Inquérito
parlamentar à TAP
Clarificar
o processo
As decisões do Governo sobre o processo que envolve a
privatização da TAP vão ser objecto de inquérito parlamentar.
Cumpre-se assim um objectivo desde há muito perseguido pelo PCP.
Na sequência das denúncias formuladas sobretudo pela bancada
comunista quanto à forma como o processo tem sido conduzido, em
que relevam os aspectos obscuros, com graves prejuízos para os
interesses nacionais, aberta fica agora a possibilidade de fazer
alguma luz sobre o assunto. Nesse sentido apontavam os três
pedidos de inquérito formalizados pelo PCP, PSD e PP, em debate
faz hoje oito dias. Gorada que foi a tentativa de os unificar num
único texto, prevaleceu o pedido feito pelo PSD, que procedera
ao seu agendamento potestativo, ao abrigo do regimento,
recolhendo para o efeito as assinaturas necessárias. O PCP
acabou por não submeter o seu pedido de inquérito à votação,
enquanto o PP optou pela solução contrária, vendo assim o seu
pedido rejeitado.
Em causa estão, designadamente, para além do processo de
privatização, as alianças estratégicas firmadas pela TAP com
outras companhias, bem como as razões invocadas pelo Governo
para a segmentação e desmantelamento da empresa. A ausência de
respostas claras em qualquer destas questões, como sublinhou no
debate o deputado comunista Lino de Carvalho, ampliou as
«perplexidades» e as «interrogações».
E são muitas. Desde logo a questão das alianças estratégicas,
em relação às quais sempre foi dito que implicariam a abertura
do capital da TAP com a sua privatização. Uma premissa que
factos ulteriores vieram desmentir, uma vez que, como observou
Lino de Carvalho, havia afinal parceiros dispostos a realizar
essas alianças estratégicas sem a exigência de qualquer
participação no capital, como vieram a revelar altos
responsáveis da TAP.
Por esclarecer estão também as razões que levaram o Governo a
optar por vender 34 por cento do capital da empresa a um operador
estrangeiro, conferindo-lhe um poder susceptível de bloquear
qualquer decisão em matérias estratégicas.
Igualmente por explicar, na perspectiva da bancada comunista,
estão as oscilações nos valores de venda do património da
TAP, com diferenciais a situar-se entre um mínimo de 65 milhões
de contos e um valor máximo de 104 milhões de contos, ao sabor
das exigências e interesses dos potenciais compradores.
A escolha da Swisair como parceiro, no âmbito da Qualifyer,
contrariando todos os estudos económicos, incluindo da própria
empresa (que apontavam para outras soluções mais vantajosas),
constitui outro dos mistérios por deslindar. Grave, neste caso,
é ainda o facto de estar em causa a identidade da TAP no futuro,
face aos objectivos enunciados pela Qualifyer de absorver todas
as suas companhias numa única empresa.
Para a bancada comunista importa ainda clarificar por que é que
depois de o Governo ter dito que a solução salvadora da TAP
estava no acordo com a Qualifyer vem agora afirmar que a forma
precipitada como o mesmo foi negociado e incrementado é que
está na origem dos recentes elevados prejuízos da
transportadora aérea nacional.
A carecer de explicações está ainda a decisão quanto ao
desmantelamento e segmentação da TAP em três empresas, que se
vai traduzir na sua fragilização, bem como o futuro dos seus
8600 trabalhadores, em relação ao qual continuam a pairar as
maiores incertezas.