Com nova arrumação e fisionomia,
o «Avante» mantém as suas características mas pretende ser mais lido
Um jornal ligado à vida



Dois dias depois de ter completado 69 anos, o «Avante!» surge diferente no aspecto mas igual a si mesmo nos objectivos: dar «voz aos que não têm voz», informar o que outros calam.

A apresentação do primeiro número remodelado foi feita na quarta-feira da semana passada, no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, ainda as suas páginas estavam a ser dadas à estampa nas máquinas da tipografia onde é reproduzido. A exposição de fotocópias de algumas delas em placards colocados ao redor da sala onde a sessão se realizou davam, porém, aos participantes uma ideia da sua nova fisionomia.
Entre as pessoas que enchiam completamente o rés-do-chão do Vitória, destacavam-se muitos dirigentes históricos do PCP – alguns dos quais foram, eles próprios, directores, redactores e distribuidores do «Avante!» na clandestinidade -, dirigentes actuais do Partido, a equipa que assegura hoje a feitura do nosso jornal e numerosas personalidades ligadas à vida política, social e cultural do país. Dentre estas, podiam ver-se José Saramago, Pilar del Rio, Manuel Freire, Vasco Gonçalves, Morais e Castro, Luís Filipe Costa, Mário de Carvalho, Orlando da Costa, Mário Alberto, José Quitério.
A maioria dos presentes comentava positivamente a nova arrumação das páginas, a facilidade de leitura que o actual grafismo permite e, principalmente, o facto de o «Avante!» se manter um jornal onde a prioridade é dada «aos problemas, anseios, aspirações e lutas dos trabalhadores», como o director do «Avante!», José Casanova, teve oportunidade de sublinhar. Um jornal que está «com os explorados e contra os exploradores, com os oprimidos e contra os opressores, com o socialismo e o comunismo e contra o capitalismo e o imperialismo».


Melhor
Avante!

O secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, por sua vez, apresentou como factor determinante da nova remodelação o facto de os comunistas pretenderem um melhor «Avante!», um «Avante!» mais lido já que se conhece bem «a contradição entre a realidade do País, as aspirações e os problemas dos trabalhadores, da juventude, das populações e o modo como essa realidade é apresentada, seleccionada e fragmentada nos media».
Assim, apesar «das dificuldades e da escassez de recursos financeiros», o PCP vai trabalhar para que o seu órgão central esteja «cada vez mais ligado à vida e aos problemas dos trabalhadores» e a sua divulgação e leitura seja uma tarefa assumida por todo o «colectivo partidário».
Antes de terminar, Carlos Carvalhas fez uma saudação especial, muito ovacionada, ao grande artista e militante comunista Carlos Paredes que nesse dia completou 75 anos. Considerando Carlos Paredes como uma «referência incontornável da cultura e da música portuguesa contemporâneas», Carlos Carvalhas dirigiu-lhe uma palavra de agradecimento dos comunistas «pelo seu contributo para uma democracia enriquecida pela beleza da arte e para uma arte identificada com a democracia e o povo».

_____


Carlos Carvalhas na remodelação do «Avante!»
Combater o culto da superficialidade

Carlos Carvalhas começou por se referir ao aniversário do «Avante», afirmado-o como um jornal «estreitamente ligado à corajosa, determinada e abnegada luta do PCP, às lutas dos trabalhadores e do povo, à luta pelo pão, pela liberdade, pela democracia e o socialismo. A voz que na ditadura fascista foi esperança, impulso e informação sobre a luta, a resistência, sobre a vida e a realidade que nos era ocultada.
A voz dos explorados, dos injustiçados, dos ofendidos, a voz dos que ontem como hoje lutam pela transformação social e por uma sociedade em que «o homem deixe de ser o lobo do próprio homem».
«Remodelação para quê?», perguntou o secretário-geral do PCP. «Para deixar de ser o órgão oficial do nosso Partido, para deixar de ser um jornal para o povo, para os trabalhadores, para os democratas, para deixar de ser um jornal de esquerda, um jornal comunista?»
«Evidentemente que não», disse imediatamente a seguir, prosseguindo: «Remodelação sim, porque o Avante! quer ser mais atraente, porque quer ser mais difundido, pois como já foi afirmado "um jornal só o é quando é lido – não quando é escrito".
Remodelação para estarmos mais presentes e com mais eficácia na batalha das ideias, para combater a expressão do chamado "pensamento único", para dar a conhecer a realidade do mundo do trabalho, para combater a pedagogia da renúncia e do compromisso e os que procuram sepultar o comunismo, ou erradicá-lo da consciência, das aspirações e do horizonte da acção dos homens.


