O caminho certo
Confirmando o alerta insistente do PCP no
decorrer da última campanha eleitoral altura em que,
tendo subido os preços do petróleo, o Governo do PS,
«surpreendentemente», não aumentou os combustíveis
estamos agora perante um aumento que é, talvez, o mais brutal da
história insólita dos aumentos de combustíveis em Portugal.
Como se sabe, regra geral os preços dos combustíveis no nosso
País sobem sempre, quer o preço do petróleo desça, suba ou se
mantenha estacionário. Assinala-se apenas uma excepção em que,
face a uma baixa do petróleo um governo diminuiu o preço dos
combustíveis em 1$00... O alerta do PCP, em Outubro do ano
passado, altura em que os preços do petróleo haviam subido,
incidia no desmascaramento do carácter eleitoralista do «não
aumento» então decidido pelo Governo: a obsessão do PS pela
maioria absoluta, a ânsia doentia de encerrar Portugal nas
«boas mãos» de António Guterres, geraram um clima de «vale
tudo» que assumiu, aliás, expressões concretas em toda a
prática do Governo do PS no decorrer dessa campanha eleitoral.
Os aumentos agora decididos hipocritamente executados
depois da aprovação do OE e depois de fixadas as tabelas
salariais designadamente da Administração Pública - dando
razão à denúncia atempadamente feita pelo PCP, evidenciam a
irresponsabilidade do Governo e confirmam a lógica eleitoralista
que preside à sua prática de todos os dias.
A reacção dos portugueses à brutal
decisão foi, naturalmente, muito forte e demonstrativa do
crescente mal estar face ao prosseguimento de uma política que
faz incidir todas as suas consequências negativas sobre quem
trabalhe e vive do seu trabalho. De tal forma que o Governo
estremeceu, enervou-se e deu sinais de preocupante pendor
autoritário. E quando o «buzinão» foi anunciado, a situação
atingiu foros de pânico. O Primeiro Ministro, como vem sendo seu
hábito, ausentou-se para o estrangeiro, não sem antes, para se
«poupar ao ruído quotidiano», designar um «porta-voz» do
Governo para o caso o Ministro Jorge Coelho que passa a
acumular esta função a muitas outras, nomeadamente a de
coordenador da Comissão Permanente do PS... O Ministro da
Economia e das Finanças, cabisbaixo, sentiu necessidade de vir
confessar-se publicamente: «Identifico-me com o desconforto dos
portugueses», disse ele. E, num titubear que só acentuou os
medos de que estava possuído, lá foi gaguejando a promessa de
que se o preço do barril de petróleo baixar dos 20 dólares «o
Governo está em condições de garantir que voltará a baixar os
preços dos combustíveis». (Importa dizer que, segundo
previsões anunciadas, até ao final do ano os preços andarão
entre os 20 e os 25 dólares por barril...). Por seu lado, o
Ministro da Administração Interna, em pose de «Ministro do
Interior», severo e ameaçador, avisou que «as forças de
segurança estão preparadas para intervir». Contra quê e
contra quem? E a que pretexto?.
A imagem de um governo desgovernado generaliza-se e
os próprios membros do elenco governamental têm consciência
disso. Vários comentadores assinalam o fim do «estado de
graça» do Governo do PS e o início de um fatal «estado de
desgraça». Ministros até agora considerados como portadores de
qualidades e capacidades excepcionais, passam, de um dia para o
outro, a ser vistos como «medíocres» e qualquer garoto está
em condições de lhes apontar a nudez evidente. António
Guterres, cada vez mais auto convencido de que é Presidente do
Conselho da Europa, passeia-se por tudo quanto é sítio,
repetindo o seu discurso-tipo, exibindo uma dimensão poliglota
que, ao que parece, já abarca o árabe e correndo sérios
riscos de esquecer o português. Diz-se que a capacidade do
Ministro Pina Moura está muito longe de chegar para acumular as
pastas da Economia e das Finanças e há, até, quem ponha em
causa que chegue mesmo para uma só dessas pastas e as
fotografias e imagens que dele nos têm chegado nos últimos dias
parecem confirmar que o próprio partilha essas opiniões... E
por aí fora.
Entretanto, e essa é a questão essencial,
a política de direita causa de todos os problemas e
dificuldades que afligem o povo português - prossegue e com ela
acentua-se o agravamento das condições de vida e de trabalho da
maioria dos portugueses. Daí o prosseguimento e a
intensificação da luta dos trabalhadores, envolvendo sectores
vários de actividade e assumindo expressão e dimensão
assinaláveis. Daí o imenso «buzinão» que, na Segunda feira
ecoou por todo o País. Daí, igualmente, a pertinência das
três grandes reclamações avançadas pela Comissão Política
do PCP visando: a actualização dos aumentos de salários de
forma a evitar a degradação dos salários reais dos
trabalhadores; o controlo das repercussões do aumento dos
combustíveis nos preços de outros produtos, bens e serviços; a
contenção de novos aumentos de preços dos transportes
públicos e em especial dos passes sociais.
Como sublinhou o Secretário Geral do PCP na sua intervenção na
Assembleia da Organização de Santarém, «não podem ser os
trabalhadores e as populações de mais fracos rendimentos a
pagarem os custos de uma política irresponsável». A
actualidade dos objectivos da campanha nacional do PCP -
«melhores salários, emprego com direitos, mais valor ao
trabalho» - é flagrante. Pelo que, continuar, intensificar e
ampliar a luta de massas é o caminho certo para uma eficaz
resposta à política de direita e às suas consequências.