Lei
laboral gera polémica
na Argentina
A reforma da Lei Laboral, visando a flexibilização
do mercado de trabalho, pôs fim ao estado de graça do governo
argentino do presidente De la Rúa.
O recente acordo
firmado pelo governo de Aliança com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) é apresentado pelo executivo argentino como
uma prova da confiança que merece à comunidade financeira
internacional, mas o reverso da medalha é a primeira
manifestação de descontentamento dos trabalhadores, que na
passada quinta-feira levou à Praça de Maio 20 000 pessoas em
protesto contra a reforma da Lei Laboral aprovada pela Câmara
dos Deputados. A reforma, que institucionaliza a
flexibilização, agrada ao FMI, ao patronato e aos investidores,
mas os trabalhadores temem que venha agravar ainda mais a sua
situação numa altura em que o desemprego se situa nos 14 por
cento. Os jovens são os principais afectados, com uma taxa de
desemprego de 29,6 por cento.
A situação é tanto mais complexa quanto se sabe que o governo
alcançou a semana passada um acordo com representantes sindicais
(da CGT), patronais e grupos parlamentares, a que foi dado o nome
de «Diálogo Social para o Emprego e a Competitividade».
Aparentemente, trata-se de um acordo mais frágil do que à
primeira vista se poderia supor, não só porque muitos
sindicatos o contestam, mas também porque na Câmara dos
Deputados os peronistas se recusaram a acatar a disciplina
partidária e votaram contra a reforma, ao arrepio do acertado
entre De la Rúa e três dos principais governadores privinciais
do Partido Justicialista (PJ), designadamente de Buenos aires,
Córdoba e Sante Fé.
Com a polémica instalada no seio do movimento sindical e do
principal partido da oposição, a expectativa está agora
centrada no Senado, onde a reforma tem de ser ratificada. Para um
dos dirigentes sindicais que usou da palavra na Praça de Maio,
os trabalhadores estão confiantes de que os senadores «não
vão votar esta lei para satisfazer o Fundo Monetário
Internacional». Muito pouco seguros quanto ao seu futuro estão
os argentinos (75 por cento sentem-se «economicamente
inseguros»), temendo ver ainda mais reduzida a porcentagem (40
por cento) dos que contam com emprego estável.