Militares de
nove brigadas do Exército da Colômbia
acusados de apoiarem grupos paramilitares
Ligações
perigosas
A organização Human Rights Watch (HRW) denuncia em
Washington o envolvimento do Exército colombiano na guerra suja
que dilacera aquele país latino-americano.
Os laços que prendem: vínculos entre militares e paramilitares
na Colômbia, é o título do documento divulgado
quinta-feira em Washington pela Human Rights Watch (HRW), em que
ao longo de 25 páginas se apresentam «abundantes e detalhadas
provas» da existência «continuada» de «estreitos laços»
entre o Exército colombiano e os grupos paramilitares que desde
há décadas semeiam o terror e a morte no país.
As autoridades militares da Colômbia consideraram o relatório
«calunioso» e lesivo da «honra» da instituição, enquanto o
governo não esconde o seu receio de que o documento venha a pôr
em causa a concessão, por parte dos EUA, da prometida ajuda
militar de 1600 milhões de dólares a Bogotá, justamente em
apreciação no Congresso norte-americano.
O relatório, enviado à secretária de Estado Madeleine
Albright, refere casos concretos e faz acusações
particularmente graves. Entre outras coisas, afirma-se
expressamente que metade das 18 brigadas do Exército colombiano
e alguns dos respectivos oficiais colaboram estreitamente com os
chamados grupos de autodefesa (Autodefesas Unidas da Colômbia -
AUC), designadamente através do fornecimento de informações,
armas, munições, apoio a aéreo e assistência médica. A
colaboração com os grupos paramilitares, afirma o documento, é
dirigida por Carlos Castaño.
Na sua resenha de casos concretos, a HRW aponta a III Brigada,
sedeada em Cali, dizendo que abriga os membros do grupo
paramilitar «Calima», responsáveis por matanças e exôdo
massivo de camponeses. «As investigações estabeleceram uma
ligação directa da frente Calima com oficiais no activo,
na reforma e na reserva da III Brigada», afirma o relatório. A
III Brigada faz parte da 3ª Divisão do Exército Colombiano,
que inclui a região onde estão concentradas unidades militares
que recebem um forte apoio dos EUA.
Espiral de violência
A IV Brigada, com
sede em Medellín, é outro dos casos citados; o documento
assegura que a matança de El Aro, aldeia de Antioquia arrasada
em 1997 onde foram assassinados mais de três dezenas de civis,
foi levada a cabo conjuntamente pelo Exército e por
paramilitares. «Sobreviventes disseram à HRW que, enquanto os
soldados se mantinham num perímetro à volta das casas, cerca de
25 membros das AUC entraram na povoação».
A XIII Brigada, com sede em Bogotá, aparece igualmente referida,
acusada de desenvolver uma campanha de intimidação contra
quantos se arriscam a investigar as ligações existentes entre o
Exército, grupos paramilitares e membros de «LaTerraza», uma
organização criminosa apontada como responsável pelo
assassinato do jornalista Jaime Garzón, em 13 de Agosto último,
em Bogotá. De referir que também o advogado Jesús Valle, que
investigava o massacre de El Aro, foi assassinado, em Fevereiro
de 1998.
Face a esta situação, o relatório da HRW defende que toda a
ajuda internacional no âmbito da segurança deve ser
condicionada à tomada de «medidas concretas por parte do
governo colombiano para eliminar as ligações, a todos os
níveis, entre as forças militares e os grupos paramilitares».
A espiral de violência na Colômbia parece entretanto
imparável. Desde o início do ano registaram-se já 39
massacres, que provocaram um total de 271 vítimas civis, sendo a
maioria dos assassinatos cometida pelos grupos paramilitares. A
última ocorreu há dias na aldeia de El Salado onde, segundo o
responsável da investigação, os «paras» chegaram,
embebedaram-se, dançaram e divertiram-se depois degolando 37
pessoas!