Venezuela: ofensiva e resistência

Desde 1999, mo­mento de vi­ragem po­lí­tica e so­cial na Ve­ne­zuela com a che­gada ao poder de Hugo Chávez, que se con­so­lidam os apoios do im­pe­ri­a­lismo às forças mais re­ac­ci­o­ná­rias que li­deram a cha­mada opo­sição, pa­tro­ci­nando vi­o­lentas ac­ções de de­ses­ta­bi­li­zação po­lí­tica, so­cial e eco­nó­mica. Ao longo de 17 anos, des­tacam-se um golpe de Es­tado fa­lhado, em Abril de 2002, a sa­bo­tagem da em­presa pe­tro­lí­fera em De­zembro de 2002, ou as cha­madas gua­rimbas (bar­ri­cadas) de 2014, onde as forças re­ac­ci­o­ná­rias, in­cluindo fas­cistas, in­ci­taram à vi­o­lência e de­sordem pú­blica, de que re­sul­ta­riam 43 mortos e cen­tenas de fe­ridos.

Em todos estes mo­mentos, foi o povo mo­bi­li­zado nas ruas que de­fendeu e afirmou a re­vo­lução bo­li­va­riana, e que im­pediu que os golpes e a de­ses­ta­bi­li­zação di­tassem a queda do Go­verno.

A ofen­siva, essa, nunca parou. Ao longo de 2015, as forças re­ac­ci­o­ná­rias re­for­çaram e di­na­mi­zaram novas frentes de afron­ta­mento, fus­ti­gando o povo e pro­cu­rando di­vidir e des­gastar a base de apoio po­pular da re­vo­lução. A oli­gar­quia ve­ne­zu­e­lana, ainda de­ten­tora dos meios de pro­dução e de dis­tri­buição e ar­ti­cu­lada com o ca­pital es­tran­geiro, or­ga­nizou um boi­cote, à es­cala na­ci­onal, no acesso a bens ma­te­riais im­pondo uma ló­gica de mer­cado negro quer na compra e venda de bens, quer na troca de di­visas cem vezes abaixo da taxa de câmbio ofi­cial, es­ti­mu­lando o cres­ci­mento des­con­tro­lado da in­flação e o em­po­bre­ci­mento for­çado da po­pu­lação. Grupos de boi­cote or­ga­ni­zados acor­reram às lojas es­va­zi­ando-as de pro­dutos es­sen­ciais para os co­locar à venda no mer­cado negro a preços cada vez mais ele­vados. A dis­tri­buição con­di­ci­onou a re­po­sição de pro­dutos ali­men­tares, hi­gié­nicos e far­ma­cêu­ticos. O mesmo se passou com a dis­tri­buição de me­di­ca­mentos. Uma re­a­li­dade a que se soma a queda tem­po­ral­mente si­mul­tânea dos preços de pe­tróleo (em parte por ma­ni­pu­lação do im­pe­ri­a­lismo), e a re­dução do acesso a di­visa con­se­quente, im­pondo uma grave crise eco­nó­mica que li­mita a ca­pa­ci­dade de res­posta go­ver­na­mental a mais esta ofen­siva.

Foi este con­texto que viria a criar as con­di­ções para os re­sul­tados elei­to­rais de De­zembro pas­sado, onde a opo­sição venceu as se­gundas elei­ções para o par­la­mento ve­ne­zu­e­lano em 17 anos. Uma nova re­a­li­dade nas re­la­ções de poder, por onde a opo­sição tem pro­cu­rado ali­mentar a de­ses­ta­bi­li­zação, minar e con­tra­riar os avanços do pro­cesso pro­gres­sista em curso.

A es­tra­tégia gol­pista no plano in­terno é es­trei­ta­mente ar­ti­cu­lada e co­or­de­nada com as ac­ções e pro­vo­ca­ções de in­ge­rência ex­terna. O cerco mi­litar à Ve­ne­zuela, com a cri­ação de ten­sões nas fron­teiras com a Guiana e a Colômbia, país onde os EUA têm a maior con­cen­tração de bases mi­li­tares na Amé­rica La­tina; o de­creto de Obama de Março de 2015, de­cla­rando a Ve­ne­zuela uma ameaça à se­gu­rança na­ci­onal dos EUA e à sua po­lí­tica ex­terna; a mas­siva cam­panha me­diá­tica in­ter­na­ci­onal contra a Ve­ne­zuela, são exem­plos dessa in­ge­rência, ata­ques a que se junta o coro con­tínuo que di­reita e so­cial-de­mo­cracia pro­movem ac­ti­va­mente no Par­la­mento Eu­ropeu, tendo como al­guns dos seus pro­ta­go­nistas vozes bem co­nhe­cidas do PSD e do PS. A úl­tima re­so­lução do PE sobre a Ve­ne­zuela é exemplo elu­ci­da­tivo desse papel. Além de apoiar a lei da am­nistia*, a re­so­lução que foi apro­vada com os votos a favor do PS, PSD e CDS e com a abs­tenção do BE, pro­move a ofensa e o apelo à in­ge­rência e in­ter­venção ex­terna no país a pre­texto de uma pre­tensa crise hu­ma­ni­tária.

Os avanços da re­vo­lução bo­li­va­riana desde 1999 são in­con­tes­tá­veis: a re­dução para me­tade do de­sem­prego (hoje nos 7%); a re­dução da po­breza de 70,8 para 33,1 por cento; uma me­lhor dis­tri­buição da ri­queza e a eli­mi­nação da fome; a en­trega de mais de um mi­lhão de ha­bi­ta­ções para fa­mí­lias ca­ren­ci­adas; a mas­si­fi­cação do acesso ao en­sino su­pe­rior; o acesso gra­tuito à saúde; o au­mento subs­tan­tivo do sa­lário mí­nimo, são al­gumas, entre muitas ou­tras, destas im­por­tantes con­quistas. E são exac­ta­mente essas con­quistas a razão da ofen­siva im­pe­ri­a­lista que não perdoa a um país e um povo que afirmem a sua von­tade so­be­rana de romper com a sub­missão e cons­truir um fu­turo de de­sen­vol­vi­mento que sirva os in­te­resses do povo.

A si­tu­ação do país está longe de ser per­feita. São as pró­prias forças que in­te­gram o go­verno, os prin­ci­pais par­tidos que lhe dão su­porte, que re­co­nhecem e iden­ti­ficam erros e li­mi­ta­ções, bem como o atraso de me­didas de to­mada do con­trolo dos sec­tores pro­du­tivos e de dis­tri­buição. Mas essas que afirmam também a von­tade ab­so­luta de pros­se­guir e fazer sair vi­to­riosa a di­nâ­mica pro­gres­sista criada.

Saibam as forças pro­gres­sistas na Ve­ne­zuela mo­bi­lizar e cons­truir a uni­dade do povo, dos tra­ba­lha­dores e das Forças Ar­madas, e o salto para um novo e ne­ces­sário nível de de­sen­vol­vi­mento re­vo­lu­ci­o­nário será al­can­çado, ven­cendo a ofen­siva e lan­çando as se­mentes para a cons­trução do so­ci­a­lismo.

__________

* A Lei da Am­nistia, pro­mo­vida pela opo­sição na As­sem­bleia Na­ci­onal, previa a am­nistia a presos desde 1999, por crimes de in­ci­ta­mento ao ódio e à vi­o­lência, as­sas­si­nato e ter­ro­rismo, entre ou­tros não menos graves. Foi de­cla­rada in­cons­ti­tu­ci­onal no Tri­bunal Su­premo




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