Rússia
Comunistas
ganham eleições
mas perdem influência na Duma
O Partido Comunista russo foi o partido mais votado das eleições legislativas de domingo na Rússia. De acordo com os resultados disponíveis no encerramento desta edição, quando estavam escrutinados mais de 84 por cento dos votos, os comunistas alcançaram 24,2 por cento dos votos, à frente do Bloco Unidade (23, 4 por cento), o partido criado pelo Kremlin para lançar a candidatura do primeiro-ministro Vladimir Putin às eleições presidenciais de Junho do próximo ano.
O Kremlin e a
«família Ieltsin» estão satisfeitos com os resultados
eleitorais apesar da vitória dos comunistas, já que embora
estes melhorem percentualmente o seu resultado em relação às
eleições de 1995, subindo dois pontos, o seu número de
deputados diminuiu. Ao contrário do que sucedeu há quatro anos,
em que apenas quatro partidos conseguiram atingir a fasquia dos
cinco por cento, mínimo exigível para eleger deputados, este
ano foram seis os partidos a conseguir representação na Duma.
Para além dos comunistas e do Unidade, têm representação
parlamentar a coligação A Pátria é Toda a Rússia (12,6 por
cento), a União de Forças de Direita (8,7 por cento, que tal
como Unidade também fez campanha por Putin), o Bloco Jirinovski
e o Iabloko, ambos com pouco mais de seis por cento.
Estes resultados, tendo em conta as previsíveis alianças que se
vão estabelecer, fazem prever que a próxima Duma estará mais
em consonância com o Kremlin, o que abre a porta a toda uma
série de reformas que os comunistas e os seus aliados lograram
impedir na anterior legislatura, como a da reforma fiscal e a
propriedade privada da terra, ou ainda a ratificação do tratado
START II.
A administração norte-americana não escondeu a sua
satisfação pela «vitória do Kremlin», como desde logo foram
rotulados os resultados. O conselheiro do presidente Clinton para
a Segurança Nacional, Sandy Berger, disse que se tratava de «um
passo em frente», registando o facto de «as forças moderadas»
terem «conquistado cerca de metade dos votos». «Esperamos
(ver) uma Duma pragmática, menos ideológica», acrescentou.
O apoio de Washington às forças reunidas em torno da
candidatura de Putin à presidência russa tinha ficado já claro
na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G-8
realizada a semana passada em Berlim. Na ocasião, enquanto a
secretária de Estado Madeleine Albright sublinhava a necessidade
de manter uma «relação funcional» com a Rússia a longo
prazo, o subsecretário de Estado, Strobe Talbott, deixava claro
que Washington estava disposta a apoiar Putin e a não levantar
grandes questões em relação à Tchetchénia, esperando em
troca que Moscovo reveja a sua posição contra a revisão do
tratado ABM (mísseis balísticos), com que os EUA pretendem
regressar aos planos da chamada «guerra das estrelas»
(criação de um «guarda-chuva» nuclear sobre o seu
território). A Rússia tem rejeitado rever o tratado de
desarmamento e já ameaçou os EUA de se lançar numa nova
corrida armamentista caso Washington prossiga os seus planos.
Seja qual for a política que venha a ser seguida pelo Kremlin
nas suas relações com a Duma, parece claro que os próximos
seis meses vão estar centrados nas presidenciais de Junho. Se
até lá não cair em desgraçada, como sucedeu a tantos dos
«protegidos» de Ieltsin, e se a guerra na Tchetchénia for
resolvida a contento, Putin será um candidato de peso.
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Principais
partidos
Às eleições legislativas da Rússia concorreram 26 formações políticas, mas apenas seis conseguiram ultrapassar a barreira dos cinco por cento, mínimo exigido para conseguir representação parlamentar. De acordo com a lei eleitoral russa, apenas 225 dos deputados (metade da Duma) são eleitos pelo sistema proporcional; os restantes 225 são eleitos por maioria nos círculos uninominais (um por cada círculo).
São as seguintes as principais forças políticas:
Partido Comunista da Federação da Rússia - Dirigido por Guennadi Ziuganov, é a principal organização política do país e a única com implantação a nível nacional.
Bloco Unidade - Liderada pelo ministro para as Situações de Emergência, Serguei Choigu, é uma formação criada há dois meses pela «família Ieltsin».
União de Forças de Direita - Coligação encabeçada pelo ex-primeiro-ministro Serguei Kirienko e o ex-vice-chefe de governo Borís Nemtsov, declaradamente direitista, pró ocidental e pró governamental.
A Pátria é Toda a Rússia - Organização de apoio ao presidente da Câmara de Moscovo, Iuri Lujkov, que apresentou como cabeça de lista o ex-primeiro-ministro Yevgueni Primakov.
Iabloko - Formação que se afirma pró ocidental e reformista, dirigida por Gregori Iavlinski, o «pai» das reformas económicas.
Bloco Jirinovski - Novo nome dado ao Partido Liberal Democrático após a sua exclusão pela Comissão Eleitoral Central. Trata-se de uma formação ultranacionalista bem à imagem do seu peculiar dirigente.