Manifestação
no Porto
De
coração aberto e alma amargurada
Cerca de um milhar de agricultores e de populares de Bigorne, Lalim e Lazarim concentraram-se, sábado passado, frente à Alfândega do Porto, onde decorria o conselho informal dos ministros do Ambiente da União Europeia sobre ambiente urbano. Uma manifestação debaixo de chuva para exigir uma outra política agrícola e ambiental.
«Um mundo rural vivo é decisivo para a qualidade
de vida na cidade», lembraram centenas de manifestantes, numa
iniciativa organizada pela CNA Confederação Nacional da
Agricultura e associadas, ARP Aliança para a Defesa do
Mundo Rural Português e pela recém constituída MARP
Associação das Mulheres Agricultoras e Rurais Portuguesas.
As exigências de uma agricultura familiar a braços com uma
grave crise, cruzaram-se com os protestos das populações contra
a imposição do aterro sanitário em Bigorne, sem que o governo
admita sequer considerar a alternativa existente a um quilómetro
apenas.
«Repressão e Ministério do Ambiente num aterro longe da
gente», «O povo assim não se engana», eram algumas das
expressões utilizadas nos cartazes para exprimir a profunda
indignação de quem veio ao Porto «de coração aberto mas com
a alma um pouco amargurada», dizer «alto e bom som que não
estamos nada de acordo com estas políticas agrícolas e com
certas políticas ambientais», como se afirma em carta dirigida
ao Ministro do Ambiente.
Os agricultores e as populações de Bigorne lembram que é a
pequena agricultura familiar que está a pagar «uma pesada e
perfeitamente injusta factura», enquanto «os grandes
poluidores e consumidores de grandes recursos naturais, a grande
indústria, a agricultura e a floresta industriais e intensivas»
continuam, quase impunemente, a poluir e a delapidar recursos.
O protesto centrou-se particularmente na forma «arrogante,
ilegal e antidemocrática» como o aterro sanitário de Bigorne
tem vindo a ser imposta às populações, presentes ma
manifestação «em peso e de corpo inteiro».
Na carta «em defesa as agricultura, do ambiente e do mundo
rural», sublinha-se que a agricultura familiar, «produtora de
bens alimentares em comunhão com a natureza e em respeito pela
biodiversidade», continua a ser prejudicada, muito embora a sua
ruína arraste a «desertificação humana e ambiental» nos
campos, com as conhecidas consequências «do agravamento da
exclusão social, da sobrecarga urbana, da degradação do
ambiente e de qualidade de vida dos cidadãos em geral».
Um sentido alerta que continua a ser ignorado pelas instâncias
governamentais.