Protestos contra Haider



Mais de 150 000 austríacos concentraram-se sábado em Viena numa impressionante manifestação de protesto contra o governo de coligação que integra o Partido da Liberdade, de extrema-direita, de Joerg Haider.
«Não ao racismo. Não à extrema-direita. Por uma Áustria aberta, pluralista e social.

Por uma Europa sem racismo», foi a palavra de ordem que se fez ouvir na capital austríaca, entoada pela maior coligação de sempre: representantes de todas as forças políticas e sociais, à excepção dos partidos que integram o poder.
O chanceler austríaco, Wolfgang Schüssel, que não hesitou em coligar o seu partido (ÖVP) com o de Haider, afirmou em declarações ao jornal suíço Neue Zürcher Zeitung esperar que a situação acalme no país após a «explosão emocional» que foi a manifestação de sábado. Haider, por seu turno, não escondeu o seu desagrado com os protestos populares, sublinhando que em 13 anos de oposição numa utilizou a rua para se fazer ouvir, e acusando os social-democratas de «pagarem» aos manifestantes. O porta-voz do grupo parlamentar do FPÖ, Peter Westenthaler, acusou por seu turno os social-democratas de se aliarem com os comunistas alemães, franceses e italianos, e de levar para a rua o debate que deveria travar no Parlamento.
Quem não parece ter problemas de levar as suas ideias para a imprensa é Joerg Haider, que num artigo publicado anteontem no Daily Telegraph afirma ter muitas semelhanças com o primeiro-ministro inglês Tony Blair, embora se considere mais moderado nalgumas matérias, como é o caso da sua política de emigração e de asilo, que classifica de «menos radical» do que a britânica.
«Porque é que Blair não aceita o acordo de Schengen (tratado europeu para fixa as regras de circulação de pessoas entre alguns países europeus) e defende estritas leis migratórias?», pergunta o ultra-nacionalista austríaco no seu artigo, para concluir que «se Blair não é radical, Haider também não é». O dirigente do FPÖ vai mesmo mais longe, dizendo que «os dois partidos» (o seu e o de Blair), embora situados em espectros políticos diferentes, «têm incríveis semelhanças», pelo que não entende por que razão «os trabalhistas são um partido de governo respeitado na União Europeia, enquanto o Partido da Liberdade é um movimento odiado em todo o continente». Perguntas incómodas.

 

Contra Haider

Muitos milhares de pessoas participaram na manifestação realizada no sábado passado em Paris contra a subida ao poder da extrema-direita em Áustria e alertando contra os perigos do renascimento do nazismo na Europa. Convocada por organizações de esquerda, nomeadamente pelo PCF, e por organizações da comunidade judaica em França, a manifestação partiu de Saint-Germain des Près e seguiu até aos Invalides, onde muitos participantes se concentraram junto da embaixada da Áustria, defendida por numerosas forças de choque da polícia, que chegou a disparar alguns petardos.


«Avante!» Nº 1369 - 24.Fevereiro.2000