Melhorar intervenção

Remodelação para que o Avante! seja um melhor veículo na intensa e imaginosa intervenção do Partido, para vencer as ideias feitas e bloqueamentos à compreensão da nossa mensagem.
Remodelação para elevar a consciência critica e política das massas, contra o culto da superficialidade, do efémero, da perda de memória e para desempenhar um mais intenso e reforçado papel na luta contra as políticas de direita e os mecanismos de exploração e dominação na luta pelo progresso e a justiça social.
Queremos um melhor Avante! e um Avante! mais lido, pois conhecemos bem «a contradição entre a realidade do País, as aspirações e os problemas dos trabalhadores, da juventude, das populações e o modo como essa realidade é representada, seleccionada e fragmentada nos media».
Queremos um melhor veículo para comunicar para que cada vez mais trabalhadoras e trabalhadores, mais portuguesas e portugueses conheçam com verdade, o que somos, o que defendemos, o que criticamos e combatemos, o que desejamos para o nosso povo e país. E isto porque, há infelizmente, quem se paute não por critérios de rigor, comprovados na fonte e considere como verdade o que lhe chega por qualquer informação não verificada ou o que simplesmente é repetido nos vários meios de comunicação social.»
Caracterizando, de seguida, a «chamada sociedade de informação global», Carlos Carvalhas lembrou: «Precisamos de vencer muitas dificuldades. Os nossos recursos financeiros são escassos. Mas trabalharemos, reafirmo, para que o Avante! esteja cada vez mais ligado à vida, aos problemas dos trabalhadores, à sociedade e para que a sua difusão, circulação, leitura, critica e debate seja tarefa assumida pelo colectivo partidário.»
Por fim o secretário-geral do PCP congratulou-se com a presença de José Saramago e dirigiu a Carlos Paredes uma saudação pela passagem do seu 75.º aniversário.

 


«Isto vai, meus amigos, isto vai!»


Para José Casanova, a iniciativa realizada no C.T. Vitória teve um triplo objectivo: «comemorar o aniversário do "Avante!", apresentar o primeiro número remodelado e lançar a campanha de promoção e difusão», estando-se, portanto, ali, por um jornal que «comemora o seu 69º aniversário e que, pela sua história, constitui uma referência singular no conjunto da imprensa escrita portuguesa.»
O dirigente comunista fez, em seguida um breve historial sobre o «Avante!» e valorizou o papel que nele desempenham os colaboradores.
Porém, em matéria de colaborações, fez uma menção especial à de José Saramago que «não podendo ter, infelizmente, continuidade regular» pode talvez, «felizmente, repetir-se de quando em quando», o que «nos dá imensa alegria e constitui para nós um estímulo».
Quanto à terceira razão do encontro - a campanha de promoção e difusão do «Avante!» - José Casanova considerou que «ela está lançada e o seu êxito depende, essencialmente, do empenhamento das organizações e dos militantes do Partido». Assim, como sublinhou, seria bom que «cada leitor do «Avante!» fosse um divulgador do jornal e também um crítico atento e activo da cada exemplar – tendo em conta que nenhuma edição do jornal é um ponto de chegada e todas são, sempre, pontos de partida» e «porque queremos sempre melhorar o jornal, queremos sempre que ele chegue mais longe, que atraia novos leitores, que cresça, que tenha maior expansão. E estamos convictos de que assim sucederá».


Uma gota que resiste

Depois, aludindo ao que alguns comentadores escrevem sobre o PCP e o seu órgão central, lembrou aquilo que, há tempos, um deles, «enfeitando», como outros, a imagem «pluralista» da comunicação social dominante, dizia, irritado: «que o "Avante!" não era nada, que já deveria ter deixado de existir e que não iria durar muito mais tempo.»
Enganou-se, afirmou Casanova, ainda que nunca o reconheça, pois, «poderá dizer-se que o «Avante!» é uma pequena gota de água face à vaga forte, poderosa da nova ordem comunicacional» mas «tem a particularidade de ser uma gota de água que resiste: que resiste à mentira contrapondo-lhe a verdade; que resiste à desinformação contrapondo-lhe a informação; que resiste à ausência de rigor contrapondo-lhe o rigor; que resiste ao vale tudo contrapondo-lhe a seriedade; que resiste à manipulação de consciências contrapondo-lhe o respeito pela inteligência e pela sensibilidade dos cidadãos – e que resiste fazendo futuro, fazendo dos caminhos da resistência por que optou e que assume, caminhos do futuro.»
Por fim, José Casanova terminou com uma palavra de confiança: «Com isto tudo, quero eu dizer que, em relação ao nosso Partido, em relação à nossa luta, em relação ao nosso "Avante!", "isto vai, meus amigos, isto vai"».



«Avante!» Nº 1369 - 24.Fevereiro.2000