JUVENTUDE
JCP lança
campanha
Um
novo milénio sem pena de morte
A abolição da pena de morte no mundo foi o tema de um animado debate promovido no sábado pela JCP, em Lisboa. Da discussão, ressalta uma conclusão: a necessidade de a justiça resocializar os criminosos.
O Museu do Fado foi
o palco do lançamento de uma campanha promovida pela JCP sob o
lema «Um novo milénio sem pena de morte», cuja primeira
iniciativa foi um debate que juntou os deputados comunistas
António Filipe e Margarida Botelho, o representante da Amnistia
Internacional Pedro Santos e dezenas de jovens.
Uma semana depois do grupo parlamentar do PCP apresentar um
projecto de resolução que afirma o empenhamento do Estado
português na luta pela abolição universal da pena capital, o
debate mostrou que esta é uma questão ainda polémica e que é
urgente esclarecer todos aqueles que são manipulados por
argumentos populistas.
António Filipe defendeu que a popularidade da pena de morte
resulta da tendência das pessoas se colocarem no lugar da
vítima. É humano os familiares ficarem insatisfeitos com as
penas, reconheceu o deputado, mas o Estado não pode prever
apenas a punição mas também a resocialização do criminoso.
«O que é melhor para a sociedade? Entrar na espiral de
violência ou diminuir os crimes?», questionou.
Margarida Botelho sublinhou que a lei não pode tomar o partido
da vítima nem do criminoso. «Não se está a defender a
criminalidade ou os criminosos, mas a justiça e o sistema
penal», referiu.
Foram muitos os argumentos apresentados contra a pena capital.
Afirmando que o próprio Estado mata para dizer que é errado
matar, Pedro Santos lembrou que «se é unânime o combate à
tortura não se pode legalizar uma forma de tortura como a pena
de morte».
Os EUA foram naturalmente o país mais citado, devido à
reintrodução desta pena em 1976 e ao elevado número de
execuções praticadas. Só no mês passado foram executados
três menores de idade à data do crime e um doente mental.
Pedro Santos, da Amnistia Internacional:
«Execuções
alimentam violência»
Em entrevista ao Avante!,
Pedro Santos, especialista da Amnistia Internacional sobre pena
de morte, defendeu que se verifica uma tendência no mundo para a
abolição. Essa realidade é patente nos dados: de 1974 a 1999,
o número de países abolicionistas passou de 10 para 105.
«As pessoas estão a tomar consciência que a pena de morte não
resolve nada - antes
alimenta uma espiral de violência - e que constitui a mais grave
violação dos direitos humanos, ainda por cima perpetrada pelo
Estado», afirmou.
Pedro Santos prevê que nos próximos 25 anos os restantes
países sigam o exemplo: «Provavelmente, vamos ficar cingidos a
meia dúzia de países a manter a pena de morte, sempre com os
EUA no meio.»
A possível entrada na Turquia na União Europeia sem a
abolição da pena de morte é uma das grandes preocupações da
AI, que sublinha que a violação dos direitos humanos faz parte
do presente deste país.
O esclarecimento da opinião pública é um meio fundamental,
daí a importância de campanhas como a da JCP. «É uma questão
de informação.» Pedro Santos dá o exemplo de debates em
escolas secundárias, em que no início é evidente que quase
todos os alunos são favoráveis à pena capital, mas que no fim
apenas um número muito pequeno mantém essa opinião.
A desinformação desempenha também um papel importante.
«Veja-se a diferença do impacto que tem nos media americanos um
crime que é cometido por um negro sobre um branco e um crime
cometido por um branco sobre um negro. Se calhar é preciso
esclarecer primeiro a opinião pública para depois levar os
estadistas a mudar», explica.
«Há muita desinformação e vai-se pelo caminho mais fácil. Em
vez de informar, muitos dos governadores norte-americanos decidem
fazer o que é mais popular para terem mais votos. E ainda por
cima, num sistema em que os juizes e os procuradores públicos
são eleitos», diz o activista da AI.