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A deslocação que Mikhail Gorbatchov fez a Lisboa na semana passada, dez anos decorridos sobre o desfecho dos acontecimentos que conduziram à implosão do socialismo na URSS e noutros países do Leste, foi a oportunidade escolhida para desenrolar no nosso país um pouco inovador programa revivalista.
Compreende-se bem o interesse e a alegria evocativa de quantos ajuizam esses acontecimentos como a derrota definitiva do ideal comunista e vivem na refastelada tranquilidade de que o capitalismo representa o final da história. E Mikhail Gorbatchov, a quem coube protagonizar de 1985 até 1991 e com indiscutível quota-parte de responsabilidade individual, o desnorte dos últimos anos e a derrocada do modelo estalinista de sociedade e de partido que conduziu à degenerescência do processo iniciado com a revolução socialista de Outubro de 1917, presta-se sem dificuldade a ser apresentado como «herói» ou como «bandido» – consoante os lados – a que alguns espíritos, de forma simplista, pretendem reduzir o problema.
Pretender apresentar uma personalidade como «causa», mesmo quando se admite que não foi a única, de acontecimentos históricos que envolveram centenas de milhões de trabalhadores e dezenas de povos e tiveram a dimensão do afundamento de um sistema político e social que se estendia de Berlim a Vladivostoque , no Pacífico, constitui uma postura tipicamente idealista.
Quando o que é necessário é prosseguir a análise desses acontecimentos mas com base no materialismo histórico, cujos fundamentos foram desenvolvidos por Marx, Engels e Lénine, na linha da apreciação iniciada no XIII Congresso do PCP, em 1990, em que atribuímos o «terramoto» que então vivemos ao facto de ter havido partidos comunistas que se tinham afastado dos ideais comunistas, cometido erros gravíssimos, isolado dos respectivos povos e por isso sido afastados do poder. Edgar Correia


«Avante!» Nº 1376 - 13.Abril.2000