Populações contra
aterro
A
serra é dos serranos!
As populações de Bigorne e Lazarim diversificam formas de luta contra a construção do aterro de Bigorne na zona prevista e contam agora também com o apoio do Secretariado dos Baldios.
Centenas de populares de Bigorne e Lazarim preparam-se para
realizar, no próximo domingo, uma manifestação de protesto
durante a realização do Conselho Informal dos Ministros do
Ambiente da União Europeia, no Porto.
Este um dos desenvolvimentos da luta contra a localização do
aterro do Douro Sul em Ribeira de Lamas e que tem vindo a
mobilizar muitos populares no próprio local em que se processam
as obras, desdobrando-se ainda em diferentes iniciativas legais,
de sensibilização e de mobilização. No passado dia 30 de
Março, mais de 400 agricultores e compartes participaram num
desfile e numa concentração em Viseu.
No centro destas diferentes formas de protesto está a forma como
o Governo e a Associação de Municípios do Vale do Douro-Sul
pretendem impor a construção do aterro sanitário num local que
as populações contestam (por razões de água, pastorícia,
agricultura, ambiente, paisagem) e diversos estudos científicos
e pareceres técnicos desaconselham.
A luta popular contra a instalação do aterro de Bigorne
desenvolve-se há mais de três semanas, num permanente frente a
frente com o forte dispositivo repressivo composto por dezenas
guardas da GNR, cavalos e cães. Um dispositivo que se mantém
apesar do acordo entretanto obtido com o compromisso, por parte
da GNR, de não mexer nas estacas e arames colocados pelos
populares para delinear «terrenos privados, que não podem ser
trespassados pelas máquinas».
As máquinas da empresa responsável pela construção do aterro
mudaram entretanto de traçado, por força da decisão do
Tribunal de Lamego, que deu entretanto razão a uma providência
cautelar de um dos proprietários. Mudança que parece ser ainda
mais gravosa pois, segundo o presidente da Junta de Lazarim,
nenhum dos terrenos agora trespassados faz parte da lista de
parcelas abrangidas pela utilidade pública que permitiu as
expropriações. Em causa estão também alguns hectares de
terrenos baldios no local do aterro, o que levou as comissões de
compartes, órgãos que legalmente gerem as terras comunitárias,
a entrar mais activamente nesta luta.
A luta continua
Os tribunais são
neste momento um dos locais em que se concentram as acções de
protesto contra o aterro. Esta segunda feira entraram mais duas
providências cautelares no Tribunal de Lamego, com o objectivo
de «garantir que os proprietários não terão os seus bens
violados».
Por outro lado, na manifestação realizada no passado dia 30 de
Março, com o apoio da BALFLORA Secretariado dos Baldios
do Distrito de Viseu, e da CNA Confederação Nacional da
Agricultura, foi aprovado um documento dirigido ao Primeiro
Ministro, aos ministros do Ambiente e da Administração Interna
e ao Governador Civil de Viseu de protesto contra a forma
«antidemocrática, prepotente e repressiva» com que o Governo
quer impor às populações a localização do aterro sanitário
em Bigorne e onde se reclama a interrupção deste processo, a
escolha - após auscultação às populações -, de um local
alternativo e o apoio à agricultura familiar e de montanha, ao
desenvolvimento dos baldios e à defesa do mundo rural.
Uma manifestação em que os populares desfilaram debaixo das
suas capuchinhas, trajes típicos da Serra de Montemuro, como
símbolo da luta dos povos serranos pelos seus direitos.