Nordeste
E
agora, senhor ministro?
Por José Brinquete
Refiro-me ao
dr. Guilherme de Oliveira Martins, actual ministro da Educação.
E passo a explicar para que os leitores possam com toda a
objectividade tirar as devidas conclusões.
Decorria o ano de
1993, o Partido Socialista encontrava-se na oposição e, como é
sabido, ambicionava voltar ao poder o mais rápido possível. As
clientelas políticas dos partidos social-democratas a isso
obrigam.
Ah! É preciso dizer que meses antes, ainda, no ano de 1992,
Armando Vara tinha apresentado no parlamento, em nome do PS, o
projecto de lei (n.º 239/VII) de criação da Universidade de
Bragança.
Bem, agora, já podemos voltar ao dr. Guilherme de Oliveira
Martins.
Então, é assim: em 13 de Março de 1993 a Federação Distrital
de Bragança do PS toma a iniciativa de promover um colóquio
subordinado ao tema «Univerdade de Bragança», para dar
suporte, no plano político, à iniciativa parlamentar de Armando
Vara/PS.
Participaram nesse colóquio, para além da «fina flor» do
partido que o promoveu, entre outros, o reitor da Universidade de
Aveiro e o deputado Guilherme de Oliveira Martins, este na
qualidade de porta-voz do PS para a Educação.
As conclusões aprovadas nesse colóquio e subscritas por todos
os oradores são, em síntese, as seguintes: «A necessidade de
criar a Universidade de Bragança, atendendo ao aspecto de que
Bragança é hoje a capital de distrito mais distante de qualquer
universidade do País», alegando que «o actual Instituto
Politécnico dispõe de recursos humanos com formação
consentânea com as exigências do ensino universitário, para
além das instalações, estruturas sociais e infra-estruturas
técnicas e científicas adequadas (veja-se os inúmeros
projectos de investigação existentes, bem como todas as
situações de apoio à comunidade)».
Penso que agora já todos percebemos do que se trata. Pois é,
este «ilustre» senhor foi, nos últimos quatro anos,
secretário de Estado da Educação e é, desde Novembro,
ministro da Educação de Portugal para os próximos 4 anos.
Portanto, é legítimo perguntar ao senhor ministro da
Educação, dr. Guilherme de Oliveira Martins, se mantém a mesma
opinião de 1993, acerca da criação da Universidade de
Bragança. Porque, em política é mesmo assim: ou as pessoas
são coerentes com as suas atitudes ou, sendo incoerentes,
cairão em descrédito, como é natural.
Senhor ministro da Educação, certamente que os seus
«camaradas», responsáveis regionais, não deixarão de lhe
lembrar o compromisso que assumiu em Março de 1993! Entretanto,
se me permite, gostaria de lhe fazer um desafio: tenha a
iniciativa e a coragem política, de se antecipar, visite
Bragança, o mais urgente possível, a transmitir-nos os seus
propósitos.
Também não deixam de ser, no mínimo, interessantes o
comportamento e a coerência de Armando Vara. Durante anos
defendeu e até propôs, como constatámos atrás, a criação da
Universidade de Bragança para, muito recentemente, de uma forma
grotesca e patética (em plena campanha eleitoral), vir defender
a criação de uma Faculdade de Economia «pendurada» de uma
outra Universidade.
Sei que muitos socialistas não gostarão do uso de adjectivos
como grotesco e patético, mas que outro epíteto poderá ser
usado nestas circunstâncias?
Se tivermos em devida conta as responsabilidades políticas de
Armando Vara, o mínimo que dele se esperava seria que tivesse
apresentado essa proposta por escrito, indicando com clareza o
que pretendia dizer com «uma Faculdade pendurada». Nada disso
aconteceu. Limitou-se a mandar «areia para os olhos» de quem o
ouvia.
Mas mais lastimável é o facto de, logo a seguir às eleições,
numa entrevista dada a um jornal regional, Armando Vara ter
afirmado que «a transformação do IPB em Universidade põe em
risco todo o ensino politécnico do País», e ter acrescentado
que «se as pessoas não querem compreender isso, estão a
trabalhar para que Bragança não tenha nada». Senhor ministro
adjunto, sabe uma coisa? Estamos fartos de ameaças. E de tanto
estarmos fartos já nem receamos as suas
Bem andaria Bragança cidade, concelho e região se
um dia empunhasse uma bandeira que incomodasse os poderes
instalados na capital, incluindo os ministros adjuntos. Talvez o
mal desta terra seja, precisamente, não ter nos últimos anos
qualquer objectivo ou reivindicação mobilizadoras que
catapultasse para primeiro plano os verbos lutar e reivindicar.
Aprendemos com as palavras avisadas do Presidente da República
quando, no mês passado, ao visitar o distrito, dizia: «lutem
pelos vossos direitos».
AAssembleia Municipal de Bragança aprovou, em 26 de Fevereiro de
1999, a criação de uma Comissão Pró-Universidade, amplamente
abrangente e representativa das forças vivas, partidos e
instituições locais e regionais. Essa Comissão tomou posse no
dia 6 deste mês. É liderada pelo presidente da Câmara
Municipal de Bragança.
A criação desta Comissão é uma boa medida para que a
problemática da criação ou não da Universidade de Bragança
possa ser analisada com serenidade, seriedade e responsabilidade.
Aguardam-se resultados do trabalho que irá desenvolver. O ensino
superior é, do ponto de vista nacional, uma questão
estratégica, não se compadece com atitudes oportunistas e
eleitoralistas.
Todos esperamos que a Comissão agora constituída saiba definir
objectivos estratégicos que respondam às necessidades da
região. Sendo certo que, do ponto de vista da decisão do
Governo, o mesmo se rege por critérios de natureza política.
Todos sabemos que o ensino superior, com a criação de inúmeros
estabelecimentos privados, apadrinhados por PS e PSD, vive no
reino da confusão e em alguns casos sob suspeita de manobras e
actividades pouco claras. É a lei do vale tudo, a lei da selva.
Hoje há universidades privadas que vendem cursos como quem vende
detergentes ou coca-cola.
Recusamo-nos a participar nessa irresponsabilidade. Queremos e
defendemos um ensino superior público de qualidade.
A Comissão Pró-Universidade, depois de definir o que quer, tem
muitos caminhos a seguir. De forma pacífica mas determinada,
dentro das normas constitucionais estabelecidas, tanto pode pedir
audiências ao Governo como apresentar petições à Assembleia
da República e, se necessário, promover uma megamanifestação,
em pleno centro da cidade, para fazer ouvir a voz deste povo, que
tanto tem sido esquecido e abandonado pelo poder central.
O desenvolvimento exige-o e Bragança merece.