Situação
agrava-se: propinas são usadas
no pagamento dos salários dos funcionários
JCP
quer mais qualidade no Ensino Superior
A JCP lançou, na semana passada, uma campanha
nacional contra a política educativa do Governo. Objectivo:
reivindicar um ensino público gratuito e de qualidade. E fazem
duras críticas ao ministério de Oliveira Martins.
A Direcção Central do Ensino Superior da JCP acusa o Governo de
dar mais um passo no caminho do subfinanciamento do Ensino
Superior com a proposta de orçamento para a área de educação.
Numa conferência de imprensa dada na semana passada, os jovens
comunistas consideram que a situação se agrava de ano para ano,
sem se vislumbrar uma solução. Para a JCP, a melhoria da
qualidade do ensino e o sucesso escolar são temas desprezados
pelo Ministério da Educação.
«O Governo continua a usar e abusar da demagogia dos números,
apoiando-se no aumento nominal do orçamento para a Educação,
sendo certo e sabido que este orçamento não cumpre sequer a
fórmula de financiamento legalmente consagrada na Lei de
Financiamento (uma lei do PS!) e representa na realidade mais um
corte de 22 milhões de contos para as instituições», afirma.
A JCP lembra que, para além do aumento do número de alunos, o
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io dos docentes
também cresceu. «O resultado é que nunca as escolas de ensino
superior ficaram tão longe de receberem o financiamento
suficiente para poderem funcionar com o mínimo de condições»,
afirma.
Não são apenas os estudantes a reclamar a revogação da lei de
financiamento. Pela primeira vez, os reitores juntam-se aos
protestos denunciando «a erosão insustentável do orçamento»
e chamando a atenção para o facto de já estar em causa o
próprio funcionamento normal das escolas.
Desresponsabilização do Estado
Os jovens comunistas
sublinham que o Governo está a fazer «tábua rasa» da letra da
lei de financiamento, que obriga que as propinas dos alunos sejam
apenas um complemento para o aumento da qualidade do sistema
público. Isto porque estas receitas são utilizadas nas despesas
correntes do funcionamento das instituições, como o pagamento
dos ordenados dos funcionários.
Este facto fica claro quando se assiste à subtracção do valor
das propinas (9,5 milhões de contos) na transferência que o
Estado deveria fazer para as universidades e politécnicos.
«Confirma-se que o aumento da comparticipação dos estudantes
(através do pagamento de propinas) só serve para substituir o
financiamento público do ensino superior e aumentar o crescendo
de desresponsabilização do Estado nesta área», salientam.
Quanto ao conceito de estudante elegível, a JCP considera que se
trata de um instrumento que «comprometerá ainda mais o
financiamento das escolas e será uma forma de exclusão de
milhares de jovens do sistema, sem que sequer se toque nas
verdadeiras causas de insucesso com vista à sua resolução».
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«Lei-quadro
é um bluff»
A JCP qualifica a proposta da lei-quadro do ensino superior como
um «bluff legislativo», «uma lei inócua, que não traz
nada de novo e que deixa para regulamentações futuras uma
quantidade esmagadora de aspectos».
Um mês depois da primeira reunião com o ministro da Educação
e as associações estudantis, os estudantes continuam sem uma
resposta clara a uma série de questões que há muito vêm a ser
colocadas sobre a lei-quadro.
Nunca tendo sido consultados pelo Governo, os estudantes foram
recentemente informados que o prazo para sugerirem alterações
ao projecto é de apenas 10 dias úteis. E isto durante a época
de exames. Como comenta a JCP, é «a demagogia do diálogo» ao
estilo do PS.
A organização do ensino superior apresenta de imediato várias
reservas. Em primeiro lugar, considera que a distinção entre
ensino universitário e ensino politécnico é feita de uma forma
«ambígua, redutora e claramente insatisfatória».
Por outro lado, o conceito de rede pública não é claro e
preciso, o que pode abrir caminho para uma ilegítima
interferência governamental na esfera de autonomia das
instituições.
Os jovens comunistas chamam ainda a atenção para o facto de, no
essencial, o anteprojecto ser um conjunto de remissões para
legislação posterior, «que serve para ofuscar as verdadeiras
intenções políticas do Governo e para inviabilizar a
participação dos diversos agentes educativos, nomeadamente dos
estudantes, na discussão da lei».