Morreu Fernanda Alves
Fernanda Alves, recitadora, encenadora e uma das
maiores actrizes do nosso tempo, morreu na quinta-feira, no
Porto, onde ensaiava o espectáculo vicentino «Barcas», a
estrear proximamente no Teatro se S. João.
No apelo à
participação de amigos e admiradores de Fernanda Alves na
homenagem que constituiu o seu funeral - saído da Basílica da
Estrela para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa -, a direcção
do CCT/TEP classificou-a como «grande actriz e mulher de
cultura, personalidade exemplar de cidadã» e uma das figuras
que «ao longo de quase cinco anos de carreira no TEP, nos anos
sessenta, mais dignificou a arte teatral e a companhia do Teatro
Experimental do Porto».
Membro do PCP desde 1967, a Direcção do Sector Intelectual de
Lisboa do PCP, onde se encontrava organizada, afirma, em nota de
pesar, que a morte de Fernanda Alves representa «uma perda
irremediável» para o teatro português, pois ela, como
ninguém, «era capaz de interpretar, respeitando as nuances
que as definiam, personagens dotadas de um perfil, ao mesmo tempo
rigoroso, subtil e comunicativo, trabalhado na sua
interioridade».
Assumindo cada personagem como um ser único, Fernanda Alves
«rejeitava o fácil, o secundário». Ao longo da sua carreira,
interpretou dezenas de personagens «sem que repetisse os sinais
que as definiam em termos sociais, políticos, culturais, em
termos teatrais».
Fernanda Alves foi uma figura destacada do teatro independente
(societária do Teatro Moderno de Lisboa, fundadora dos
Bonecreiros e da Barraca), passando por alguns dos seus
principais grupos, como actriz e encenadora; pertencia ao elenco
do Teatro Nacional D. Maria II; interpretou alguns dos maiores
autores do teatro do nosso tempo; foi justamente homenageada no
âmbito do Festival Internacional de Almada, em 1997, e foi em
Almada que interpretou o seu último grande papel, na peça de
José Sanchis Sinisterra, «O Cerco de Leninegrado».
Em telegrama de condolências enviado ao marido e família de
Fernanda Alves, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas,
lamentou a perda desta grande figura do teatro e da cultura e,
ainda, da camarada «sempre dedicada aos ideias da justiça e do
progresso social».