O Governo do Patrão

João Frazão

Ministro da Eco­nomia e se­cre­tário de Es­tado do Em­prego des­do­braram-se esta se­gunda-feira na AR em ar­gu­mentos para jus­ti­ficar o brutal au­mento da ex­plo­ração, com a con­se­quente trans­fe­rência de mi­lhões de euros dos bolsos dos tra­ba­lha­dores para o pa­tro­nato.

Que o au­mento do sa­lário mí­nimo (acor­dado li­vre­mente entre as partes na Con­cer­tação So­cial) é ge­rador de de­sem­prego.

Que a re­no­vação de con­tratos a prazo vai evitar mi­lhares de de­sem­pre­gados. Que, sem o pro­lon­ga­mento da pre­ca­ri­e­dade para lá de todos os li­mites (não os ra­zoá­veis, mas os que eles fi­xaram em lei), ia tudo para o olho da rua!

Que a meia hora por dia de borla para o pa­trão visa res­ponder à emer­gência na­ci­onal, não ex­pli­cando como é que o facto dos pa­trões em­bol­sarem mais de sete mil mi­lhões de euros/​ano a que acrescem os fe­ri­ados que também pre­tendem roubar, fa­zendo, na prá­tica, um mês de tra­balho por ano, não pago e por­tanto sem lugar a im­postos, serve para ate­nuar a dí­vida!

Como os ar­gu­mentos eco­nó­micos, porque ine­xis­tentes, lhe fal­tassem, o mi­nistro da Eco­nomia, em res­posta às crí­ticas do de­pu­tado co­mu­nista Jorge Ma­chado, re­correu à velha e eterna treta de que o PCP só uti­liza «re­tó­rica clas­sista» avi­sando que eles sabem «bem o que acon­teceu na União So­vié­tica e em Cuba».

Não deixa de ser re­ve­lador que, 20 anos de­pois do fim da União So­vié­tica, quando o ca­pi­ta­lismo se en­contra na sua mais grave crise, em que sob esse pre­texto pro­cura re­cu­perar uma parte do que os tra­ba­lha­dores con­quis­taram, também com a ajuda do exemplo que vinha dos tra­ba­lha­dores so­vié­ticos, esse exemplo ame­dronte tanto as classes po­de­rosas. E que para dis­farçar o con­teúdo de classe da sua po­lí­tica (que está ao ser­viço da grande bur­guesia, ao ser­viço do pa­trão), acuse o PCP de as­sumir uma pos­tura de classe, algo que ele e os seus pares, ti­nham de­cre­tado ex­tinto.

Haja al­guém que diga a este se­nhor e aos seus com­parsas de Go­verno que os co­mu­nistas por­tu­gueses não aban­do­narão a de­fesa da classe ope­rária, pois é daí que lhe vem a sua força! E que, por muito que isso lhe custe, en­con­trar-nos-á sempre do mesmo lado. No Par­la­mento, na rua, na Greve Geral de 24 de No­vembro!



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