Dezenas de
feridos
Protestos
em Washington
contra a globalização
Milhares de pessoas manifestaram-se domingo, em Washington, contra a globalização da economia e por uma nova política a favor dos mais desfavorecidos.
A tradicional reunião da Primavera no Fundo Monetário
Internacional (FMI) dos ministros das Finanças dos sete países
mais ricos do mundo (G7) ficou este ano assinalada por fortes
protestos populares, que só não conseguiram impedir o evento
devido ao recurso por parte das autoridades do maior dispositivo
de segurança visto em Washington nos últimos anos. Desde
sábado que o quarteirão onde se situa o FMI e o Banco Mundial
em Washington foi completamente isolado pelas forças de
segurança e forças anti-motim, reforçadas por tanques e
helicópteros. Manifestantes e polícias envolveram-se numa
verdadeira batalha campal, que se saldou por vários feridos e
centenas de detenções.
Segundo a policia o número de manifestantes variou entre os seis
mil e 10.000, enquanto os organizadores disseram que no protesto
participaram 20.000 pessoas.
Para dispersar os manifestantes, os cerca de 2.000 polícias
colocados em frente da sede do utilizaram gás lacrimogéneo,
segundo testemunhas, e gás irritante, de acordo com a polícia.
Uma fonte policial,
citada pela Lusa, disse que os detidos, retirados do local em
pelo menos sete autocarros escolares, serão acusados de
«manifestação sem autorização e recusa em dispersar, entre
outras coisas».
A manifestação, convocada por organizações
não-governamentais, sindicatos, ecologistas, feministas,
defensores dos direitos das minorias e grupos religiosos,
pretendia boicotar a Assembleia Semestral do Banco Mundial e do
Fundo Monetário Internacional, acusados de serem responsáveis
pelas políticas de ajuste estrutural que aumentam a pobreza no
terceiro mundo e os principais instrumentos de uma globalização
que afoga os países pobres e beneficia as grandes empresas.
Contradições
Indiferente aos
protestos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que o
«relógio» da globalização «não pode ser parado» e que se
devem desenvolver esforços para atenuar a dívida dos países
pobres. Segundo o presidente do Comité Financeiro e Monetário
Internacional (CFMI), o britânico Gordon Brown, a melhor forma
de reduzir a pobreza no mundo é «continuar com o fortalecimento
da cooperação económica». No final da reunião de domingo
entre a Assembleia do FMI e Banco Mundial (BM), Brown disse que
este organismo «não ouviu» os protestos dos milhares de
activistas que se manifestaram no exterior do edifício, que não
afectaram o debate nem a sua agenda. Para Brown, «a mensagem a
enviar a essas pessoas é que a melhor forma de avançar na
redução da pobreza é criar uma maior estabilidade económica e
não retroceder na economia global». «Estamos decididos a
conseguir acções mais afectivas no alívio da divida e a
reduzir os riscos das crises financeiras», disse Brown.
Reacção diferente teve o presidente do Banco Mundial, James
Wolfenshon, que afirmou não entender os protestos. «É
desmoralizante que haja uma mobilização como esta pela justiça
social quando isso é exactamente o que nós fazemos», disse.
O comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pedro Solbes,
afirmou por seu turno que compreendeu «a importante mensagem
enviada por uma parte da população», e garantiu que a União
Europeia está «disposta a fazer tudo o que for possível» para
conseguir «uma expansão económica global, e que os dirigentes
reunidos em Washington partilham com os manifestantes a sua
preocupação por um desenvolvimento sustentado para todos.
As aparente divergências entre os representantes dos principais
protagonistas do encontro não perturbou os trabalhos. Como
estava previsto, procedeu-se à análise do relatório de
perspectivas apresentado a semana passada pelo Banco Mundial, que
prevê uma expansão económica global com um crescimento de 4,25
por cento, e debateram-se as reformas a levar a cabo pela
instituição.
Em debate estiveram igualmente os planos para ajudar a aliviar o
endividamento dos 41 países mais pobres do mundo, completamente
asfixiados pelo peso da sua dívida externa.
_____
A favor do capital
Criados após a Segunda Guerra Mundial, o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional são acusados em todo o mundo pelas
forças progressistas não só pelo secretismo das suas decisões
mas sobretudo pelas respectivas intervenções, que apesar de
feitas em nome da ajuda internacional favorecem e reforçam os
interesses do grande capital em detrimento dos interesses dos
povos.
Apesar de mais pequeno, o FMI - com 182 países membros, 2200
funcionários e 90 000 milhões de dólares em empréstimos - é
mais influente do que o Banco Mundial, que conta com 181 membros
e 200 000 milhões de dólares investidos em todo o mundo,
geridos por 11 300 pessoas. É o FMI que intervém nos países em
crise, condicionando as suas «ajudas» a planos draconianos que
não têm em conta os efeitos sociais. O Banco Mundial financia
sobretudo projectos de desenvolvimento.