Sexualidade
Direitos, perseguição, demagogia

Por Luísa Araújo
Membro da Comissão Política


O tema é abordado cada vez mais abertamente, ultrapassando e reduzindo tabus. Há avanços nos princípios e na legislação, contudo há grandes atrasos em matéria de respeito, de direitos, de esclarecimento e de apoio em mais um aspecto tão importante para a formação, a saúde, o bem estar e a felicidade dos cidadãos.

Aprovada só em 1995 pela Federação Internacional de Planificação da Família tem por base instrumentos internacionais de direitos humanos que obrigam os Estados a respeitar a sexualidade de cada cidadão.
Não legislar e não respeitar direitos são, também, formas de perseguição. No campo da informação, da educação e da liberdade sexual é essencial concretizar uma política para uma melhor compreensão da necessidade de uma sexualidade responsável e das realidades actuais relativamente aos comportamentos sexuais.
A juventude é um sector, não sendo o único, particularmente necessitado desta política e sensível a tudo o que ela comporta.

Um direito legislado há 16 anos em Portugal, através da Lei 3/84, que nunca chegou a ser regulamentada no que se refere à educação sexual nas escolas. No final da anterior Legislatura foi discutido e aprovado com alterações um Projecto-Lei, também do PCP, que deu origem à Lei 120/99. Neste âmbito é legislada a promoção da saúde sexual e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Nos estabelecimentos do ensino básico e secundário será implementado um programa para a promoção da saúde e da sexualidade humana, através duma abordagem interdisciplinar. Serão criados gabinetes de apoio aos alunos e disponibilizado o acesso a preservativos através de meios mecânicos nos estabelecimentos do ensino superior e nos estabelecimentos do ensino secundário, por decisão dos órgãos directivos, ouvidas as respectivas associações de pais e de alunos.
A lei foi aprovada em Junho de 1999. O Governo teria que a regulamentar no prazo de 90 dias. Oito meses depois ainda não o fez. Mais um ano lectivo que passa para alunos, professores e futuros professores . Não se preparam os programas curriculares e não se incentiva a instalação dos meios decididos.
Em algumas escolas do país os alunos questionam e reivindicam a concretização destes seus direitos. Os Conselhos Executivos ou não sabem ou não querem responder, ou não têm possibilidade para avançar com medidas concretas, já que algumas delas exigem meios financeiros que dependem do Orçamento do Estado que não só não está ainda aprovado como a proposta não corresponde às necessidades.
Houve alterações profundas de mentalidade em amplos estratos da população, mas a ausência de medidas concretas não aprofunda estas alterações e não ajuda a que novos passos sejam dados. Parte do Estado o incumprimento e o desrespeito pelas leis. É necessário que estudantes, professores, associações de pais, técnicos de saúde, entre outros, se envolvam mais em movimentos de pressão para o cumprimento do princípio da educação sexual nas escolas.

A igualdade de direitos entre os cidadãos independentemente da sua orientação sexual também é uma batalha de há muito tempo. Foi em 1897 que se fundou a 1ª organização para a defesa dos direitos dos homossexuais. Agora conhece-se mais a expressão desses movimentos e das suas reivindicações.
A sociedade tem hoje uma melhor compreensão sobre o direito de cada indivíduo ao livre exercício da sua sexualidade. Esta compreensão não pode limitar-se à tolerância. É necessário o reconhecimento efectivo da liberdade sexual.
A Constituição da República Portuguesa consagra no Artigo 13, nº 1 que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Este reforço do princípio da igualdade foi introduzido na última revisão constitucional. Pena é que uma outra proposta do Partido Ecologista "Os Verdes" para este mesmo artigo, que explicitava a orientação sexual como um dos critérios pelos quais ninguém pode ser discriminado, que contou com o voto a favor do PCP, não tenha sido aprovada por responsabilidade do PS.
A liberdade de opção sexual é um direito assim como o é cada pessoa escolher a maneira como quer estar na vida, definir a sua relação afectiva e fazer a sua opção de vida em comum. Perante a diferença e comportamento sexual diferente não pode haver discriminação social.
Esta natureza de problemas, que a muitos preocupa, merece uma intervenção política séria sem oportunismo, sem demagogia, sem hipocrisia e sem ânsia de visibilidade.
Os cidadãos afirmam os seus direitos. É necessário defendê-los e reforçá-los. O PCP apresenta o Projecto-Lei que consagra direitos de homossexuais que decidem viver em comum.


«Avante!» Nº 1370 - 2.Março.2000