«Avante!»


Sem vaidade mas também sem falsa modéstia, comemoramos o 69º aniversário do «Avante!» com a enorme satisfação de o podermos fazer de cabeça levantada. Comemorando assim, não podemos deixar de ir buscar à memória fragmentos do passado. Não por efeito de qualquer saudosismo passadista – que, aliás, seria descabido em gente que, como nós, tem como meta o futuro – mas porque entendemos que esses fragmentos do passado, que foram sementes do nosso presente, marcam impressivamente a história do nosso jornal.

Desde o longínquo 15 de Fevereiro de 1931 até hoje – dia em que comemoramos esse dia e todos os que, durante quase sete décadas se lhe seguiram – milhares de homens e de mulheres, semana a semana, escreveram, paginaram, imprimiram, distribuíram – ou seja, construíram – este jornal que é órgão central do PCP. Por isso este tempo de aniversário é tempo de lembrarmos com camaradagem todos os nomes de todos os construtores do «Avante!». E também de, desses nomes, destacarmos – por razões que a razão e o coração entendem – os que asseguraram os 43 anos de vida clandestina do nosso jornal e que, para isso e por isso, sofreram na pele as consequências da repressão fascista, perderam vidas, sempre numa postura de serena e discreta heroicidade.

Nascido da reorganização do Partido levada a cabo, em 1929, com a participação decisiva de Bento Gonçalves, o «Avante!» atravessou dificuldades enormes, muitas vezes insuperáveis, nos seus primeiros dez anos de existência. A repressão fascista, por um lado, e as debilidades da organização partidária, por outro, fizeram com que o jornal fosse obrigado por várias vezes a suspender a sua publicação durante esse período. Sublinhe-se, no entanto, o facto notável de, nos anos de 1937 e 1938, altura em que o jornal chegou a ser publicado semanalmente, ter atingido tiragens de 10.000 exemplares.

Com a reorganização de 1940/1941 – determinante para o futuro do Partido e empreendida por um núcleo de dirigentes que integrava, entre outros já desaparecidos, os camaradas Álvaro Cunhal, Sérgio Vilarigues e Dias Lourenço – a estabilidade da publicação do «Avante!» passou a ser uma realidade. Uma realidade extraordinariamente duradoura, sublinhe-se: de Agosto de 1941 até ao 25 de Abril de 1974, o «Avante!» - sempre composto e impresso no interior do País – foi sempre publicado regularmente. É tudo isso que faz dele o jornal que em todo o Mundo mais tempo resistiu à clandestinidade. E é tudo isso, juntamente com a forma como cumpriu o seu papel de órgão central do partido da classe operária e de todos os trabalhadores, que faz do «Avante!» uma referência singular no conjunto da imprensa escrita portuguesa.

Sobre o «Avante!» no período posterior ao 25 de Abril, dir-se-á o essencial dizendo que, do mesmo modo que não é possível, com seriedade, escrever a história do nosso povo durante o regime fascista sem consultar o «velho» «Avante!», também o conhecimento rigoroso desse período impõe a leitura e a consulta do órgão central do PCP.

Sendo o jornal de um partido que é diferente de todos os outros partidos, o «Avante!» é, também, um jornal diferente de todos os outros jornais. Com isto não pretendemos colocar-nos num pedestal de pureza, de saber e de verdade absolutas mas apenas afirmar e assumir a diferença que somos e queremos ser, com a consciência de que essa diferença radica numa clara opção de classe, visível desde logo no facto de, no nosso jornal, a prioridade ser dada aos problemas, anseios, aspirações e lutas dos trabalhadores. Vale a pena repetir que o «Avante!» não se esconde por detrás de falsas independências e enganosas imparcialidades: está com quem decidiu estar e combate quem decidiu combater; está com os explorados e contra os exploradores, com os oprimidos e contra os opressores, com o socialismo e o comunismo e contra o capitalismo e o imperialismo. Sempre assim foi, é e será.

Por isso, a remodelação iniciada nesta edição visa enriquecer as características essenciais do «Avante!» enquanto órgão central do PCP, enquanto difusor da opinião do Partido, enquanto elo de ligação às massas.

Nesse sentido, e para além da remodelação gráfica, pretendemos: informar mais e melhor sobre a actividade e os objectivos do Partido e das suas organizações; proceder a uma abordagem mais ampla e aprofundada do que se passa no País e no Mundo; dar mais espaço e desenvolvimento a áreas e temáticas que até agora não têm tido o destaque devido; abrir o jornal à análise de novos temas; inovar as formas de abordagem e proceder a uma melhor arrumação dos temas – tudo isto procurando tornar a leitura do jornal mais atractiva, enriquecer o seu conteúdo e procurando que ele chegue mais longe e seja lido por um número crescente de pessoas, militantes e não militantes do Partido. E contando para isto com um conjunto de novos colaboradores que constitui um dos dados mais relevantes deste processo de remodelação.

A campanha de promoção agora lançada assume, naturalmente, enorme importância e o seu êxito depende, como não podia deixar de ser, do empenhamento das organizações e dos militantes do Partido. Aqui deixemos um apelo nesse sentido: que cada leitor do «Avante!» seja um divulgador do «Avante!» e seja, também, um crítico atento e activo de cada número do jornal.


«Avante!» Nº 1368 - 17.Fevereiro.2000