Fórum do PCP
defende coesão social e emprego com direitos
Europa
precisa de novo rumo
No dia em que se iniciava o Conselho Extraordinário sobre o Emprego, o PCP reunia em Lisboa 12 partidos comunistas e outras forças de esquerda e progressistas da Europa, num encontro subordinado ao tema «Coesão Social e o emprego com direitos».
O tom geral das intervenções foi logo dado por Gabriele Zimmer,
do Partido dos Socialismo Democrático, que depois de referir os
mais de quatro milhões de desempregados no seu país, afirmou
que a Cimeira de Lisboa representa uma oportunidade perdida para
alterar este quadro.
«Eles apenas estão a repetir as velhas concepções
neoliberais. Emprego precário e redução dos custos do trabalho
é esta a inovação das políticas europeias», disse
Zimmer que acusou os Quinze de pretenderem importar o modelo
americano de emprego, sem quaisquer direitos para os
trabalhadores.
Em nome do AKEL, do Chipre, Yannakis Thoma considerou que a
situação gravíssima da maioria dos países da Ásia, América
Latina e da antiga URSS é provocada pela globalização, que em
vez de aproximar afasta ainda mais os países mais frágeis.
Condenando as políticas neoliberais, Thoma considerou da máxima
importância que em contraposição à Cimeira que discute a
forma de tornar a Europa mais competitiva, se realize uma
manifestação sindical pelo emprego com direitos.
Susana Lopez, da Esquerda Unida, abordou a situação em Espanha
marcada pelo recente triunfo do Partido de Aznar e a derrota da
esquerda. Como observou, trata-se de um governo neoliberal que
aparece agora como o porta-voz das políticas da terceira via. Na
sua opinião, isto significa a assunção do modelo neoliberal
pela social-democracia.
Em consequência, por toda a Europa, onde os partidos
social-democratas controlam a maioria dos governos, assiste-se ao
neoliberalismo selvagem, ao desmantelamento da protecção
social, por vezes, salientou, «com a cumplicidade de algumas
centrais sindicais».
No actual contexto, Susana Lopez chamou a atenção para os
movimentos sociais emergentes alternativos, alguns dos quais têm
«uma atitude mais à esquerda que certos sindicatos e partidos
de esquerda», e deu como exemplo as movimentações de Seattle,
onde as OGN´s tiveram um papel particularmente destacado.
Distribuir a riqueza
Um destes movimentos
são as Euro Marchas, presente no encontro através de Hugo
Braun. Como referiu, o movimento é mais conhecido suas acções
contra o desemprego do que pelos seus debates. Apesar disso,
Braun foi claro ao salientar que «nunca haverá respeito pelos
direitos sociais sem uma nova distribuição da riqueza». As
manifestações são, no seu entender, a melhor forma de lutar
por este objectivo e combater o desemprego. Entre as acções
mais importantes das Euro Marchas destacam-se as acções
realizadas recentemente em Colónia, Paris e Nice.
Retomando a ideia já expressa de que a social-democracia integra
o coro daqueles que defendem e promovem uma economia de mercado
dominada pelos mercados financeiros, Alain Morin, do Partido
Comunista Francês, criticou as actuais orientações monetárias
e financeiras da Europa e frisou que as políticas monetárias
têm servido sobretudo para facilitar o aumento das operações
financeiras e das exportações maciças de capital, que
atingiram no ano passado o montante astronómico de 500 mil
milhões de euros, em investimentos nos estrangeiro.
O dirigente francês defendeu uma «inflexão da política
económica e social» do governo do seu país, de forma a
assegurar uma «maior coerência entre as intenções sociais
proclamadas e os meios a disponibilizar» para esse fim. Em vez
de «procurar rivalizar com os Estados Unidos, a União Europeia
poderia agir em prol de uma verdadeira cooperação mundial para
o emprego e para a formação», disse Morin.
A
arma mais poderosa
«O desemprego, sendo o inimigo mais terrível para milhões de
pessoas é, ao mesmo tempo, a arma mais poderosa nas mãos dos
capitalistas e dos governo para intensificar a exploração e
promover as reformas antilaborais», sublinhou Kostas Paraskevas,
do Partido Comunista da Grécia.
Nos últimos anos, o emprego tem sido utilizado na UE para
desferir um golpe contra os direitos laborais, sociais e
democráticos dos trabalhadores, sendo feito um esforço
gigantesco, ideológico e de propaganda, para esconder as causas
do desemprego, frisou.
A invocação do problema do desemprego, disse Kostas, constitui
uma nova operação que visa aumentar os lucros dos monopólios e
proceder a uma redistribuição do rendimento nacional mais
favorável ao capital. Neste sentido, assiste-se à
desregulamentação do horário de trabalho; à sua redução com
diminuição dos salários; à destruição dos sistemas de
protecção social; ao ataque contra os direitos e liberdades
sindicais; à tentativa de abolição da contratação colectiva.
Para o Partido Comunista da Grécia, «o sistema capitalista é
um verdadeiro campo de cultivo do desemprego e a sua abolição
não será possível sem a superação histórica deste sistema
social».
Aliás, explicou, sendo uma manifestação das crises
capitalistas, nunca até ao momento foi registado um período de
abolição completa, mesmo que momentânea, do desemprego.
Perante as propostas actuais que «oferecem cinicamente como
solução o semidesempregado, o semimiserável ou o
semiempregado», o PCG contrapõe um política de ruptura, a
qual, reconheceu Kostas Paraskevas, «não é nem ao gosto, nem
aceitável quer pelos governos, quer pelas forças políticas que
adoptam a economia de mercado livre, a dominação dos
monopólios, o tratado de Maastricht».
«Mais
emprego sim, mas com direitos»
Carlos Carvalhas, que interveio no final do encontro,
ironizou recordando que «no passado, dizia-se que tal ou tal
cidadão tinha um emprego em determinada empresa e que ainda
fazia uns biscates... Agora chamam emprego aos biscates. Para um
jovem estudante um emprego precário pode ser aceitável. Mas
para aquele que quer perspectivar o seu futuro, assegurar a sua
habitação e família que garantias lhe dá um trabalho
precário?», perguntou o líder comunista.
Exigindo «mais emprego, mas com direitos», Carvalhas disse que
«seria interessante que as estatísticas da União Europeia
quantificassem os falsos empregos, o trabalho clandestino e o
subemprego e não apenas o desemprego... Muito do emprego
revelado pelas estatísticas não passa de emprego precário e de
falso emprego. Não passa, infelizmente de engenharia e
criatividade estatística para consumo propagandístico».
«O emprego virtual pode decorar os discursos do Senhor Primeiro
Ministro, mas não altera a realidade», sublinhou Carvalhas
afirmando que não se compreende que «Portugal esteja no lugar
cimeiro entre os países da União Europeia em que é maior o
fosso entre os 10 por cento mais ricos e os 10 por cento mais
pobres da sociedade».
Por outro lado, o secretário geral do PCP considerou que a
chamada nova economia, na prática, significa o seguimento da
«política neoliberal, a privatização de novos sectores e a
imitação do modelo americano com muita retórica social.
O que se pretende é fazer passar o chamado modelo americano embrulhado
com belas palavras sobre o desemprego. Isto é, aumentar a
ofensiva contra os salários, contra os direitos dos
trabalhadores e contra os sindicatos».
Por isso, concluiu, «é necessário mudar de rumo, o que
exige acção comum, mais ofensiva e uma cada vez maior
cooperação das forças revolucionárias e de esquerda e o
desenvolvimento da luta social, sindical, política e
institucional».