O "macboss"
Por Bernardino Soares
Na recente interpelação do PCP ao Governo sobre a
qualidade do emprego, o combate à precariedade, a defesa dos
salários e a efectivação dos direitos laborais, uma das
questões discutidas foi a da situação dos jovens
trabalhadores. E com toda a justificação. Os jovens são hoje
dos mais atingidos pelas políticas neo-liberais de maximização
do lucro à custa de uma exploração cada vez maior dos
trabalhadores.
Isso verifica-se
desde logo na questão da precariedade. Dos 650 mil trabalhadores
em situação precária a maioria serão jovens. E a precariedade
juvenil aumenta em ritmo acelerado. A percentagem de jovens entre
os 15 e os 25 anos a trabalhar em regime precário aumentou de
37% em 1998 para 41% em 1999. Na verdade torna-se cada vez mais
difícil encontrar um jovem que, nos primeiros anos da sua vida
laboral, não esteja sujeito a uma situação de vínculo
precário. Trabalhar em regime de contrato a prazo, por períodos
por vezes muito curtos, em regimes de trabalho temporário, à
tarefa e até tantas vezes sem qualquer tipo de vínculo passou a
ser o destino anunciado da juventude portuguesa.
E não se pense sequer que este problema só afecta os jovens
trabalhadores com menores níveis de escolaridade ou formação.
A estes se juntam cada vez mais os que têm formação superior e
que nem por isso escapam ao mesmo destino de precariedade e
insegurança, bem como a uma considerável taxa de desemprego.
E esta precariedade deixou há muito de ser um exclusivo do
sector privado. É o próprio Estado que nos serviços públicos,
e quase sempre para preencher funções permanentes, lança mão
deste tipo de vínculos.
A discriminação dos jovens começa logo na lei. Os contratos a
prazo, supostamente só seriam admissíveis para necessidades de
trabalho temporário e não para ocupar postos de trabalho
efectivos. Mas é a própria lei em vigor que possibilita ao
patronato contratar a prazo tratando-se de jovem à procura do
primeiro emprego. Está assim instituída uma discriminação
apenas em função da idade e que abre um filão largamente
explorado pelos patrões.
O discurso que sustenta esta política é um verdadeiro
escândalo. Para o Governo a precariedade juvenil não é um
problema em si; não oferece qualquer preocupação especial.
Mais ainda, tal situação pode ser uma vantagem para a procura
de melhores oportunidades de emprego! Esta linha de intervenção
é tudo menos inocente. Antes procura a todo o custo instalar -
especialmente entre os jovens - a convicção de que a
precariedade é inevitável e desta forma generalizar a sua
prática e a sua aceitação.
Os constantes apelos para que o aumento da competitividade se
faça pelo recurso aos baixos salários, à diminuição de
direitos e a uma cada vez maior precariedade laboral fazem da
defesa do emprego com direitos uma batalha fundamental dos nossos
dias. Com a cada vez maior generalização da precariedade
juvenil o que está em causa não é apenas a exploração
desenfreada dos jovens de hoje. Trata-se também de criar um
quadro futuro que generalize o emprego sem direitos a todos os
trabalhadores, deixando-os mais sujeitos aos interesses do
capital.
Há alguns anos esteve na moda um livro chamado "Geração
X". Nele se falava do "macjob", isto é, emprego
mal pago, sem dignidade e sem futuro. Tais empregos eram assim
chamados por referência aos empregos que oferece uma certa
cadeia alimentar. Pois bem os "macjobs" aí estão em
cada vez maior número e devidamente apadrinhados, mesmo no
sector público, pelo Governo do PS. Assim se converteu o Eng.
Guterres num verdadeiro "macboss".