Dois milhões de
presos nos EUA, dos quais 3700 condenados à morte
América
bate
recorde de prisões
Os Estados Unidos são o país do mundo com o maior
número de presos, tendo batido o seu próprio recorde a semana
passada ao atingirem o número de dois milhões de pessoas
encarceradas, revelou o Instituto de Política Judicial, um
organismo independente de Washington.
Os EUA ocupam
igualmente o primeiro lugar em número de execuções: 98 pessoas
foram executadas em 1999, enquanto outras 3700 aguardam a sua
hora nos corredores da morte.
«Os anos noventa foram a década mais dura em penas de toda a
história norte-americana», afirma Vicent Schiraldi, director do
Instituto de Polícia Judicial, e os dados confirmam. Em 1990 o
número total de presos nos EUA era de um milhão; uma década
depois, o número duplicou.
Incapaz de pôr cobro à crescente criminalidade, as
administrações republicanas de Ronald Reagan e de George Bush
apostaram no endurecimento das leis e no agravamento das penas,
em detrimento da prevenção. A mesma política foi seguida por
Bill Clinton, mais empenhado em combater as consequências do que
em atalhar as causas da criminalidade. Uma opção com custos
crescentes, já que se estima em cerca de 40 000 milhões de
dólares anuais as despesas com o sistema prisional.
A sociedade norte-americana, marcada por profundas desigualdades,
está a tornar-se cada vez mais repressiva. De acordo com a
legislação em vigor, quer a nível federal quer estadual, é
agora cada vez mais fácil encarcerar um delinquente por longo
tempo, mesmo por pequenos delitos. Também os menores são cada
vez mais frequentemente julgados como adultos, ao mesmo tempo que
a concessão da liberdade provisória está mais dificultada.
Racismo e xenofobia
As principais vítimas deste sistema são os negros e os
hispânicos, a comprovar que o racismo continua bem vivo na
sociedade americana. De acordo com as estatísticas, um negro tem
sete vezes mais possibilidade de ser preso do que um branco.
Apesar da comunidade negra representar apenas 13 por cento do
total da população dos EUA, constitui 50 por cento da
população prisional federal e estadual. Os dados revelam ainda
que um negro tem 33 por cento de possibilidades de passar parte
da sua vida encarcerado, contra os quatro por cento de idênticas
possibilidades para um branco. A discriminação é
particularmente visível na luta contra a droga. Segundo o
departamento de Justiça, embora os brancos representem 75 por
cento dos consumidores de estupefacientes, os negros representam
75 por centos dos consumidores presos.
Esta situação já entrou nos temas em debate na campanha para
as presidenciais norte-americanas. Bill Bradley, candidato
democrata à Casa Branca, não hesita mesmo em afirmar que o
governo de Bill Clinton e Al Gore, o seu mais directo
adversário, pouco ou nada fizeram para combater a xenofobia e o
racismo nos EUA.
De assinalar que Bill Clinton não só é um defensor da pena de
morte como se recusa a aplicar uma moratória às execuções por
delitos federais. Ainda na semana passada Clinton rejeitou uma
petição apresentada pelo senador democrata Russ Feingold,
propondo que se seguisse o exemplo do Estado de Illinois, onde
foram suspensas as execuções até se apurar sem margem para
dúvidas que não existe a possibilidade de enviar inocentes para
a morte. O Estado de Illinois apresenta a mais elevada taxa de
erros judiciais dos EUA.
A pena de morte vigora em 38 Estados norte-americanos, podendo
ser ainda aplicada pelo governo federal. Actualmente, 21 pessoas
estão condenadas à morte por decisão federal, dois terços das
quais são de origem negra ou hispânica.