As Organizações Regionais do PCP na Festa

Uma ideia de colectivo



Atender e servir centenas de milhares de pessoas durante três dias é tarefa tão gigantesca como a própria Festa do Avante!. Além disso, trata-se de um trabalho tão estratégico, que dele depende o sucesso directo deste evento sem paralelo no nosso País - sucesso, sublinhe-se, todos os anos reconfirmado pelas multidões heterogéneas que há muito fizeram desta realização dos comunistas portugueses uma referência nacional.


Se, em corolário, tomarmos em linha de conta que as centenas de pessoas que asseguram o funcionamento de todas estas estruturas da Festa nem são, maioritariamente, profissionais dos ofícios ali desempenhados, nem qualquer deles retira benefício pessoal das intensas jornadas de trabalho em que se envolvem durante três dias consecutivos, temos um fenómeno de competência: a que deriva da pura generosidade individual a favor duma ideia de colectivo.

Assim, antes de falarmos das Organizações do Partido que mais uma vez levaram o País aos 17 hectares da Atalaia, detenhamo-nos um pouco em quem garante o andamento do prodígio nos três dias da Festa.


Era impossível não dar por eles, até porque deles é que vinha todo o atendimento, fosse nas bilheteiras onde se adquiriam os pré-comprados dos petiscos pretendidos, fosse aos balcões e nas mesas onde, pelas suas mãos, desaguavam os produtos escolhidos.

Todavia, nem de perto nem de longe estes rostos visíveis do atendimento da Festa preenchiam toda a estrutura humana em acção. Na sua rectaguarda formigavam também infatigavelmente muitos outros, aqui garantindo as formidáveis linhas de abastecimento para tão descomunal serviço, ali, amassando o pão, cortando os legumes, limpando a carne, lavando a louça, virando os grelhados, vigiando as panelas, limpando as mesas, organizando os espaços, transportando os víveres, cozinhando as refeições, preparando os petiscos, servindo os pedidos, atendendo os compradores, esclarecendo as dúvidas, controlando as transações, corrigindo as reclamações, acorrendo às emergências, improvisando no inesperado, colmatando as falhas, explicando os produtos, ouvindo as dúvidas, sugerindo opções - tudo exercido numa lufa-lufa sem tréguas, debaixo de muitas horas de calor, cercado de solicitações e impaciências típicas de procuras em massa, às vezes bombardeado ininterruptamente pelas mais díspares e tonitroantes explosões sonoras.

Excluído que está, à partida, qualquer benefício material para tão árduos e anónimos contributos, apenas o empenho individual e colectivo pode explicar estas jornadas de trabalho verdadeiramente heróico, que centenas de pessoas anualmente oferecem à Festa do Avante!.

Todavia, não se julgue que apenas quadros do Partido dão (também) aqui o seu contributo. A par de dirigentes e simples militantes, lá estavam, lado a lado nas tarefas e no entusiasmo, bastantes colaboradores que não têm qualquer vínculo ao PCP, alguns, até, simplesmente atraídos pelo companheirismo que nas suas vidas foram descobrindo nos comunistas das suas relações, companheirismo ampliado activamente nestas intervenções nos bastidores da Festa.

Outro aspecto a destacar, é a presença crescente de jovens neste «batalhão» de colaboradores, tendência que tem crescido nos últimos anos e mais uma vez se confirmou.

Finalmente, anote-se o grande esforço pessoal que muitas destas colaborações representam, para além do desgaste das tarefas propriamente ditas, e que toca a todos. Numerosos destes obreiros da Festa vieram de bem longe, às vezes consumindo fatias das próprias férias, para ali acamparem durante toda a iniciativa em condições austeras, quando não desconfortáveis.

Entretanto, para todos eles, a Festa é essencialmente a do trabalho intenso e desgastante, tendo como único retorno a satisfação de se ter participado numa realização com estes objectivos e envergadura.


O País na Festa

Viajemos agora um pouco pelo País que as diversas organizações do Partido trouxeram à Festa.

Descendo a avenida principal, Santarém era a primeira Organização Regional do Partido a oferecer aos visitantes a realidade ribatejana, este ano sob o lema «Operário em Construção». Na culinária apurámos que a sopa de pedra atraiu multidões, a Feira de Vinhos do Ribatejo foi um sucesso e a doçaria continuou, firme, a despertar a guloseima.

