UEO e NATO realizam exercício conjunto
Jogos de guerra



Durante seis dias a União da Europa Ocidental (UEO) e a Aliança Atlântica (NATO) deram os primeiros passos para a criação do braço armado da União Europeia.


Com o objectivo de testar a possibilidade de utilização dos meios da Aliança Atlântica em missões lideradas pela UE/UEO, o exercício envolveu 30 países das duas organizações e, mesmo antes de ter terminado, já era considerado como «um sucesso».
Como foi referido em conferência de imprensa partilhada pelos secretários-gerais da NATO e da União da Europa Ocidental, George Robertson e Javier Solana, e pelo presidente em funções da UEO, o embaixador português Andresen Guimarães, o exercício foi «conceptual e de decisão», não de «tropas no terreno» e destinou-se a avaliar a articulação das cadeias de comando, utilizando meios informáticos.
Para todos os efeitos, o teste representa o primeiro ensaio da utilização da UEO como braço armado da União Europeia em missões de paz e humanitárias, as chamadas missões de Petersberg. Como admitiu o embaixador português, citado pela Agência Lusa, «o recente recrusdescimento da tensão inter-etnica entre sérvios e albaneses no Kosovo seria um dos possíveis cenários para a actuação da organização com meios da NATO.


Exército na forja


A gradual concretização da Política Externa e de Segurança Comum (PESC) dará lugar, aliás, à constituição, até 2003, de uma força de intervenção rápida de 50 a 60 mil homens, constituível num prazo máximo de 60 dias e capaz de actuar pelo menos um ano em teatros de operações.
Segundo Javier Solana, o alto representante da União Europeia para a PESC, a UE está interessada numa «complementaridade estreita» com a NATO e não «em competição». Deste modo, disse, «a UE apenas lançará e conduzirá operações quando a NATO não se quiser envolver».
Também o ministro português dos Estrangeiros, Jaime Gama, veio a público considerar que o exercício «tem um valor fundamental na construção da Identidade Europeia de Segurança e Defesa (IESD) e que «a circunstância» de se realizar durante a presidência portuguesa da UE e da UEO «é a todos os títulos significativa do compromisso e da determinação que estamos a pôr na edificação» da IESD.
O ministro adiantou ainda que os órgãos político-militares a criar em breve no seio da UE terão carácter provisório durante um período de tempo não quantificado. Dentro de poucas semanas serão criados um Comité Político de Segurança, um Comité Militar e um Estado-Maior internacional.



Até 2003 a UE criará um exército de 60 mil homens
Numa ilha imaginária


O exercício denominado CMX/Crisex 2000 teve como cenário uma ilha imaginária designada como «Kiloland», em pleno Oceano Atlântico, onde surgiram problemas de desordem interna que motivaram a intervenção de uma força internacional de paz para garantir a aplicação de um acordo político entre as partes em conflito e a entrega de ajuda humanitária às populações.
Com a ajuda de computadores foi simulada uma intervenção da UEO em «Kiloland» com mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas e sob a coordenação dos quartéis-generais da UEO e da NATO, em Bruxelas. Segundo, uma nota da Lusa, foi ainda testado um outro cenário, a sul do Mediterrâneo, que poderá ser abrangido pelo artigo 5.º da NATO sobre defesa colectiva.
Estas operações virtuais decorreram entre os dias 17 e 23 ao nível das cadeias de comando, em todas as capitais das duas organizações, que estiveram ligadas entre si por computador, e permitiram avaliar os procedimentos colectivos de consulta e de decisão nos órgãos competentes.
Foi ainda possível verificar o funcionamento do sistema de comunicações, o papel do Estado-Maior militar da UEO e o seu Centro de Satélites, as várias fases do planeamento da operação e o respectivo envolvimento dos diferentes países da organização. Estiveram ainda envolvidos os comandos estratégicos da NATO, SHAPE e SACLANT. A participação portuguesa passou pela constituição de três células: militar, política e de planeamento civil de emergência.


«Avante!» Nº 1369 - 24.Fevereiro.2000