PCP nas eleições da Bolívia e Argentina solidário com os povos da América Latina

SO­LI­DA­RI­E­DADE Sandra Pe­reira, de­pu­tada do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu (PE) que in­te­grou mis­sões de ob­ser­vação às elei­ções na Bo­lívia e na Ar­gen­tina, re­a­li­zadas res­pec­ti­va­mente a 20 e 27 de Ou­tubro, fala ao Avante!.

As vi­tó­rias das forças pro­gres­sistas são boas para os povos da re­gião

No caso das elei­ções re­a­li­zadas no Es­tado Plu­ri­na­ci­onal da Bo­lívia, Sandra Pe­reira, que é vice-pre­si­dente da As­sem­bleia Par­la­mentar Euro-La­tino-ame­ri­cana, in­te­grou a de­le­gação do Grupo Con­fe­deral da Es­querda Uni­tária Eu­ro­peia/ Es­querda Verde Nór­dica (GUE/​NGL) do PE, da qual fa­ziam também parte Ma­nuel Pi­neda e Mick Wal­lace, res­pec­ti­va­mente de­pu­tados da Iz­qui­erda Unida/ Par­tido Co­mu­nista de Es­panha e de In­de­pen­dents 4 Change, da Ir­landa. Estes foram os únicos de­pu­tados do PE a par­ti­cipar já que, ofi­ci­al­mente e de forma de­li­be­rada, a União Eu­ro­peia re­cusou o con­vite das au­to­ri­dades bo­li­vi­anas para in­te­grar o pro­cesso de ob­ser­vação in­ter­na­ci­onal a estas elei­ções.

Como de­correu o acto elei­toral na Bo­lívia?

Ao longo do dia vi­si­támos vá­rios postos elei­to­rais, em La Paz e em El Alto. Ve­ri­fi­cámos que os nor­mais pro­ce­di­mentos es­tavam a ser cum­pridos e que os bo­li­vi­anos po­diam exercer o seu voto de forma livre e de­mo­crá­tica. Fa­lámos com elei­tores, de­le­gados e mem­bros das mesas que também nos con­fir­maram que o pro­cesso es­tava a de­correr com nor­ma­li­dade, com algum en­tu­si­asmo, até.

Na Bo­lívia, o voto é obri­ga­tório. Talvez por isso, e so­bre­tudo em El Alto, havia muitas fa­mí­lias a votar acom­pa­nhadas pelos fi­lhos e netos. Para estas fa­mí­lias, o dia das elei­ções é como um dia de festa porque a mai­oria das pes­soas não tra­balha e há, em al­gumas si­tu­a­ções, junto aos postos elei­to­rais, lo­cais com co­mida, be­bida e di­versão para as fa­mí­lias. Não de­tec­támos quais­quer ir­re­gu­la­ri­dades.

Es­ti­veram pre­sentes na con­tagem dos votos?

Sim. As urnas fe­charam às 16 horas e pu­demos acom­pa­nhar o pro­cesso de con­tagem dos votos num dos postos, em di­fe­rentes mesas, em Mi­ra­flores, La Paz. A con­tagem dos votos fez-se sempre em ses­sões pú­blicas, com a pre­sença dos mem­bros das mesas, de­le­gados dos par­tidos, ob­ser­va­dores in­ter­na­ci­o­nais, elei­tores e jor­na­listas. O voto era mos­trado a todos e as­si­na­lado pu­bli­ca­mente num quadro, não ha­vendo es­paço para ma­ni­pu­lação ou fraude. Tratou-se de um pro­cesso muito trans­pa­rente.

Como vês os pro­testos dos opo­si­tores de Evo Mo­rales ale­gando uma even­tual fraude?

In­de­pen­den­te­mente do re­sul­tado, é im­por­tante res­peitar a von­tade do povo bo­li­viano ex­pressa no voto. Dis­sémo-lo quando os re­sul­tados pro­vi­só­rios (ainda sem os votos de zonas ru­rais) in­di­cavam a ne­ces­si­dade de uma se­gunda volta para a pre­si­dência. Vol­támos a re­peti-lo mais tarde, quando já se ve­ri­fi­cava uma margem de mais de 10 pontos entre os dois pri­meiros can­di­datos, tendo o can­di­dato mais vo­tado al­can­çado mais de 40% dos votos, apon­tando a vi­tória de Evo Mo­rales e não obri­gando assim à re­a­li­zação dessa se­gunda volta.

Pa­rece claro que a mai­oria dos bo­li­vi­anos pre­fere de­fender o ca­minho de de­sen­vol­vi­mento so­be­rano, pro­gresso so­cial e di­mi­nuição das de­si­gual­dades so­ciais que Evo Mo­rales e o MAS têm as­se­gu­rado. É ir­res­pon­sável e la­men­tável que se criem ru­mores de fraude e que se in­cite à vi­o­lência pelo facto de os re­sul­tados das zonas ru­rais terem na­tu­ral­mente le­vado mais tempo a serem co­nhe­cidos. De facto, é a opo­sição que está a tentar levar a cabo uma ina­cei­tável ten­ta­tiva de golpe de Es­tado, o que re­vela o seu de­ses­pero e pendor an­ti­de­mo­crá­tico, so­bre­tudo no ac­tual con­texto em que Evo Mo­rales já veio afirmar que, em prol da trans­pa­rência, está dis­po­nível para uma au­di­toria aos re­sul­tados e que não teme as con­clu­sões que daí ad­vi­erem.

