Itália
D'Alema sucede a d’Alema



O primeiro-ministro italiano Massimo d’Alema apresentou sábado a sua demissão ao Presidente da República, Carlo Azeglio Ciampi, que segunda-feira o convidou para formar novo governo. Após 432 dias de funções, o 56º. executivo italiano desde o final da Segunda Guerra Mundial saiu de cena para dar lugar ao que a imprensa italiana baptizou de «d’Alema bis».

A crise aberta por d’Alema no seu governo de centro-esquerda visa, segundo afirmou o primeiro-ministro numa intervenção perante a Câmara de Deputados e o Senado, recuperar o espírito que levou a coligação Oliveira à vitória nas eleições de 1996, através de um governo «forte e renovado». Considerando que não dispunha de apoio parlamentar para formar um tal governo, d’Alema jogou a cartada da demissão para forçar as forças políticas de centro-esquerda a conjugar esforços para a formação de uma nova coligação governamental. Segundo afirmou, a Itália deve ter «um governo com condições de poder realizar as reformas necessárias e possíveis e um parlamento que enfrente com coragem as reformas necessárias», que passam na sua opinião pela reforma geral do Estado e por uma nova lei eleitoral.
O facto de os sete principais partidos da coligação Oliveira (Democratas de Esquerda, Partido Popular Italiano, Democratas, Verdes, Renovação Italiana, ex-democratas cristãos e Partido dos Comunistas Italianos) terem manifestado de imediato o seu apoio à recondução de d'Alema - ao contrário do líder da oposição de direita, Sílvio Berlusconi, que reclamou a convocação de eleições gerais antecipadas - retirou qualquer expectativa à mini-crise governamental. Segundo escrevia a imprensa italiana no fim-de-semana, a última crise governamental do século em Itália «consuma-se na indiferença», nas palavras do diário económico «Sole-24 Ore». Em artigo de fundo, o jornal considera que «o mexer, do governo, nas areias movediças da sua maioria parece dificilmente compreensível, nem é aceitável por parte dos italianos. E também aos analistas políticos é difícil atribuir um significado aquela que tem todo o aspecto de uma operação arbitrária». Uma opinião não partilhada pelo «Il Messagero», onde o analista Paolo Pombeni escrevia que o projecto político de d’Alema foi e é o de reconstruir um governo de partidos, o que é «louvável, segundo muitos», mas «extremamente difícil de pôr em prática devido à própria natureza da maioria que o apoia». Segundo o mesmo jornal, d’Alema tem uma ideia fixa: continuar primeiro-ministro, contra a vontade dos socialistas.

Crise a pensar em 2001

Espoletada em plena época natalícia, esta estranha crise - inicialmente prevista para Janeiro, após a aprovação do Orçamento para 2000 - obrigou o Presidente Ciampi a uma verdadeira maratona. Logo no domingo foram recebidos os presidentes do Senado e da Câmara de Deputados, os dirigentes dos partidos mais pequenos e a federação separatista Liga Norte. Na segunda-feira foi a vez do grupo O Trevo (coligação dos pequenos partidos - os socialistas do SDI, herdeiros do velho PSI de Bettino Craxi, os republicanos do PRI de La Malfa e os seguidores do UPR do ex-presidente da República Francesco Cossiga - que integravam a maioria governamental, cuja política entretanto passaram a contestar), dos dirigentes da coligação Oliveira, da coligação da oposição Polo das Liberdades, para além dos três ex-chefes de Estado vivos, Oscar Scalfaro, Giovanni Leone e Francesco Cossiga.
Se ninguém parece ter dúvidas de que o 57º. governo italiano será um «d’Alema bis», o mesmo não se pode dizer quanto à maior coesão que d’Alema diz pretender alcançar. D'Alema terá de obter a confiança do Parlamento antes de nomear o seu novo gabinete, no qual se vai integrar o partido Os Democratas, fundado este mesmo ano pelo presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, que foi quem de facto abriu a crise para dar novo impulso à coligação Oliveira.
Para o Partido da Refundação Comunista (PRC), a Itália vive uma crise da coligação governamental, mais do que uma crise de governo. Fausto Bertinotti, dirigente do PRC, compara mesmo d’Alema a Giulio Andreotti, o democrata cristão que foi sete vezes primeiro-ministro da Itália: «A crise é completamente andreotiana», afirma, «porque só o que lhe importa [a d’Alema] é manter-se no poder».
Num aspecto todos estão de acordo: se a jogada de d’Alema for bem sucedida, está garantida a sua confirmação como candidato da Oliveira nas eleições gerais de 2001.

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Luzes no Coliseu

O Coliseu de Roma foi iluminado na sexta-feira, por dois dias, para assinalar a comutação de uma pena de morte nos EUA. Segundo a ministra dos Bens Culturais, Giovanna Melandri, a partir de agora sempre que uma pena de morte for suspensa ou comutada o Coliseu iluminar-se-á interiormente, com os projectores a enviarem para o céu uma luz dourada.
O Coliseu foi iluminado pela primeira vez quando Albânia aboliu, há cerca de uma semana, a
pena de morte, que estava suspensa no país desde 1995.


«Avante!» Nº 1360 - 23.Dezembro.1999