Crise agrava-se
com o assassinato de dois membros da oposição, queimados vivos
no sábado
Caos no
Zimbabwe
Vinte anos depois da independência, o Zimbabwe está a beira do caos. Apoiada por Mugabe, a ocupação de terras foi considerada ilegal pelos tribunais.
O presidente Robert Mugabe nega-se a acatar a ordem do Supremo
Tribunal para que termine a ocupação ilegal de propriedades
agrícolas da minoria branca que está a ser levada a cabo por
veteranos da guerra da independência, cujo 20º aniversário
passou anteontem. Entretanto a violência continua a aumentar. No
sábado, um fazendeiro branco foi assassinado a tiro e dois
negros conotados com o Movimento para a Mudança Democrática
(MDC), principal partido da oposição, foram queimados vivos no
carro em que se encontravam, incendiado com um cocktail Molotov.
«Sei que se espera que diga aos veteranos de guerra que saiam
das terras ocupadas. Não vou fazer nem dizer semelhante coisa»,
afirmou Mugabe no domingo, acrescentando que os brancos não
poderão resistir à invasão porque o governo não os vai
proteger. Estas declarações, feitas no regresso da cimeira de
Havana, desautorizam de forma categórica o vice-presidente
Joseph Mska, que se havia comprometido a pôr fim às ocupações
e a prosseguir o plano de redistribuição de terras que estava
programado. As divergências no seio do governo e o confronto com
as autoridades judiciais são tanto mais graves quando surgem
numa altura em que o país se encontram sem parlamento,
dissolvido pelo presidente a pretexto da realização de
eleições, conforme o previsto na legislação do país. Mugabe
ainda não marcou a data das eleições, limitando-se a afirmar
que se realizarão «em breve».
Uma questão em aberto
A questão da posse
da terra é um problema em aberto no Zimbabwe, mas o caminho
escolhido por Mugabe dificilmente poderá ser considerado o mais
adequado para a resolver. Cerca de 4500 agricultores brancos
possuem onze milhões de hectares da melhor terra arável do
país, enquanto um milhão de negros reparte 16 milhões de
hectares, parte dos quais na zonas mais secas. Esta situação,
fruto da herança colonial, foi justamente uma das bandeiras que
mobilizou a população da luta pela independência, alcançada
em 18 de Abril de 1980.
Vinte anos depois, a questão continua em aberto, sem que o
governo se tenha empenhado seriamente em a resolver. De acordo
com a oposição e a generalidade dos observadores, a crescente
perda de popularidade de Mugabe terá levado o presidente, antes
da realização de eleições, a lançar mão do recurso da
ocupação de terras sem quaisquer regras numa tentativa
desesperada para se manter no poder.
Desde Fevereiro, os antigos combatentes ocuparam já perto de um
milhar de explorações de brancos.