Mulheres da Europa reúnem-se em Portugal
Pelo direito de viver e razões para viver



Organizações femininas europeias estiveram em Portugal e denunciaram as políticas neo-liberais como responsáveis pelo desemprego e exclusão social.

«A totalidade do emprego criado para mulheres de 1990 a 1996 foi precário; em 1998, 75% dos postos de trabalho criados para mulheres foram a tempo parcial» - esta uma significativa constatação do encontro que, a convite do MDM – Movimento Democrático de Mulheres, reuniu, a semana passada, em Portugal, ONG´s de mulheres da Alemanha, Suécia, Inglaterra, França, Espanha e Portugal.
As participantes na reunião denunciaram, em particular, as políticas neo-liberais e um crescimento económico, gerado por essas políticas, que «aproveita a um número cada vez menor de indivíduos, enquanto que aumenta, por outro lado, o número de pessoas que vivem em situação de pobreza e de exclusão social», afectando de forma particularmente grave as mulheres.
Em comunicado de imprensa do secretariado do MDM, afirma-se ainda a necessidade de pôr fim às discriminações entre homens e mulheres, a determinação na luta pela emancipação feminina como «componente essencial na luta por um mundo mais justo e mais solidário, no qual todos os seres humanos recuperem a sua dignidade, tenham o direito de viver e razões para viver».
Por fim, o encontro apelou à participação na Marcha Mundial das Mulheres contra a Pobreza e a Violência, nomeadamente na Marcha Europeia que terá lugar no dia 14 de Outubro de 2000, em Bruxelas.

A Mulher e o Emprego

O «profundo abismo entre o discurso oficial dos dirigentes da União Europeia e a realidade concreta da vida dos trabalhadores, em particular das mulheres», é o primeiro facto assinalado pelas organizações femininas europeias presentes no encontro A Mulher e o Emprego, promovido pela FDIM – Federação Democrática Internacional das Mulheres, realizado em Lisboa dia 22 de Março.
Enquanto o discurso oficial fala de crescimento económico, inovação, dinamismo, competitividade, «a realidade é demolidora», afirmam as organizações femininas, que lembram as 50 milhões de pessoas votadas ao desemprego e à exclusão social na União Europeia.
Significativo é, sublinha-se na resolução debatida no encontro, que «o documento apresentado pela Presidência portuguesa à Cimeira Europeia sobre Emprego não faça quaisquer referências às questões da precaridade do emprego, quando cerca de 20% dos trabalhadores europeus por conta de outrém, com grande maioria de mulheres, apenas têm um vínculo precário».
Na resolução considera-se que a grave situação social e dos trabalhadores, que hoje se vive, resulta directamente «da estratégia do capitalismo neo-liberal que apresenta diversas vertentes. As privatizações, com destaque para os serviços que prestam serviços sociais de importância vital para as mulheres. O multiplicar das fusões com a criação de vagas de desemprego. A opção pelas actividades especulativas em detrimento das actividades produtivas».
Neste quadro, as participantes no encontro denunciam as políticas neo-liberais e afirmam que «só uma ruptura com essas polícia permitirá a promoção de uma política económica e social progressista que proteja e desenvolva as conquistas dos trabalhadores e os seus direitos sociais».
A resolução refere, em particular, a necessidade de pôr fim às discriminações, a necessidade de uma cultura de paz, de uma política e de uma cultura de protecção do ambiente e de uma Europa multicultural, «contra todas as formas de xenofobia e de racismo».
Reafirmando a determinação na luta pela emancipação feminina, como componente na luta por um mundo mais justo e solidário, o documento apela à participação na Marcha Mundial das Mulheres contra a Pobreza e a Violência.


«Avante!» Nº 1374 - 30.Março.2000