Os perigos das propostas do PE
Por Ilda Figueiredo
Estão a decorrer os trabalhos da Conferência Intergovernamental (CIG) sobre as reformas das instituições europeias e as alterações a introduzir no Tratado de Amesterdão, prevendo-se a sua conclusão para finais do ano.
Embora ainda pouco se conheça sobre as conclusões previsíveis, o Parlamento Europeu (PE) aprovou, recentemente, uma resolução onde aponta caminhos muito perigosos e inadmissíveis para o futuro da União Europeia (UE), pondo em causa os equilíbrios institucionais existentes, num verdadeiro atentado à soberania dos Estados membros e à democracia representativa.
Representação
reduzida
Se os Governos dos
actuais 15 Estados-membros da UE seguissem as propostas aprovadas
pelo PE, Portugal e outros pequenos e médios países veriam a
sua representação drasticamente reduzida no PE e na Comissão,
e com a nova ponderação de votos no Conselho o governo teria
ainda menos capacidade de influenciar as decisões políticas.
De facto, ao limitar a 700 o número máximo de deputados do PE,
e dado que o alargamento a 27 países implica um aumento de um
terço da população da União, os deputados seriam reduzidos em
pelo menos cerca de um terço, devendo passar dos actuais 25 para
apenas 16, ou menos, dada a necessidade de manter um número
mínimo de quatro deputados por Estado, como propõe o PE.
Deste modo, a representação de Portugal ficaria limitada apenas
a dois maiores partidos, pondo em causa os princípios mais
elementares da representação proporcional da democracia
representativa.
Quanto à Comissão, ao admitir como uma das duas soluções
possíveis, um número fixo de 20 comissários, a funcionar em
sistema rotativo que assegure, ao longo de tempos iguais,
oportunidades de participação aos cidadãos de todos os Estados
membros, de facto está a impedir que Portugal tenha um
comissário durante a maior parte do mandato.
Quanto ao Conselho, ao propor que as deliberações que exigem
uma maioria qualificada, as quais constituirão a regra geral,
sejam válidas desde que tenham obtido pelo menos o voto
favorável da maioria simples dos Estados membros que representem
pelo menos a maioria da população total da UE, basta pensar na
população da Alemanha, da França, do Reino Unido, da Espanha e
da Itália para concluir que não é preciso muito mais para
conseguir a maioria dos países que representam a maioria da
população total.
Soberania afectada
E assim fica claro
que a soberania portuguesa seria drasticamente afectada e as
possibilidades de intervenção nas decisões políticas das
instituições da União Europeia praticamente reduzidas a zero.
Em nome da eficácia, e com o pretexto do alargamento, a maioria
do PE pretende que, de facto, se criem verdadeiros directórios
políticos de forma a garantir que quatro ou cinco países
maiores mandem nos restantes. É o seu conceito inaceitável de
democracia.
Se a estas propostas juntarmos a defesa de partidos políticos
europeus e a criação de um círculo europeu, a
constitucionalização dos Tratados, a cooperação reforçada, a
personalidade jurídica própria, a inclusão da UEO na Política
Externa e de Segurança Comum da UE, a transformação do actual
«Comité Político» em «Comité Político e de Segurança
Permanente», admitindo também a criação do «Comité
Militar», a serem dirigidas pelo Alto Representante (actualmente
Javier Solana, o mesmo dos bombardeamentos da NATO na
Jugoslávia), não é difícil concluir que se estão a abrir
caminhos agressivos que podem conduzir a crises violentas pondo
em causa o desenvolvimento e a paz a que aspiram os povos da
Europa.
Registe-se que estas posições só foram possíveis com os votos
favoráveis da maioria dos deputados do PPE e do PSE, embora dos
deputados portugueses apenas o tenha feito Teresa Almeida Garret,
eleita nas listas do PSD. De vários outros deputados não se
conhece o sentido de voto, dado não terem exercido o respectivo
direito, como aconteceu com Luís Queiró do PP e Mário Soares,
assumido federalista.