Água no bico
Dão motivo para pensar as recentes
declarações de Fernando Rosas de que «o PCP está perante um
dilema semelhante ao de outros partidos comunistas na Europa
(pois) ou se alia ao centro, como uma espécie de flor na lapela
do "centrão" que governa o sistema, ou se alia à
esquerda», e de que «muito provavelmente haverá partidos
comunistas que se partirão em dois (e que) os militantes do PCP
serão também confrontados com essa grande escolha».
Ora os responsáveis do Bloco de Esquerda sabem perfeitamente
e quantos lhes dão crédito deveriam também sabê-lo
que a concretização de uma aliança entre o PS e o PCP
é uma hipótese destituída de sentido real, por falta de base
política.
Sabem também perfeitamente que o PCP se assumiu na anterior
legislatura e se assume novamente na presente legislatura como oposição
de esquerda ao governo do PS, e que tem sido o mais
consequente lutador contra as medidas e políticas que ferem os
interesses dos trabalhadores e da grande maioria do povo
português.
Assim como também não ignoram que nenhum dirigente do PCP
defendeu no passado, ou defende no presente, a concretização de
uma aliança política desse tipo.
Restam, por isso, duas perguntas à procura de resposta: por que
continuam os responsáveis do Bloco de Esquerda a insistirem com
essa mistificação, para mais quando o governo do PS se formou
há poucos meses, dispõe do apoio parlamentar de metade dos
deputados e tem pela frente um período de legislatura? e que os
move ao admitirem a divisão do PCP em torno desse problema?
É conhecido como ao nível da baixa política temas recorrentes
como o do «prato de lentilhas» ou das «ambições pessoais»
animam os pântanos da intriga e os mais estranhos jogos de
poder.
Mas conhece mal o PCP e os seus dirigentes quem imaginar que os
comunistas se poderão determinar por razões diversas do sucesso
dos objectivos políticos que proclamam e por que lutam. Edgar
Correia