Professores do Norte e Centro do país
debatem perspectivas do ensino
Por uma escola democrática e solidária



Em encontros realizados no centro e norte do país, os professores defendem uma escola solidária e manifestam-se contra uma visão economicista.


«Ensinar e aprender numa sociedade solidária», foi o lema do V Congresso do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), que decorreu no Porto entre Quarta e Sexta-feira da semana passada, permitindo uma reflexão em torno da escola, professores e sindicalismo, três vertentes indispensáveis à construção de uma escola mais democrática e solidária.
No quadro do debate em torno destas temáticas, o SPN defende que «só uma escola pública valorizada, não enfeudada a interesses particulares diversos, dotada de autonomia, capaz de proporcionar elevada formação técnica, científica e, sobretudo, humana, garante o direito de cada um á educação, como condição de desenvolvimento progressivo da comunidade de que faz parte o país».
Nesta perspectiva é essencial «dotar o sistema de condições e equipamentos que acompanhem e tenham capacidade de responder às exigências sociais em permanente evolução», considera o SPN.
O papel e as finalidades da escola, a forma como se organiza, a organização curricular e as especificidades de que se reveste em cada sector, o financiamento das escolas, o estatuto profissional dos professores e um sindicalismo interveniente capaz de exigir opções de fundo, foram algumas das questões debatidas no congresso.
O encontro, que reuniu 900 delegados de todo o norte do país, equacionou ainda a sua filiação à CGTP-IN.


Professores de Coimbra
contra visão economicista

A escola requer maior autonomia, mas sem uma «visão economicista», alertaram professores e educadores da Região Centro, reunidos em Coimbra sob o lema «Escola, autonomia e qualidade educativa».
No encontro, organizado pelo Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), foi sublinhada a disparidade de concepções sobre autonomia.
Para os professores, autonomia «passa por dotar as escolas de condições para que possam dar melhores respostas sociais, enquanto que para o Ministério da Educação (ME) representa conseguir formas de suporte económico para as escolas, através de protocolos com empresas e autarquias, para uma gradual desresponsabilização do Estado», considera Mário Nogueira, coordenador do SPRC.
«Não basta falar de qualidade», comentou o sindicalista, lembrando a falta de professores e auxiliares, as turmas grandes, e as poucas verbas, «inclusivamente para gastos correntes de fotocópias e material de apoio».
Factos em gritante contradição com novas realidades sociais que exigiriam da escola respostas adequadas, nomeadamente no que respeita à ocupação dos tempos livres «segundo a vocação de cada criança».
O sindicato está neste momento a ultimar um levantamento do número de alunos por turma nas escolas do 2º e 3º ciclos da Região Centro, cuja apresentação pública está marcada para dia 3 de Abril.
A análise do novo modelo de direcção e gestão das escolas, proposto pelo ME, foi um dos temas em debate e contou com a participação de poaulo Sucena, coordenador da Fenprof.
Durante o encontro foi ainda lançado o livro «Uma pequena luz vermelha e outros textos de Abril», que reúne quatro textos resultantes de um concurso literário promovido pelo sindicato para comemorar o 25º aniversário do 25 de Abril, e de que o produto integral da venda reverterá para a reconstrução de Moçambique. Uma iniciativa promovida com a colaboração da editora conimbrense Alma Azul.

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Uma história em poucas palavras

Os professores do 1º ciclo do ensino básico e os educadores de infância do concelho de Aguiar da Beira deitaram mãos à obra e apresentaram ao Ministério da Educação uma proposta de criação de um agrupamento horizontal de escolas (com a educação pré-escolar e o 1º ciclo do ensino básico).
Fizeram-se reuniões, foi eleita uma comissão para dinamizar todo o processo e elaborado um projecto para a constituição do agrupamento e obteve-se o parecer favorável da Câmara Municipal.
Apresentada a proposta ao ME, a resposta foi um não, por não se considerar oportuno «desenvolver qualquer iniciativa nesse sentido».
Em comentário a esta resposta, o Sindicato dos Professores da Região Centro afirma que o ME pretende impor agrupamentos verticais (escolas do 1º ciclo e jardins de infância, com escolas do 2º e 3º ciclos do ensino básico). Ou seja, «quer reorganizar o 1º ciclo do ensino básico e a educação pré-escolar sem fazer qualquer investimento nestas escolas».
O Sindicato afirma, entretanto, a sua determinação em prosseguir a luta «pela verdadeira autonomia das escolas» e pela «construção de um modelo de direcção e gestão que valorize os órgãos pedagógicos das escolas e intervenção criativa dos profissionais da educação».


«Avante!» Nº 1374 - 30.Março.2000