O re­la­tório da de­le­gação do Grupo Con­fe­deral GUE/​NGL as­si­nala a trans­pa­rência e rigor do es­cru­tínio e saúda a vi­tória de Evo Mo­rales e os seus es­forços no de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial do povo bo­li­viano.

E sobre o acto elei­toral na Ar­gen­tina?

O PCP acom­pa­nhou igual­mente as elei­ções na­ci­o­nais na Ar­gen­tina, no pas­sado do­mingo, 27, in­te­grando a de­le­gação de ob­ser­va­dores in­ter­na­ci­o­nais que se des­locou a dois postos elei­to­rais em Merlo, Bu­enos Aires, onde pôde ve­ri­ficar o normal de­sen­rolar do acto elei­toral, com os ar­gen­tinos exer­cendo o seu voto de forma livre.

A co­li­gação Frente de Todos, que in­clui, entre ou­tros, o Par­tido Co­mu­nista da Ar­gen­tina, par­tidos pe­ro­nistas e ou­tras forças pro­gres­sistas, en­ca­be­çada por Al­berto Fer­nández, ob­teve cerca de 48% dos votos, com vá­rios pontos a dis­tanciá-la do se­gundo can­di­dato, Mau­rício Macri, que en­ca­be­çava a Pro­posta Re­pu­bli­cana, que al­cançou cerca de 40%. Macri, que pre­sidiu e go­vernou a Ar­gen­tina nos úl­timos quatro anos e é um dos res­pon­sá­veis pela gra­vís­sima si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial ac­tu­al­mente exis­tente na­quele país, re­co­nheceu nessa mesma noite a vi­tória de Fer­nández.

Qual o sig­ni­fi­cado da eleição de Al­berto Fer­nández como Pre­si­dente da Ar­gen­tina?

Nos vá­rios dis­cursos de vi­tória na noite das elei­ções, foi afir­mado o fa­lhanço das po­lí­ticas ne­o­li­be­rais dos úl­timos anos, que agu­di­zaram bru­tal­mente as de­si­gual­dades so­ciais na Ar­gen­tina, pro­vo­caram o au­mento do de­sem­prego, da po­breza e a de­gra­dação das con­di­ções de vida do povo ar­gen­tino. A re­cusa destas «fa­ta­li­dades» e a von­tade de mu­dança fi­caram ex­pressas no re­sul­tado elei­toral que foi co­me­mo­rado nas ruas de Bu­enos Aires com muita ale­gria pelos ar­gen­tinos, es­pe­ci­al­mente os jo­vens, que en­to­avam pa­la­vras de ordem como Se van e non voltarán.

Cris­tina Kir­chner, eleita vice-pre­si­dente, re­feria-se na noite das elei­ções a uma «jor­nada his­tó­rica» para a Ar­gen­tina.

Qual o sig­ni­fi­cado desta mu­dança na Ar­gen­tina para a Amé­rica La­tina?

Esta vi­tória não é só im­por­tante para o povo ar­gen­tino. É também uma vi­tória para os povos que na Amé­rica La­tina re­sistem e lutam contra as po­lí­ticas ne­o­li­be­rais e a ofen­siva de­ses­ta­bi­li­za­dora e agres­siva dos EUA, que contam com o apoio das oli­gar­quias la­tino-ame­ri­canas e, também, da União Eu­ro­peia. Esta vi­tória re­pre­senta um sinal claro de mais um país e povo que as­pira a afirmar a sua so­be­rania e di­reito ao de­sen­vol­vi­mento e ao pro­gresso so­cial, re­sis­tindo a in­ge­rên­cias e im­po­si­ções ex­ternas.

Logo na noite da vi­tória, Al­berto Fer­nández, re­co­nhe­cendo a im­por­tância da sua vi­tória para a Amé­rica La­tina, di­rigiu pa­la­vras à Bo­lívia, sau­dando e le­gi­ti­mando o re­sul­tado das elei­ções do pas­sado dia 20, numa de­mons­tração de res­peito pela von­tade do povo bo­li­viano. Também se re­feriu a Lula da Silva, cujo ani­ver­sário se co­me­morou nesse dia e que, em Maio pas­sado, lhe tinha pe­dido como prenda a vi­tória das forças pro­gres­sistas.

A par­ti­ci­pação do PCP no acom­pa­nha­mento a estes actos elei­to­rais cons­titui um acto e ex­pressão de so­li­da­ri­e­dade para com os tra­ba­lha­dores, os povos e as forças re­vo­lu­ci­o­ná­rias e pro­gres­sistas da Bo­lívia e da Ar­gen­tina, para com a sua luta em de­fesa do di­reito a de­cidir li­vre­mente e em paz os seus pró­prios des­tinos e a cum­prir os di­reitos e as justas as­pi­ra­ções dos seus povos à jus­tiça e ao pro­gresso so­cial, ao de­sen­vol­vi­mento e à co­o­pe­ração.




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