Estudantes universitários não baixam os braços na luta contra a política educativa do Governo
Contestação sobe de tom



As acções de protesto contra a política educativa prosseguem por todo o país. Lisboa, Coimbra e Faro surgem à cabeça da contestação.


Dois mil alunos concentraram-se em frente à sede do Ministério da Educação, no dia 5, numa acção de protesto convocada por 20 associações de estudantes das universidades Clássica, Técnica e Nova de Lisboa. Mais acção social, melhores instalações, qualidade de ensino, aumento dos cursos nocturnos e a revogação da lei de financiamento foram as principais reivindicações.
Algumas escolas secundárias associaram-se à manifestação. «Estamos aqui porque esta também vai ser a nossa luta e aproveitamos para reafirmar outra luta do secundário: a contestação à revisão curricular», afirmou um aluno da Escola Secundária Luisa de Gusmão, à Lusa.
Com as mesmas exigências, cerca de mil e quinhentos estudantes da Universidade de Coimbra e da Escola Superior de Educação participaram numa manifestação entre o Largo D. Dinis e o Governo Civil, na quinta-feira.
«SOS Ensino Superior», «Lei de Financiamento, revogação já» e «Ministro sem nível não é elegível» foram algumas das palavras de ordem. Os estudantes entregaram um documento sobre a situação da universidade ao governador civil, denunciando os «graves problemas financeiros» principalmente nas faculdades de Farmácia, Letras, Psicologia e Economia e a falta de instalações adequadas «para uma prática lectiva condigna» nas faculdades de Desporto, Direito e Farmácia.
O Sindicato dos Professores da Região Centro associou-se ao protesto, considerando que apenas uma escola pública pode garantir uma educação de qualidade. Mário Nogueira, dirigente sindical, encontrou-se com os estudantes na Praça da República e manifestou o apoio do sindicato na luta por um ensino superior de qualidade.


Faro

Nessa mesma noite, centenas de alunos da Universidade do Algarve percorreram as ruas de Faro, entre o campus universitário da Penha e o Governo Civil, numa manifestação silenciosa convocada pela Associação Académica.
De velas acesas na mão, os estudantes deixaram claro que, apesar de não concordarem com a actual lei de financiamento do ensino superior, o Governo tem de ser penalizado porque não está a cumprir a sua parte. Na porta principal do Governo Civil foram deixadas 63 velas, simbolizando o valor das propinas.
Recorde-se que esta associação pretende pôr o Governo em tribunal por má utilização do dinheiro das propinas e vai apresentar uma providência cautelar contra a universidade pelo mesmo motivo.

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Trabalhadores-estudantes exigem cursos nocturnos


As associações de estudantes das faculdades de Lisboa de Direito, de Ciências, de Letras, de Arquitectura, do Instituto Superior Técnico e do Instituto Superior de Economia e Gestão entregaram na semana passada uma carta ao Ministério da Igualdade pedindo o cumprimento da lei relativa aos trabalhadores-estudantes e exigindo a criação de cursos nocturnos.
Ricardo Mata, representante da ae da Faculdade de Ciências, afirmou à agência Lusa que em causa está o encerramento de cursos nocturnos e a sua inexistência, numa situação claramente em contradição com a lei, que prevê a sua abertura desde que o número de alunos trabalhadores o justifique.
Só no ano lectivo 1998/99, inscreveram-se na época especial de exames desta faculdade 1800 trabalhadores-estudantes. De acordo com Ricardo Mata, estas reivindicações contam com o apoio do Conselho Pedagógico.
«O ensino privado abre cursos nocturnos porque sabe que há mercado», afirma Vítor Neves, da Federação Nacional dos Trabalhadores-Estudantes (FNATES), que adianta que os alunos nesta situação pagam mais propinas do que os restantes. Isto verifica-se porque os cursos em regime pós-laboral têm uma duração mais longa. Por exemplo, as licenciaturas de cinco anos passam a sete anos, apesar do número de disciplinas ser idêntico.
A FNATES diz que os trabalhadores-estudantes de uma licenciatura pagam mais 40 por cento das propinas, enquanto num bacharelato pagam mais 66 por cento.


«Avante!» Nº 1376 - 13.Abril.2000