Recurso inédito
para despedir
O
notário da Roederstein
Para exigir que o Governo actue perante várias situações escandalosas em empresas do distrito, vêm amanhã a Lisboa dirigentes da União dos Sindicatos de Braga.
Na multinacional
Roederstein, em Famalicão, um notário foi chamado às
instalações da empresa, para reconhecer assinaturas de
trabalhadores em declarações de rescisão do contrato de
trabalho «por mútuo acordo». Isto custou à empresa dez contos
e quinhentos por cada assinatura, para além dos custos de
deslocação, o que deverá ter resultado num número próximo do
milhar de contos.
Com este procedimento inédito, a Roederstein conseguiu retirar,
aos trabalhadores que assinaram a rescisão, o período normal de
48 horas em que a decisão ainda pode ser revertida, explicou ao
«Avante!» o coordenador da USB/CGTP. Adão Mendes referiu que a
lei, tal como prevê aquele prazo para que o trabalhador possa
voltar atrás, diz também que a decisão é irrevogável logo
que a assinatura tenha o reconhecimento notarial.
Mas aquele não é o único caso insólito, no rol de violações
de direitos e atentados à legalidade que a União tem denunciado
em Braga (protestos que levaram o Grupo Parlamentar do PCP a
requer a ida do ministro do Trabalho à Assembleia da República,
como noticiamos na pág. 14).
Logo depois de concretizadas aquelas quase cem rescisões, no
final de 1999, a mesma Roederstein admitiu 95 trabalhadores, mas
em regime de aluguer de mão-de-obra. Vários, de entre
eles, já tinham trabalhado antes na empresa, com contratos a
prazo, durante 6 ou 7 anos.
Outra ajuda, desta vez para despedir uma telefonista, foi dada à
Roederstein pelo director do Instituto do Emprego e Formação
Profissional, que fez chegar à empresa um ofício onde dizia que
durante toda a tarde o telefone não tinha sido atendido.
O ofício chegou por estafeta, conta Adão Mendes, e passados
minutos a trabalhadora foi despedida, sem necessidade de outras
provas, para além do testemunho de Adolfo Sousa. Em tribunal
nada foi apresentado que confirmasse haver falta grave da
telefonista, nem o próprio IEFP provou a necessidade urgente de
contactar a empresa.
A União vai também questionar o secretário de Estado sobre o
modo como dos 107 trabalhadores da Grundig Indústria
Portugal, que há quase 3 anos aguardam uma resposta do
tribunal à sua contestação do despedimento colectivo
algumas mulheres viram o IEFP cortar-lhes o subsídio de
desemprego, depois de recusarem ser colocadas em empresas sem
nome e com comportamentos duvidosos. Antes, já o mesmo Instituto
as tinha obrigado a frequentar cursos de formação para
costureiras, que afinal eram «apenas trabalho, com ritmos e
produção exigentes, destinado a empresas».