Agentes federais resgatam menino cubano da casa de familiares exilados em Miami
Elián nos braços do pai



Cinco meses depois da separação, Elián González voltou para junto do pai, na madrugada de sábado. Agora aguarda a decisão do Tribunal de Atlanta para voltar para Cuba.


Resgatado por agentes federais da casa que lhe serviu de morada nos últimos cinco meses, Elián González - agora na companhia do pai, da madrasta e do irmão mais novo - aguarda uma decisão do Tribunal de Recurso de Atlanta sobre o direito de pedir asilo político. Tudo aponta para que haja uma resposta no próximo dia 11.
Foi a própria Casa Branca que referiu que Elián se mostrou «muito contente» ao encontrar o pai na base aérea de Andrews, em Washington, alegria aliás evidente nas fotografias tiradas na ocasião e difundidas pelas autoridades norte-americanas. Doris Messner, responsável do Serviço de Imigração referiu que o encontro de pai e filho foi «muito, muito emocionante».
A reacção dos exilados cubanos ao resgate não se fez esperar: incêndios em metade das principais ruas de Miami, pedras atiradas contra os automóveis, lojas e contentores destruídos. Os distúrbios arrastaram-se por várias horas e duas centenas de pessoas foram detidas pela polícia.
Esta posição não é, no entanto, partilhada pela opinião pública. Segundo uma sondagem, dois terços dos americanos mostram-se favoráveis ao recurso à força neste caso. Esta opção só foi adoptada pelas autoridades depois dos familiares de Elián se recusarem a entregar o menino e a levá-lo a Washington para se encontrar com o pai.
«A lei foi aplicada», afirmou Bill Clinton, acrescentando: «Creio que era o que havia a fazer.» «Ela (Janet Reno) tratou do assunto, mas eu apoio plenamente tudo o que fez», declarou o presidente americano.


Elián não é trofeu

Fidel Castro congratulou-se com o resgate de Elián, mas lembrou que a vitória ainda não é total. Como se lê no jornal Granma, «não se sabe o que é capaz de fazer a mafia contra-revolucionária de Miami depois de ter perdido o menino-refém».
Falando perante mais de 40 mil pessoas nas comemorações do 39.º aniversário da invasão da Baia dos Porcos, o presidente cubano classificou o dia de sábado como um dia de trégua, quem sabe se o único, entre Cuba e os Estados Unidos.
As actuações do presidente americano e da ministra da Justiça, Janet Reno, foram aliás elogiadas por Fidel, que afirmou que Bill Clinton se comportou com «coragem» no processo. «Esta é uma vitória que compartilhamos com o presidente dos EUA, que teve uma atitude firme», disse.
«Hoje é um dia de trégua com os Estados Unidos, por isso é justo que este acto não seja de jactância nem de vangloria», declarou Fidel. Nesse sentido, as autoridades cubanas pediram à população uma atitude «serena, discreta e digna» perante os acontecimentos sem manifestações públicas.
Fidel Castro adiantou que, quando Elián regressar a Cuba, não será usado como um «troféu». Nem sequer haverá celebrações para o receber. «Nenhum de nós estará lá, nenhum dirigente», afirmou.

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Cronologia

23 Nov. 1999 - A barca em que Elián González viaja afunda-se. A sua mãe morre.
25 Nov. 1999
- Flutuando em cima de um pneumático, Elián é resgatado.
27 Nov. 1999
- O pai de Elián, Juan Miguel González, pede a custódia do filho e o seu regresso a Cuba.
7 Dez. 1999
- Washington reconhece os direitos do pai sobre Elián.
10 Dez. 1999 - O tio avô de Elián, Lázaro Gonzaléz, pede o asilo político da criança aos EUA.
5 Jan. 2000
- O Serviço de Emigração dos EUA decide que Elián deve ser entregue ao pai.
10 Jan. 2000
- Bill Clinton reitera o seu apoio à decisão do Serviço de Emigração.
6 Abr. 2000
- Juan Miguel González chega aos EUA.
22 Abril 2000
- Elián é retirado da casa dos familiares em Miami e levado para a base aérea de Andrews, onde se encontra com o pai.


«Avante!» Nº 1378 - 27.Abril.2000