Kofi Annan apela à solidariedade
Ajuda a Moçambique
é insuficiente



As inundações provocaram já pelo menos 200 mortos e afectaram mais de um milhão e meio de moçambicanos.

As inundações que estão a devastar Moçambique e outros países da região provocaram uma situação de catástrofe internacionalmente reconhecida, no entanto as ajudas estão longe de corresponder às necessidades. O próprio secretário-geral da ONU o reconheceu em Nova Iorque, na semana passada, ao afirmar que apesar de ter sido mobilizado «o sistema das Nações Unidas» e de se ter começado «a receber dinheiro», a reacção da comunidade internacional «podia ter sido melhor».
Alarmada com a situação, a ONU promoveu na sexta-feira uma reunião em Pretória com participantes de Moçambique, África do Sul, Botswana e Zimbabwé, para tentar encontrar uma estratégia regional para esta crise. Entretanto, segundo a agência Lusa, a União Europeia (UE) anunciou uma ajuda europeia de 4,8 milhões de dólares (960 mil contos) para Moçambique, rejeitando as críticas sobre a lentidão da resposta da UE face à catástrofe moçambicana. O embaixadora da UE na África do Sul, Michael Laidler, recordou que já tinha sido dada àquele país uma ajuda de emergência de 800 mil dólares. Também a França anunciou quinta-feira que vai enviar novamente para Moçambique um avião de transporte Transaal para ajudar no transporte de víveres às regiões sinistradas, quando chegavam à África do sul, num avião militar norte-americano, 45 toneladas de ajuda dos Estados Unidos. Por seu turno, em Itália, 250 deputados lançaram um apelo para o envio para Moçambique de uma força de intervenção capaz de agir para salvar as populações isoladas pela água em grande parte do território moçambicano.
No mesmo dia, em Portugal, o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, anunciava o «perdão» de metade da dívida directa de Moçambique a Portugal, no montante de 30 milhões de contos, como mais uma forma de apoiar o processo de reconstrução moçambicano. Jaime Gama exortou outros países doadores a seguirem o exemplo de Lisboa, e deu a conhecer um programa de acção de emergência de apoio a Moçambique que prevê, entre outros apoios, a disponibilização de um montante até cinco milhões de dólares (cerca de um milhão de contos), dos quais 1.150 milhões de dólares (cerca de 230 mil contos) já foram transferidos para Maputo de forma a garantir o aluguer e fretamento de helicópteros na região para as operações de salvamento.

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Nota do PCP

A propósito da situação de Moçambique, o Secretariado do Comité Central do PCP divulgou no passado dia 1 de Março a nota que a seguir se transcreve:

1. Perante a trágica dimensão da situação criada pelas intempéries que nos últimos dias assolaram Moçambique, o PCP considera imperioso atender os apelos do governo moçambicano para o fornecimento urgente de meios - helicópteros, barcos, alojamentos provisórios, alimentos, etc. - que possibilitem o pronto socorro das populações sinistradas. Qualquer atraso na resposta a estes apelos tornará a tragédia ainda maior.

2. O PCP considera que perante tão dramática situação, Portugal não pode faltar com a sua activa, pronta e desinteressada solidariedade, competindo ao governo português, que tem revelado nesta emergência grande lentidão, disponibilizar todos os meios e recursos ao seu alcance. Considera ainda que a diplomacia portuguesa se deve empenhar junto da União Europeia - de que detém a Presidência - e outras organizações internacionais, para que seja urgentemente canalizada para Moçambique a ajuda de emergência indispensável e adoptadas iniciativas no plano económico e financeiro (em relação à dívida externa, nomeadamente) que contribuam para a necessária reconstrução das regiões afectadas e a recuperação da economia moçambicana tão duramente atingida.

3. O PCP fará o que estiver ao seu alcance para estimular a solidariedade com o povo irmão moçambicano, nomeadamente através dos seus eleitos nas autarquias locais, Grupo Parlamentar na Assembleia da República e deputados no Parlamento Europeu.

4. O PCP chama a atenção para a chocante lentidão e exiguidade dos meios (nomeadamente helicópteros) até agora disponibilizados no plano internacional para a ajuda a Moçambique. É urgente a criação de estruturas e mecanismos de cooperação internacional que possibilitem o pronto socorro de populações sinistradas. É necessário que os extraordinários recursos técnicos de que dispõem as grandes potências sejam mobilizados para fins efectivamente humanitários e não para prosseguir objectivos armamentistas e intervencionistas.


«Avante!» Nº 1371 - 9.Março.2000