Relatório do PE alarga prazo de transição para a liberalização da banana
Um comércio cobiçado



Desde há muito que o regime comunitário de importação de bananas é alvo das críticas dos Estados Unidos que pretendem a todo o custo eliminar as normas proteccionistas e impor a total liberalização deste mercado.

Em Abril de 1999, a Organização Mundial do Comércio «julgou discriminatório o novo regime comunitário de importação de bananas», dando assim razão à queixa dos EUA que ficaram em posição poder tomar medidas de retaliação comercial de quase 200 milhões de dólares contra a União Europeia.
Para além dos Estados Unidos, o regime foi contestado pelos países exportadores da banana-dólar da América Latina (Colômbia, Costa Rica, Venezuela, Nicarágua e Guatemala), mas também por alguns Estados-membros, grandes consumidores e importadores de bananas como a Alemanha, Suécia e a Finlândia.
É neste quadro que a Comissão Europeia propõe uma nova reforma da organização comum da banana (COM), a quinta desde a sua criação em Julho de 1993, pretendendo uma espécie de quadratura do círculo: a criação de um mercado único com preços razoáveis ao consumidor; o respeito pelos compromissos com os países de África, Caraíbas e Pacífico; a garantia da preferência comunitária e o respeito das obrigações da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Deste modo, a comissão propõe manter o actual regime de contigentes pautais por um período transitório de seis anos, findo o qual passaria automaticamente para um único pautal a negociar na próxima ronda da OMC. Para além dos dois contingentes para países terceiros, a Comissão pretende abrir um outro para o conjunto dos países fornecedores, deixando o regime de certificados de exportação de basear-se nas «referências históricas» para adoptar o critério do «primeiro a chegar, primeiro a ser servido».
Segundo o Comissário Fischler, esta proposta permitira dar tempo aos produtores comunitários e ACP para se adaptarem ao novo regime. O comissário considera também que «os produtores comunitários não serão afectados, uma vez que as ajudas compensatórias têm conseguido garantir o escoamento da produção e os rendimentos dos produtores mesmo em anos difíceis, como o de 1999». Este foi o teor de uma resposta do Comissário a uma pergunta escrita da deputada do PCP, Ilda Figueiredo.


Liberalização
perigosa

No entanto, com a progressiva liberalização bilateral e multilateral do comércio agrícola, um regime unicamente pautal conduzirá a um aumento das exportações de banana para a UE, provocando uma baixa de preços, incomportável para os produtores comunitários. por outro lado, com os contínuos cortes e restrições orçamentais sobre a despesa agrícola dos Quinze, será difícil de imaginar que os recursos financeiros para a banana pudessem aumentar de modo a compensar na íntegra o efeito da abertura do mercado.
Acresce que os produtores comunitários e dos países ACP têm custos de produção mais elevados, até porque cumprem requisitos ecológicos e sociais, ao contrário dos seus congéneres da América Latina, que são dominados por um punhado de grandes multinacionais. Estas, com os seus meios logísticos e técnicos, têm muito mais facilidade de obter os certificados de importação se vigorar o critério do «primeiro a chegar, primeiro a ser servido».


Garantir
os rendimentos

Contrariando o actual sentido da Comissão, o relatório do deputado francês Michel Dary, do PSE, apresenta propostas menos gravosas para o sector que obtiveram a unanimidade dos votos da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu. Entre outras medidas, o relatório propõe o alargamento do período transitório até 2010 e exclui a passagem automática para um regime unicamente pautal.
Votado no passado dia 27 de Março, o documento sofreu várias alterações, duas das quais subscritas pela deputada do PCP Ilda Figueiredo, e voltará a ser discutido e votado entre os dias 10 a 14 do corrente mês, desta vez na sessão plenária do Parlamento Europeu.
As propostas apoiadas pelo PCP prevêem que a Comissão apresente de dois em dois anos uma avaliação das consequências do novo regime sobre os produtos comunitários e ACP, devendo, em caso se impacto negativo, ser corrigidas as ajudas compensatórias de foram a garantir o escoamento da produção e os rendimentos dos produtores.

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Proteger a batata


As dificuldades de escoamento e os baixos preços da batata afectam milhares de agricultores europeus, nomeadamente da pequena agricultura e agricultura familiar. Como o sector não se encontra regulamentado na União Europeia, os efeitos das crises cíclicas acabam por ser suportados pelos produtores que vêem os seus rendimentos fortemente reduzidos.
Neste quadro, o Grupo Confederal da Esquerda Unitária, onde se integra o PCP, entende como indispensável a criação de uma Organização Comum de Mercado no sector da batata e insta a Comissão a apresentar uma proposta nesse sentido no prazo de seis meses, com os meios financeiros para a sua concretização.
A medida tem como objectivo garantir os rendimentos dos agricultores e responder às crises cíclicas através de mecanismos eficazes de regulação e de reequilíbrio dos mercados. Como se refere na proposta, o único instrumento hoje existente (a transformação de batata em fécula), não responde às necessidades gerais do sector, despendendo anualmente cerca de 220 milhões de euros do orçamento comunitário.


«Avante!» Nº 1375 - 6.Abril.2000