo de Barrancos



Estava prevista para ontem, depois de terem sido apreciados na semana transacta, a votação dos diplomas que visam tornar legais as touradas de morte em Barrancos.

Esta questão tinha já sido discutida este ano na Assembleia da República, em Maio, quando foram debatidos os projectos de lei do PS, PCP e PP. Na ocasião, os projectos baixaram à Comissão de Agricultura, sem votação. Ou seja: a questão das corridas de touros em Barrancos não ficou resolvida porque ao PS e ao PSD faltou a coragem política para enfrentar a situação e resolvê-la em definitivo.
Espera-se agora, face às expectativas criadas e às promessas entretanto feitas pelo PS, que essa vontade política não volte a faltar, como observou no debate o deputado comunista Rodeia Machado.
Isto para que a Assembleia da República não defraude as aspirações do povo barranquenho e «as suas seculares tradições, ancoradas nos usos e costumes de um povo trabalhador e hospitaleiro que, através da sua vivência colectiva, mais não quer do que viver em paz e tranquilidade».
Com esse sentido voltou o Grupo comunista a apresentar o seu dipoma. Trata-se, como explicou Rodeia Machado, de «criar um dispositivo legal que acolha a tradição local, e onde esta se tenha mantido desde 1928, como é o caso de Barrancos».
Para o PCP, como fez questão de esclarecer o deputado comunista, não se trata de propor a generalização dos touros de morte em Portugal. Não. O objectivo visado, frisou, é o de que a Assembleia da República «reconheça a legitimidade barranquenha». Por outras palavras, «o que se pretende é que, no respeito por outras sensibilidades, se acolha a diversidade da nossa cultura, não querendo uniformizar o que não é uniformizável».
Daí a absoluta discordância da bancada comunista relativamente ao projecto do CDS/PP, que, em síntese, estabelece um normativo que corresponderia à generalização das corridas de morte em Portugal.
Críticas do PCP mereceu também a iniciativa do Bloco de Esquerda ao propor uma moratória de cinco anos sobre a matéria. Para além de revelar um desconhecimento absoluto sobre a vontade e o querer da população de Barrancos, tal proposta, se aprovada, significaria, na opinião de Rodeia Machado, apenas um adiar do problema por esse período, «um lavar de mãos ao mais puro estilo "quem vier atrás que feche a porta"».
Quanto ao projecto do PS, embora mereça a aprovação dos deputados comunistas, contém aspectos que carecem de melhor avaliação em sede de especialidade.


«Avante!» Nº 1360 - 23.Dezembro.1999