Ferida de morte na baixa lisboeta
Patrões e Estado feriram de morte a Lanalgo, cujos 109 trabalhadores lutam pela manutenção do emprego e para que sobreviva o último dos grandes armazéns do comércio tradicional da baixa lisboeta. Na passada sexta-feira, trouxeram a indignação, as lágrimas e o protesto para a rua, junto ao edifício onde trabalham e que as Finanças decidiram vender «sem cuidar das consequências sociais decorrentes dos seus actos», como refere um comunicado do Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal.
Os trabalhadores e o
CESP recordam que a actual situação culmina «um processo que
teve início numa gestão ruinosa por parte da gerência, que nos
últimos anos acumulou dívidas superiores a dois milhões de
contos». Tiveram destacadas responsabilidades, na gerência, as
famílias de Manuel Martins Fernandes e Martins Pereira, pois
«privilegiaram o endividamento bancário como forma de
financiamento das actividades comerciais, levaram à penhora de
parte do edifício da sede da empresa e, de seguida, ao pedido de
falência apresentado pelo BNU».
Este pedido tem o processo a correr no tribunal, e os
trabalhadores esperam que seja aprovado um plano de
viabilização.
A venda do edifício, efectuada a 20 de Janeiro pela 3.ª
Repartição de Finanças, vem mostrar uma ânsia do Estado de
recuperar uma dívida de 277 mil contos, de tal forma que decide
alienar por 90 mil contos um prédio que antes avaliara em 800
mil.
Preocupação
A situação social no sector do comércio e serviços, no distrito de Lisboa, contém «fortes razões de preocupação quanto ao presente e futuro de milhares de postos de trabalho», afirma a direcção regional do CESP, que decidiu apresentar ontem, em conferência de imprensa, um levantamento que lhe permitiu detectar salários em atrasos, violações reiteradas dos direitos dos trabalhadores, processos de falência e encerramento. O estudo abrangeu mais de 50 empresas e os seus resultados vão ser levados ao Governo e às confederações patronais, exigindo soluções.