Lenine
O recente aparecimento nas livrarias de uma obra
sobre Lenine da autoria de uma conhecida historiadora e
académica francesa (*) confronta-nos com uma elaborada
tentativa de «reinterpretação e de reconceptualização» e do
estabelecimento de um «novo olhar sobre o homem e sobre o
significado da sua experiência» a partir de um ponto de vista
marcadamente conservador e de direita.
Deixando para outros espaços e condições a desmontagem crítica deste trabalho importa, mesmo assim, chamar a atenção para as evidentes e interesseiras razões que levam os ideólogos do capitalismo a afirmarem que o «comunismo está posto de parte e a luta abandonada». E para os esforços que desenvolvem, quer no plano político quer no ideológico, para apresentarem o paradigma estalinista o «modelo» de sociedade e de partido que conduziu à degenerescência da primeira revolução socialista, à implosão do socialismo na URSS e em outros países do Leste, e à perda de poder atractivo dos comunistas como uma inevitável decorrência do pensamento de Lénine.
Parece pois
particularmente necessário chamar a atenção de quantos se
reclamam do marxismo para a importância da divulgação,
valorização e análise aprofundada da obra de Lenine o
mais eminente continuador do pensamento de Karl Marx - e da
revolução de Outubro, à qual o seu nome está
indissoluvelmente ligado.
Esforço que não é separável do aprofundamento corajoso das
causas que determinaram a degenerescência e a perda dessa grande
revolução e que evidencie os aspectos em que se verificou um
profundo divórcio em relação às teorias de Marx e de Lénine
e aos ideais que animavam o seu projecto emancipador e
libertador.
E que é também parte integrante da indispensável e rigorosa
análise das contradições do nosso tempo, e do aprofundamento
do projecto comunista hoje, que sustentem a apresentação
credível do socialismo como grande causa , alternativa ao
capitalismo, para o século XXI. Edgar
Correia
(*) Lénine , Hélène Carrère dEncausse, Editorial Inquérito