Com a Casa da Cultura cheia, Beja cantou parabéns ao PCP
Com os olhos no futuro



O auditório da Casa da Cultura de Beja foi pequeno, no passado sábado, para militantes e simpatizantes comunistas que, em festa, assinalaram o 79º aniversário do PCP.

A presença e intervenção política de Carlos Carvalhas era o motivo suplementar para a festa, que fez deslocar a Beja largas centenas de pessoas provenientes de todos os cantos do distrito.
E, às três da tarde, hora marcada para as festividades, já os grupos corais e etnográficos, feminino e masculino, da Casa do Povo de Brinches estavam preparados para actuar em início de festa. Aliás, o desempenho das mulheres e homens de Brinches agradou e de que maneira: o final das modas foi aclamado por um misto de palmas e bandeiras vermelhas agitadas. E os elementos do grupo, apurámos, levaram a festa até à aldeia. Em Brinches, os dois grupos juntaram-se à volta do largo e continuaram a confraternização.
Em matéria de música, o comício comemorativo dos 79 anos do Partido Comunista Português contou, também, com a participação do grupo de música popular "Canto Moço" que animou, de forma particular, todos os presentes. O grupo de Pias, muito ao seu jeito, deu cor e ritmo a algumas modas bem conhecidas das gentes do Alentejo.


Aumentar a militância

Estava, assim, preparado o ambiente para os aguardados momentos de intervenção política a cargo de Marta Guerreiro, da Juventude Comunista Portuguesa, António Vitória, responsável da DORBE, e Carlos Carvalhas, secretário-geral do PCP.
Marta Guerreiro assinalou o período de grande incremento de actividade dos jovens no Partido que se regista actualmente no distrito de Beja para terminar a intervenção citando o poeta José Carlos Ary dos Santos nos seguintes termos: "O passado já é bastante, vamos passar ao futuro".
Já António Vitória achou por bem lembrar a história de luta do povo do Alentejo e assinalar os anos de conquista que se viveram, após o 25 de Abril, com a Reforma Agrária, como parte integrante da história do PCP. De olhos virados ao futuro, António Vitória lançou um desafio para o aumento da militância, que terá de passar pela filiação de novos membros no distrito em 2000.
Pela forma como a assistência assinalou a intervenção deste dirigente o desafio foi aceite e criadas as condições para a alocução, de imediato, do secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas.
No final da festa, um participante comentava o evento nestes termos: "Assim, temos Partido e temos força".



Carlos Carvalhas em Beja
PCP tem acção incomparável


Na sua intervenção, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, começou por lembrar o facto de se estar ali a comemorar os 79 aos do Partido Comunista Português e simultaneamente «a luta das gerações de comunistas que nos precederam», com «os olhos postos no futuro e na transformação do presente».
«Comemoramos», disse Carlos Carvalhas, «a incomparável presença e acção do PCP na sociedade portuguesa e o seu decidido combate pela liberdade, pela democracia, pelo socialismo, pela valorização e dignificação dos trabalhadores, pelo socialismo e os seus generosos ideais e valores humanistas». Assim como «o papel, a iniciativa e a luta do PCP na Revolução de Abril, no avanço de históricas transformações sociais, como a Reforma Agrária e o Poder Local democrático, o papel do PCP na fundação, construção e defesa do regime democrático».
Ao fazê-lo, o PCP está a pensar «na política actual, na desertificação e envelhecimento do interior do país, no insuficiente ritmo do crescimento económico, no preocupante défice da Balança Comercial, na exploração, nos baixos salários e nas baixas reformas, na acentuação das desigualdades sociais, no domínio do capital estrangeiro, e no domínio crescente do poder económico sobre o poder político». Mas está, ao mesmo tempo, «a organizar a luta, a levantar a voz contra as injustiças, a apresentar propostas alternativas e a desenvolver uma vasta acção construtiva nas mais diversas esferas da vida nacional».
E, contrariamente ao que «alguns comentadores do PS gostariam» o PCP não vai fechar para Congresso mas sim trabalhar na sua preparação, empenhando esforços e energias no reforço da organização partidária.


Contra «amorfismo»


Caracterizando o quadro político em que vivemos, Carlos Carvalhas «inaceitável» que um Governo «com o nome de socialista inscreva no Orçamento para este ano mais de 400 milhões de contos de benefícios fiscais, muitos dos quais para as operações financeiras e especulativas; que mantenha os privilégios à banca; que reduza em dois pontos percentuais o IRC sobre as empresas com um volume de negócios superior a 100 mil contos e que, paralelamente, mantenha as taxas e os escalões sobre o IRS, isto é, sobre os rendimentos do trabalho».
È por isso que o PCP não vai desistir na Assembleia da República de nenhuma da suas propostas, nomeadamente as relativas à justiça fiscal, ao Plano de Investimento da Administração Pública, aos salários e ao aumento das reformas e pensões, e vai continuar a apresentar propostas e medidas positivas e a lutar pela sua viabilização.
Quanto ao «amorfismo do PS», que alguma comunicação social diz dever-se à ausência de oposição, ele assenta numa política «em que as palavras, as promessas e a retórica, são desmentidas pela prática»,alargando o descontentamento e traduzindo-se «nas mais diversas manifestações de protesto e até nas contradições expressas entre ministros e entre dirigentes».
Existem, pois, condições para, «através da intensificação da iniciativa política do Partido, mobilizar cada vez mais trabalhadores e cidadãos na luta por outra política» e «impor ao Governo recuos e derrotas no plano social e político».
Por fim, o secretário-geral do PCP recordou a intensa actividade em que o PCP está envolvido e as iniciativas internacionais em que participa, sublinhando a sua contribuição para a mobilização do apoio ao povo Moçambicano.


«Avante!» Nº 1371 - 9.Março.2000