Alemanha
Os milhões da democracia-cristã


Segundo o semanário Focus, o multimilionárío de Munique, Schörghuber, é um dos financiadores secretos do partido de Helmut Kohl cuja identidade o antigo chanceler da Alemanha se recusa a revelar. Para defender a «honra» e respeitar a vontade dos pobres multimilionários que enchem constantemente os cofres da democracia-cristã, Kohl recusa-se a cumprir a lei que obriga a publicar a proveniência dos apoios financeiros aos partidos superiores a vinte mil marcos.

Depois da mala com um milhão, entregue num parque subterrâneo em Zurique ao tesoureiro da democracia-cristã, apareceram agora mais um milhão e cem mil marcos em Bona. Por que razão em vez da transferência bancária, este dinheiro de proveniência igualmente desconhecida preferiu viajar do Bundestag para uma das contas secretas do partido, na mala preta do chefe de departamento da CDU, Hans Terlinden, constitui mais um enigma. 0 catolicismo político alemão nada em dinheiro mas ninguém é capaz de explicar a origem do milagre.

O magazine da ARD Monitor depois de constatar que «nas últimas semanas o principal tema da política interna tem sido os dinheiros da CDU e o papel do seu presidente honorário e ex-chanceler HeImut Kohl» salienta que «diariamente são conhecidos novos aspectos. Mas ao contrário do que fora prometido pela direcção da CDU não têm sido os dirigentes daquele partido, mas a investigação de corajosos membros do Ministério Público e dos jornalistas a fazerem tais revelações. Os políticos envolvidos neste caso refugiam-se no silêncio, levantam muros, fazem-se surdos, encobrem quanto podem e confirmam apenas o que já é do conhecimento público».
Para ajudar a superar a onda de amnésia que atinge os dirigentes democratas-cristãos, o Monitor iniciou mais uma série de revelações, a primeira das quais diz respeito à confidente de Kohl e ex-secretária de Estado para a Defesa, Agnes Hürland-Büning. Esta católica também conhecida por «a mãe da companhia» devido à sua retórica caritativa e socializante e que após terminar as suas funções governativas foi indemnizada pelo Estado com vinte e oito mil contos, recebendo actualmente uma reforma de mil e trezentos contos mensais - tem-se dedicado nos últimos anos ao aconselhamento secreto de grandes impérios capitalistas. Segundo documentos que se encontram na posse do Monitor, Hürland-Büning recebeu através do Credit Suisse em Genebra vários pagamentos no valor total de oito milhões e quinhentos mil marcos (oitocentos e cinquenta mil contos). Este dinheiro é proveniente de uma filial da Thyssen no campo das telecomunicações, a E-Plus, da EIfAquitaine que juntamente com a Thyssen assegurara a compra da refinaria Leuna da antiga RDA, e da cadeia de abastecimento de gasolina Minol. Na Thyssen ninguém consegue explicar qual foi o trabalho desenvolvido pela ilustre conselheira nem o porquê de tão elevado honorário. Segundo o Monitor, uma parte desses milhões desapareceram no Mónaco através da firma fictícia Delta. A Delta com sede em Vaduz, no Lichtenstein, pertence a Dieter Holzer, agente dos Serviços Secretos (BND) e amigo íntimo da família do ex-ministro presidente democrata-cristão da Baviera, Strauß, a qual juntamente com o negociante de armarnento Schreiber está ligada aos vinte e cinco milhões de comissão pela venda dos tanques à Arábia Saudita e ao suborno de mais de cem milhões de marcos da Elf-Aquitaine no projecto da refinaria Leuna.
Segundo o «Spiegel», já em1975 havia sido descoberto no Lichtenstein um centro de lavagem de dinheiros ilegais da democracia-cristã designada por Centro Europeu de Aconselhamento Empresarial (EU). Da lista dos esponsores da EU constavam entre muitos outros conhecidos gigantes do capitalismo alemão a Siemens, Mannesmann, Volkswagen, Karstadt, Barmenia de Seguros, etc.
Também em 1980 o caso Flick revelara uma das formas mais perversas de roubo colectivo ao Estado alemão por parte do homem mais rico da república, a democracia-cristã e a igreja católica. Quando inesperadamente os controladores de impostos entraram em 1980 no escritório de um dos guarda-livros do grupo Flick, Rudolf Diehl, descobriram documentos comprovativos de que por cada milhão de marcos oficialmente oferecido pelo império Flick ao padre Josef Schröder da missão católica de Steyler em S. Augustin, perto de Bona, os missionários e o partido de Kohl ficavam cada um com cem mil marcos devolvendo secretamente os restantes oitocentos mil ao multimilionário de Düsseldorf. Com este estratagema conseguiu Flick que vários milhões da sua fortuna pessoal fugissem ao pagamento de impostos.


Proibida manifestação dos cravos vermelhos

A manifestação dos cravos vermelhos que anualmente se realiza em Berlim em honra de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo e que relembra o assassínio em 1919 daqueles dois fundadores do partido comunista alemão, KPD, pela soldadesca do ministro social-democrata Nosca, foi proibida pelo Senado da cidade. Invocando uma alegada ameaça de atentado à bomba contra os manifestantes, o Senado da capital alemã decidiu suprimir a maior manifestação da esquerda na Alemanha que reúne todos os anos cerca de cem mil pessoas junto ao cemitério socialista de Berlim
.Apesar da proibição reuniram-se em Berlim milhares de pessoas que foram recebidas por um forte aparelho repressivo, tendo muitas delas sido atacadas pelas forças policiais que espantosamente não estavam munidas de qualquer equipamento para a detecção de explosivos e protecção dos manifestantes. Os polícias não possuem qualquer fotografia ou descrição do autor da ameaça que os serviços de segurança do senado afirmam conhecer. No momento em que os partidos do regime SPD e democracia-cristã se encontram numa fase de absoluto descrédito, o aparelho repressivo do Estado procura intimidar as forças democráticas e de esquerda. Nos últimos anos intensificou-se na Alemanha a colaboração entre os autores de atentados e o aparelho policial. Já em 1993 tinha sido queimada viva em Solingen por neonazis treinados numa escola de luta dirigida por um membro da polícia política, Verfassungschutz, uma família turca constituída por cinco mulheres e crianças. Pouco tempo antes, o angolano Jorge Amadeu fora igualmente morto a pontapés por neonazis perante a presença passiva da polícia. Também desde 1993 o governo de KohI proibiu as manifestações do partido curdo do trabalho, PKK, seguindo a doutrina do regime militar turco. Ainda há poucas semanas a responsável pelo movimento de mulheres do PKK foi presa pela polícia alemã do governo social-democrata de Schröder. É no entanto a primeira vez que direitos fundamentais de organizações da esquerda alemã são suspensos de uma forma tão escandalosa.0 PDS apelou à realização da manifestação dos cravos vermelhos no próximo fim-de-semana.


«Avante!» Nº 1363 - 13.Janeiro.2000