Voto dos
emigrantes nas eleições para o Presidente da República
Lei
deve definir universo eleitoral
O voto dos emigrantes nas presidenciais voltou à agenda política. Em debate estiveram diplomas do Governo, do PSD e do CDS/PP. A separação de águas fez-se sobretudo em torno da magna questão relativa ao universo eleitoral.
Foi aqui que as opiniões divergiram profundamente, com a bancada
comunista a marcar a diferença. Quer em relação às propostas
oriundas dos partidos da direita parlamentar, quer às
preconizadas pelo Executivo. No primeiro caso, como salientou
António Filipe, definindo a posição do PCP, por razões de
«grosseira inconstitucionalidade». É que são eleitores do
Presidente da República, segundo a proposta do PSD e do PP,
todos os que se recenseiam , adquirindo por essa via os laços
necessários de ligação à comunidade nacional.
«Resolvem a questão com um penada», observou, antes de fazer
notar que num assunto da maior seriedade como é o da eleição
do Presidente da República tem de haver na lei eleitoral «todo
o rigor» na definição de quem tem capacidade eleitoral e na
regulação do processo «por forma a não deixar dúvidas sobre
a democraticidade e a veracidade da eleição».
Quanto à proposta do Governo, para além de legítimas dúvida
quanto à constitucionalidade de algumas soluções, subsiste a
falta de definição quanto ao universo eleitoral. Trata-se,
aliás, como lembrou António Filipe, de uma pecha antiga que vem
desde a última revisão constitucional, quando o PS na «ânsia
de ceder ao PSD» aceitou uma norma constitucional sobre a
eleição presidencial que deixou em aberto a definição precisa
daquele universo.
É nessa indefinição que o Governo parece continuar a apostar,
deixando a questão em aberto através da formulação de
conceitos vagos. Já depois do debate, em conversa com o
«Avante!», António Filipe considerou esta posição
«perigosa», porquanto, admitiu, «pode abrir caminho a
eventuais entendimentos ulteriores entre o PS e o PSD». Isto
porque, alertou, se a Lei não determina com rigor o universo
local, «cabe perguntar quem poderá fazê-lo».
Questão central no debate foi ainda a do voto presencial. Desde
sempre defendido pelo PCP como um garante de rigor e de seriedade
no acto eleitoral, o voto presencial foi também agora
considerado pelo Governo como fundamental, chegando mesmo o
Ministro Alberto Martins a reconhecer a eventual falta de
fiabilidade do voto por correspondência. O PSD e o PP são
totalmente permissivos nesta matéria.