Deputados do PCP
introduzem duas alterações positivas
na iniciativa comunitária de desenvolvimento rural
Menos
fundos para mais regiões
O novo Leader irá abranger todas as regiões rurais
da comunidade, mas conta com metade das verbas disponibilizadas
pelo anterior programa
Os deputados do PCP criticaram desde o início a proposta
apresentada pela Comissão Europeia, principalmente em dois
pontos: o financiamento insuficiente e o facto de não apontar
para o desenvolvimento da agricultura e da produção agrícola.
Na sessão plenária da passada semana, em Estrasburgo, em que
foi discutido e aprovado o relatório Procacci sobre esta
iniciativa comunitária, os deputados do PCP apresentaram três
alterações, duas das quais foram aprovadas. Estas últimas
foram precisamente no sentido de sublinhar que não existe mundo
rural sem agricultura e agricultores, considerando por isso
«importante que uma forte estratégia de desenvolvimento
rural», também suportada pelo Leader+, «deve assentar no
desenvolvimento da actividade agrícola em todas as regiões da
comunidade».
Para o PCP, esta orientação terá «os seus efeitos directos
sobre a actividade económica a montante e a jusante, nos níveis
de emprego e na manutenção de serviços públicos essenciais,
com vista a combater a desertificação que atinge o mundo
rural».
Uma terceira alteração, não aprovada, visava ainda garantir
que as actuais regiões do Leader II continuassem a beneficiar de
financiamento da nova iniciativa, mantendo-se como prioritárias
as regiões mais desfavorecidas.
Subdotação
Apesar de as duas
primeiras alterações terem sido incluídas na resolução final
do Parlamento Europeu, os deputados do PCP abstiveram-se na
votação final, ao contrário dos restantes deputados
portugueses que votaram favoravelmente.
A decisão foi motivada sobretudo porque se manteve o
financiamento insuficiente da iniciativa, cujas verbas foram
reduzidas para metade, para um período maior e com a abertura da
elegibilidade a todas as regiões da Comunidade. Este aspecto é
tão evidente que o próprio relator «manifesta receio de que a
dotação financeira do Leader+ seja demasiado limitada»,
contudo não apresenta nenhuma proposta de incremento ou revisão
dos beneficiários.
Os recursos disponibilizados para o período 2000-2006 são da
ordem dos dois mil milhões de euros (cerca de 400 milhões de
contos), contra mais 4 mil milhões de euros disponibilizados
entre 1994/1999. Estima-se que Portugal possa receber cerca de 8
por cento das verbas Leader+, ou seja 152 milhões de euros
(cerca de 30 milhões de contos).
Novos critérios
Este novo Leader
estabelece que todas as regiões rurais passam a ser elegíveis,
ao contrário do anterior que se destinava apenas às zonas de
objectivo 1 (as regiões com menos de 75% do PIB per capita
comunitário) e às do objectivo 5b (zonas rurais em
reconversão) dos fundos estruturais. Em contrapartida, são
definidos critérios mais rigorosos de elegibilidade, como por
exemplo a obrigação de um território ter mais de 10 mil
habitantes. Refira-se que este limite foi estabelecido pelo
Parlamento Europeu, já que a proposta inicial da Comissão
pretendia um mínimo de 20 mil habitantes.
Também o leque de possíveis beneficiários do programas Leader
+ foi limitado aos Grupos de Acção Local (GAL), nos quais a
participação de administrações públicas e representantes
eleitos não pode ultrapassar 50 por cento dos membros. Estas
novas regras podem deixar muitas regiões portuguesas de fora,
porque, por um lado, grande parte das zonas rurais sofre o
problema da desertificação humana; por outro, a limitação do
peso da administração pública nos GAL poderá implicar
dificuldades na sua constituição, sobretudo nas regiões onde o
investimento e mobilização dependem muito das administrações
locais.
_____
O
«pilar coxo» da PAC
O princípio do desenvolvimento rural, como o «segundo pilar da Política Agrícola Comum» (PAC), foi inscrito na base programática da Agenda 2000 com dois eixos fundamentais: a multifuncionalidade da agricultura e uma estratégia integrada para as regiões rurais.
No entanto, para além de ser um «pilar coxo» da PAC, representando apenas 10 por cento do Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola, o facto é que foi a política agrícola comum e a sua reforma de 1992 que mais contribuíram para atacar a multifuncionalidade, promovendo a concentração da terra e baixando os preços agrícolas. Desapareceram assim milhares de explorações familiares e postos de trabalho.
Agora, a Comissão Europeia pretende transformar o agricultor em algo que ele não é, «um empresário ou administrador» ou um prestador de serviços sociais, num quadro de reconversão da actividade agrícola, já que, constata a CE, «a maioria das oportunidades de trabalho nas zonas rurais situa-se fora do sector agrícola tradicional».
Algumas medidas de apoio adoptadas em Portugal para os pequenos e médios agricultores, escamoteavam por completo a sua actividade principal e viravam o agricultor para o mercado social de emprego, dando-lhe por exemplo tarefas de «contador de lendas e narrativas».
A estratégia dos programas Leader I, II e + entra deste modo em clara contradição com o objectivo declarado de desenvolver o mundo rural. Não apostando na produção agrícola, nos produtos regionais de qualidade, na sua certificação e na criação de estruturas de comercialização, estes programas comunitários passam ao lado da questão fulcral: a agricultura, verdadeira base económica das regiões rurais, em torno da qual se desenvolvem todas as outras actividades.