Um Partido singular


Comemorar setenta e nove anos de existência de um partido político é, por si só, um acontecimento digno de registo. Esse registo assume, no entanto, uma dimensão e um conteúdo muito particulares se se tiver em conta que no caso em questão – a comemoração do 79º aniversário do PCP – estamos perante uma situação singular no panorama partidário nacional: a de um partido que, quando todos os outros soçobraram face à ditadura fascista, ousou resistir-lhe e combatê-la; que, quando outros, apoiados política e financeiramente por grandes potências capitalistas, se fizeram porta vozes e instrumentos da contra revolução, se assumiu clara e frontalmente na defesa daquele que foi o acto de maior modernidade da História de Portugal: a Revolução de Abril; um partido que, por tudo isto, é o protagonista de uma história que tem as suas raízes na história do povo português e dela é parte integrante.
Nascido em 1921 sob o impulso da criação do primeiro partido comunista do Mundo – o partido de Lénine – e da Revolução de Outubro - primeira grande tentativa na história da humanidade de construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados - o PCP cedo se viu forçado a passar à clandestinidade. Apesar da repressão fascista que, durante quarenta e oito anos, fez dele o seu alvo principal, o PCP foi, nesse período, um influente partido nacional, um defensor intransigente dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país, a grande força política da oposição ao fascismo, o polo aglutinador da luta pela democracia e pela liberdade. E foi na continuidade dessa postura revolucionária que, após o 25 de Abril, a conquista e a defesa da democracia e da liberdade e de outras grandes conquistas dos trabalhadores e do povo – bem como o combate à contra revolução e a luta contra a política de direita – estão indissoluvelmente ligadas à actividade e à intervenção do PCP.

Sublinhe-se: nenhum outro partido nacional teve - na luta pela democracia, pela liberdade e pela defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país – papel semelhante ao desempenhado pelo PCP. E é necessário insistir no facto incontestável de que, quando lutar por esses objectivos tinha como consequência previsível a prisão, a tortura, por vezes a morte, foram os comunistas os únicos que, partidariamente organizados, travaram essa luta e sofreram essas consequências. Da mesma forma que é mister ter presente a intervenção do PCP no período posterior ao 25 de Abril e sublinhar a determinação, a coerência, a responsabilidade singulares dessa intervenção, visíveis todos os dias de todos estes quase vinte e seis anos de liberdade. Neste momento, comemorando o 79º aniversário do PCP não comemoramos apenas 79 anos de vida do Partido: comemoramos 79 anos de luta travada em todas as situações e circunstâncias. Não reivindicando louros nem medalhas por tal postura fazemos questão, no entanto, de separar as águas que a verdade manda que sejam separadas. E a ideia, aqui enunciada por diversas vezes, de que, ao afirmarmo-nos como somos e queremos ser, ao sublinharmos o que nos distingue de todos os outros partidos, não pretendemos dar lições seja a quem for, tem implícita uma outra: a de que, naturalmente, não recebemos lições de quem quer que seja.

Na nova situação hoje existente, em que, na sequência da derrota do socialismo no Leste da Europa, uma nova ordem imperialista procura o domínio absoluto do Mundo, a luta dos comunistas depara com crescentes dificuldades e complexidades. Mas continua. E é nessa determinação de continuar que reside a sua maior importância. A existência de partidos comunistas fortes, organizados, combativos, solidamente ligados às massas, firmes na sua natureza e identidade, convictos de que o socialismo e o comunismo constituem a única alternativa histórica ao capitalismo, é uma condição necessária e indispensável para fazer frente com êxito às ambições hegemónicas e totalitárias do imperialismo. Neste quadro, o PCP, como sempre aconteceu ao longo da sua história, ocupa o lugar que os seus ideais, os seus objectivos, o seu projecto exigem.

Fizemos, há 79 anos, uma clara opção de classe sustentada por uma definição assumida da identidade, da ideologia, dos ideais que queremos ter enquanto partido da classe operária e de todos os trabalhadores; definimos desde logo um projecto, uma táctica, métodos de análise, de organização e de acção baseados numa teoria - o marxismo-leninismo – que é ponto de partida indispensável para a análise que conduz à definição de uma linha política revolucionária, que é um instrumento insubstituível para a compreensão da situação concreta e para a acção revolucionária das forças que se propõem transformar o Mundo.
Quisemos ser, fomos, somos e seremos um partido revolucionário, portador de um projecto que é o mais moderno, o mais inovador, o mais humanista, o mais progressista de todos os projectos: a construção de uma sociedade nova, livre, justa, liberta de todas as formas de exploração e de opressão – conscientes das dificuldades e complexidades que tal tarefa comporta e de que a luta por esse objectivo integra as muitas e indispensáveis pequenas e grandes lutas de todos os dias; conscientes de que a firmeza de convicções e de princípios constitui o motor da coragem e da confiança necessárias para o êxito da luta que travamos.


«Avante!» Nº 1370 - 2.Março.2000