Educação e Democracia
Nunca, como agora, com o PS no Governo, o
discurso educativo incorporou tantas referências de natureza
democratizadora e tantas expressões de preocupação com o que
se passa na esfera do social. Mas nunca, também, como agora, é
tão sensível a discrepância entre esse discurso político e
ideológico e as diferenciações classistas e sócio-culturais
que hoje batem à porta da escola, nela entram e aí se estão a
reproduzir e a ampliar.
Acompanhando o insuficiente nível de recursos disponibilizados
para a educação pública, o que se assinala assim de mais
negativo na prática do Governo em clara contradição com
as orientações activas de política educativa democrática
consagradas na Constituição e na Lei de Bases do Sistema
Educativo -, é ela estar limitada no terreno da escola a
reproduzir e a aprofundar essas diferenciações. Como se fosse
«natural» e até «desejável» um sistema escolar
incluindo o próprio ensino público com «carruagens» de
1.ª classe e de 2.ª classe e com reduzidas ou nulas
possibilidades de trânsito interno da 2.ª para a 1.ª classe,
para além dos muitos alunos que vai deixando à margem pelo
caminho.
Não surpreende, por isso, que os estudantes estejam de regresso
às ruas. Que seja grande o descontentamento dos professores em
relação à política do Governo já a caminho do 2º dia
de greve no presente ano lectivo e com uma nova jornada de luta
prevista para o final de Maio. Que seja crescente, também, a
intervenção do movimento associativo de pais e encarregados de
educação. E que esteja em desenvolvimento um muito amplo e
diversificado movimento em defesa de uma escola pública de
qualidade e para todos.
De tudo isto, entre muitos outros aspectos, se falou no excelente
Encontro Nacional do PCP sobre Educação, realizado no dia 8 de
Abril. Bem como na determinação dos comunistas reforçarem a
sua iniciativa: aprofundando a análise da situação na área
educativa e a resposta política e ideológica a dar aos
problemas e alterações de natureza social que estão a entrar
pela escola dentro e a interferir, crescentemente, com os
processos educativos; contribuindo para alargar ainda mais a
dinâmica que anima o movimento sindical docente, o movimento
estudantil e o movimento associativo de pais, e a sua
convergência na acção e na iniciativa; e imprimindo um
acrescido impulso à intervenção política e ideológica, à
organização e a todo o trabalho do Partido. Edgar
Correia