Tensão no
Equador
Dolarização
da economia
O Congresso do Equador aprovou quinta-feira passada a
Lei de Transformação Económica que consagra a dolarização de
economia nacional. Um dia depois, a Coordenadora de Movimentos
Sociais, organismo que integra sindicatos e organizações de
massas, apelou à «desobediência civil» e marcou para 21 de
Março uma jornada de protesto nacional.
A controversa
legislação estabelece a progressiva substituição do sucre,
moeda nacional, em todas as transações até à sua
substituição total pela moeda norte-americana. Aprovada por 63
dos 123 deputados, a lei reforma igualmente os critérios das
privatizações, o sistema financeiro e as normas de
contratação laboral, entre outros aspectos.
O presidente equatoriano, Gustavo Noboa, dispõe de um prazo de
dez dias, a contar da aprovação no Parlamento, para aprovar ou
vetar as reformas, total ou parcialmente.
A nova lei é contestada pela Esquerda Democrática
(social-democrata), pelo Partido Roldosista Equatoriano (PRE),
pelo Movimento Popular Democrático (MPD, de esquerda) e pelo
Movimento Pachakutic (representante das organizações
indígenas), que se opõem à dolarização da economia e exigem
um referendo sobre a matéria.
Anunciada em 9 de Janeiro pelo então presidente Jamil Mahuad, a
dolarização foi a gota de água que fez transbordar a taça da
revolta da população equatoriana, cansada dos sucessivos
escândalos de corrupção das autoridades do país, e cada vez
mais empobrecida, obrigada a sobreviver com um salário mínimo
de fome que não vai além dos 40 dólares por mês. A revolta
fez cair Jamil Mahuad, mas as esperanças de mudança foram de
pouca duração.
Ao levar para a frente o processo do seu antecessor, numa
tentativa de reduzir as tensões inflacionistas, Gustavo Noboa
abre caminho a novas tensões sociais, uma vez que o país fica
condicionado às decisões da Reserva Federal norte-americana e
obrigado a levar a cabo drásticas mudanças nas relações de
trabalho e a abrir totalmente a porta às privatizações. Com
uma dívida externa de 13 752 milhões de dólares no sector
público, ou seja, 14 por cento do Produto Interno Bruto, o
Equador volta-se para as tradicionais receitas do FMI e do Banco
Mundial para sanear a sua economia, sem pôr em causa os
privilégios de uma camada cada vez mais reduzida e cada vez mais
rica da população. Os indígenas, mais de dois milhões numa
população total de doze milhões, prometem não baixar os
braços: «O presidente Noboa cometeu um erro, e se assinar a lei
terá de se haver com as consequências», avisou Salvador
Quisphe, dirigente índio.