Cidadania
A revisitação de um passado de luta e de
exaltantes transformações e a projecção para o futuro das
inadiáveis causas de hoje convocam-nos, de novo, para o 25 de
Abril e 1º de Maio. Para o sentido que faz falar em cidadania,
entendida, como nos propôs Luís Sá, "como um elenco de
direitos e de deveres de cada um face à polis e como a sua
possibilidade e capacidade de participar nos assuntos de
todos". E que não é, nem nunca tem que ser, "uma
forma de escamotear a existência de conflitos sociais e de
classe, mas sim uma área em que a sua existência se projecta de
forma particularmente nítida e na qual os que menos têm
procuram um campo para combater e para alterar a sua
situação"(*).
Percorra-se a Constituição da República onde estão inscritos
- apesar dos efeitos de sucessivas revisões descaracterizadoras
aprovadas pelo PS e pelos partidos da direita - os direitos,
liberdades e garantias que singularizam o regime democrático
construído pela Revolução, desde os de natureza pessoal, aos
de participação política e aos que dizem respeito
especificamente aos trabalhadores (segurança no emprego,
comissões de trabalhadores, liberdade
sindical, direitos das associações sindicais e contratação
colectiva, direito à greve e proibição do lock-out).
Registe-se a extensa e avançada formulação dos direitos
económicos, sociais e culturais - desde o direito ao trabalho e
outros direitos dos trabalhadores, aos direitos à segurança
social, à saúde, à habitação e urbanismo, ao ambiente e
qualidade de vida, à educação, cultura e ciência, e aos
direitos que protegem especificamente a juventude, a família e a
terceira idade. Formulação que consagra igualmente a
incumbência do Estado relativamente à sua concretização.
É uma provada evidência que não basta a expressão
constitucional de um tão vasto - e avançado - conjunto
de direitos, para que esteja assegurado o seu respeito e
cumprimento. Mas o facto de esses direitos estarem consagrados na
Constituição e integrarem, inequivocamente, o valioso espaço
de cidadania alcançado com a Revolução de Abril, constitui um
elemento extremamente favorável aos que prosseguem a luta,
diariamente, pelo seu reconhecimento e
concretização.
Para um partido da classe operária e de todos os trabalhadores e
portador de um programa político para Portugal, de construção
de uma democracia avançada, para o PCP, não é pois natural a
defesa e a própria luta pelo aprofundamento da cidadania?
Edgar Correia
(*) Luís Sá, Espaços de poder e democracia, Editorial Caminho.