Reforma fiscal
em projecto de lei do PCP
Por
maior equidade e justiça
O Grupo Parlamentar do PCP apresentou na Assembleia da República um projecto de lei de reforma dos impostos sobre o rendimento. Depois de sucessivos expedientes dilatórios do Governo, numa passividade só explicável pela inexistência de vontade política para concretizar a reforma fiscal, esta é a resposta da bancada comunista com vista a garantir não apenas eficiência e eficácia ao sistema tributário, como, fundamentalmente, a dotá-lo de maior equidade e justiça fiscal.
O «alargamento do
acesso das autoridades fiscais às informações protegidas pelo
sigilo bancário» e a «inversão do ónus da prova para as
empresas que, em três anos consecutivos, declarem prejuízos ou
resultados fiscais nulos» constituem duas das medidas
preconizadas no diploma, em matéria de luta contra a fraude e
a evasão fiscais.
Privilegiado no projecto de lei, noutro plano, é o alargamento
das bases de tributação, bem como a opção por uma política
de restrição dos benefícios fiscais, condição, na
perspectiva do PCP, para que seja possível «promover uma
moderação das taxas de impostos a curto prazo».
Neste capítulo, entre outras, destaque para a proposta que
prevê a «tributação efectiva dos resultados das
instituições bancárias e seguradoras», eliminando as benesses
actuais que os comunistas consideram «afrontosas» e
destituídas de «justificação económica».
Relevo, ainda neste domínio, merecem as propostas que apontam
para a «revogação do regime de excepção concedido às
mais-valias mobiliárias, decorrentes da alienação ou troca das
quotas ou acções de que são titulares as sociedades gestoras
de participações sociais» e, bem assim, para a proposta que
elimina os «múltiplos benefícios fiscais concedidos a
rendimentos e operações financeiras».
Sistema fiscal injusto
Na base desta
iniciativa legislativa, entregue no final da passada semana,
estão razões por demais conhecidas. Octávio Teixeira, líder
parlamentar da bancada comunista, que estava acompanhado pelos
deputados João Amaral e Lino de Carvalho, voltou a recordá-las
em conferência de imprensa: «a repartição da carga fiscal é
profundamente iníquia, penalizando os rendimentos do trabalho
dependente e privilegiando os rendimentos do capital. A carga
fiscal é excessiva e injusta para os contribuintes cumpridores,
os rendimentos do capital vivem num paraíso fiscal, a evasão e
os benefícios fiscais atingem proporções insustentáveis.»
Com a aplicação das propostas contidas neste projecto de lei,
baseado em muitos aspectos em dois relatórios encomendados pelo
Governo, Octávio Teixeira garante que serão geradas receitas
anuais superiores a 100 milhões de contos. Como explicou aos
jornalistas, o diploma «segue de perto» as propostas dos
relatórios elaborados por Silva Lopes e Rogério Ferreira, pelo
que, aceitando-se como boas as declarações do Ministro das
Finanças, concluiu, o Governo terá necessariamente de o apoiar.
Para o líder da bancada comunista, face à apresentação do
diploma, o que agora volta a ficar «clara e expressamente em
questão» é se «tem ou não o Governo efectiva vontade
política de concretizar a reforma fiscal».
Combate à fraude e à evasão
A «redução do
período para reporte de prejuízos e a exclusão da dedução
aos lucros da actividade normal da empresa das perdas de capital
imputadas a menos-valias mobiliárias» é outra das medidas
defendida pelos deputados comunistas. Ainda no plano do combate
à fraude e evasão fiscal, o diploma prevê a «revogação dos
benefícios fiscais concedidos às actividades financeiras nas
zonas francas», como é o caso do chamado off-shore da Madeira,
e a «aplicação de regimes indirectos, simplificados e
objectivos de determinação de rendimentos líquidos das
profissões liberais e dos comerciantes e industriais em nome
individual».
No caso dos profissionais liberais, segundo a solução defendida
pelo PCP, compete à Administração Fiscal encontrar um valor
médio de remuneração para cada uma das profissões - de acordo
com o tipo de serviço e de entidade a quem é prestado -, com
base no qual será feita a tributação.
Estabelecido no diploma é igualmente a «consagração do
princípio da presunção de rendimentos pelo exercício de
determinadas funções e nas operações entre uma sociedade e os
seus sócios, administradores ou gerentes». Trata-se de uma
medida de combate à fraude absolutamente necessária, porquanto,
como salientou o presidente da formação comunista, existem
administradores e gestores que dizem nada receber pelas suas
funções ou declaram o salário mínimo. «Ninguém acredita que
administradores que têm assento nos conselhos de administração
de dez ou quinze empresas nada recebam pelo seu desempenho»,
sublinhou.
Por uma mais justa repartição
No já referido
plano do alargamento da base tributária e de uma mais justa
repartição da carga fiscal importa ainda reter a proposta que
estabelece o princípio do «englobamento dos rendimentos para
efeitos fiscais, acabando com as taxas liberatórias que
beneficiam os mais elevados rendimentos».
Igualmente importante é a eliminação do que o Grupo comunista
classifica de «indecoroso privilégio fiscal concedido às
mais-valias geradas na transmissão onerosa de partes sociais e
outros valores mobiliários». Tais ganhos, na perspectiva do
PCP, devem passar a ser submetidos ao regime geral de
tributação.
Com vista a uma «mais justa repartição da carga fiscal»,
defendido pela bancada comunista é também a «alteração da
tabela de taxas do IRS», que passará a ter mais dois escalões.
O objectivo, segundo Octávio Teixeira, é «reduzir de forma
degressiva a carga fiscal sobre os contribuintes e introduzir-lhe
uma maior progressividade».
«A fixação da dedução específica pelos rendimentos do
trabalho em 80 por cento de 12 vezes o valor mensal do salário
mínimo nacional mais elevado» apresenta-se como outra das
medidas no sentido de uma maior equidade fiscal defendidas no
diploma do PCP, que estabelece, por outro lado, um «regime
optativo de tributação separada dos cônjuges casados e não
separados judicialmente de pessoas e bens".