Jugoslávia
Conferência de Belgrado



A Conferência Internacional que recentemente reuniu em Belgrado - por ocasião do primeiro aniversário da agressão da NATO à Jugoslávia - cerca de uma centena de personalidades oriundas de 38 países da Ásia, América, África e Europa foi uma Conferência atípica em quase tudo.

Não houve praticamente debates, não obstante algumas das comunicações apresentadas serem de muito interesse pela quantidade e significado da informação, inédita para a maioria dos participantes. Foram sobretudo os membros da delegação russa - 19 entre 40 representantes do mundo eslavo (excluindo os 15 jugoslavos que representavam o Instituto de Política e Economia Internacional, promotor da iniciativa) - que levaram ao Seminário informações que contribuíram para iluminar melhor não somente o quadro em que se desenvolveu a agressão de que a NATO foi um mero embora terrível instrumento, como também o papel desempenhado pelo governo da Federação Russa nas negociações.
Da América chegaram informações de outro tipo, não menos esclarecedoras: as relativas à premeditação da agressão no âmbito de uma estratégia planetária concebida com larga antecedência e executada com rigor científico. Foram transmitidas por um norte-americano, John Catalinotto - colaborador de Ramsey Clark no International Action Center de Nova York - e o canadiano Michel Chossudovsky, um dos mais prestigiados economistas e cientistas sociais do nosso tempo, que iluminou as tarefas cumpridas pela CIA nos bastidores da agressão. (Ver artigo de Miguel Urbano Rodrigues nas páginas centrais).


A única moção

Não houve Declaração Final. A Conferência findou com uma breve intervenção do vice-presidente do Instituto Internacional de Política e Economia, entidade promotora.
Sob proposta de Miguel Urbano Rodrigues (Portugal) e Anne Morelli (Itália ), o presidente da sessão plenária aceitou como documento da Conferência a seguinte moção apresentada pelo primeiro:
«Os participantes na Conferência Internacional, reunidos em Belgrado no dia 26 de Março de 2000:

1. Constatam que a informação sobre a Jugoslávia foi quase sistematicamente apresentada de modo parcial, em desrespeito às normas de objectividade;
2.
Manifestam inquietação pela diabolização internacional de que a Jugoslávia e o povo sérvio em especial foram vítimas;
3.
Apelam à vigilância dos intelectuais para que recusem a visão parcial do conflito;
4.
Expressam inquietação perante a possibilidade de alastramento a outros países «insubmissos» da estratégia empregada para desagregar a Jugoslávia e forçá-la a entrar na órbita da NATO;
5. Expressam igualmente a sua grande preocupação ante a possibilidade de ver essa estratégia de poder do imperialismo norte-americano criar no mundo, mas, a partir de agora sobretudo em outras áreas do Leste Europeu, nomeadamente na Rússia, novos conflitos que possam ameaçar a humanidade no seu conjunto, tal como o fizeram as potências do Eixo antes e durante a segunda guerra mundial.»


«Avante!» Nº 1375 - 6.Abril.2000