Fazendo vizinhança, também ali, com o Ribatejo, o Alentejo apresentava-se com diversificadas ofertas e exposições dos seus três Distritos - Portalegre, Évora e Beja -, com realce para os vinhos e os queijos, a doçaria e o seu artesanato tão original e diversificado.

Neste ponto da avenida, bastava atravessá-la para se estar em Lisboa. A Organização da capital escolheu como tema central as Docas da Cidade, destacando a Zona Ribeirinha que a Expo/98 está a requalificar. No seu vasto espaço e em matéria de petiscos, a dificuldade estava na escolha, quer nos virássemos para o conceituado Café Concerto, quer nos perdessemos pelas numerosas «tascas», bares e esplanadas que a ORL do PCP ali pôs mais uma vez em funcionamento, a par de exposições fotográficas ilustrando as lutas dos trabalhadores do Distrito.

Setúbal vinha a seguir, neste roteiro pela avenida principal abaixo, onde se destacava, pela imponência e pormenor, a exposição sobre os 20 anos de Poder Local Democrático, neste Distrito exercido com trabalho concreto pela CDU, maioritária em 12 dos seus 13 municípios, com sugestivos painéis e elementos escultóricos. À mistura, evidentemente, com os petiscos de créditos firmados, nomeadamente em matéria de peixe e mariscos.

No final da avenida e frente ao palco principal estava, mais uma vez, o Porto, desta vez apresentando, do ponto de vista decorativo, uma espectacular visão do casario da Ribeira e da silhueta inconfundível da Torre dos Clérigos, homenagem à cidade cujo Centro Histórico foi recentemente declarado Património Mundial. Por trás do painel, uma não menos espectacular esplanada onde espreitavam as delícias culinárias do Norte, fazendo apetecer ficar logo ali.

Algarve e Braga - duas extremidades no território continental - apresentavam-se lado a lado na Festa. E apresentavam-se muito bem. O primeiro, mostrando uma exposição sobre os problemas regionais e as propostas do PCP, com destaque para as candidaturas às próximas eleições autárquicas, não deixou de trazer a sua inconfundível doçaria. Braga mostrava-se através de arcos típicos de uma romaria minhota, atrás dos quais se podiam encontrar doces propostas: pão-de-ló de Vizela, clarinhas de Fão, toucibnho do céu, papos de anjo...

Subia-se um bocadinho outra avenida e lá estava Viana do Castelo de braço dado com Bragança. Viana abria-se em três áreas distintas - um pavilhão de artesanato, outro de doces regionais e produtos do Alto Minho e uma Adega Regional. Uma tentação em triplicado. Bragança não lhe ficava atrás: Ele era o azeite de Vila Flor, o mel da Terra Quente e do Parque Natural de Montesinho, o queijo de ovelha churra, as aguardentes e os moscatéis...

Aveiro, Viseu e Açores partilhavam o topo esquerdo da colina, no sentido de quem sobe. Mas quem podia verdadeiramente partilhar um mundo de coisas ali expostas era o visitante: ovos moles de Aveiro, pão-de-ló de Ovar ou de Arouca, presuntos e vinhos de Viseu, artesanato e licores açoreanos, a dificuldade estava na escolha.

No mesmo topo da colina, mas no lado direito, apresentavam-se Coimbra, Vila Real e Castelo Branco. Coimbra animou as noites com o seu Cantinho do Artista. Vila Real trouxe o Vinho Fino do Douro, tratado pelo lavrador e que é, nem mais nem menos, que o vinho do Porto sem misturas, e Castelo Branco, a par de exposições viradas para a batalha autárquica, desafiava o visitantes com uma bela tábua de queijos, e uma não menos deslumbrante garrafeira, a par de presuntos e enchidos como só por lá.

Guarda, Leiria e Madeira estavam um pouco mais abaixo, na mesma encosta das anteriores, mas nem por isso ofereciam menos. Na Guarda, à semelhança de Castelo Branco, imperava a tábua de queijos e a garrafeira, mais os presuntos e os enchidos - tudo de se lhe tirar o chapéu - enquanto em Leiria, a estrela continuou a ser o Forno de Vidro, onde o visitante podia ver ao vivo a manufactura das delicadas peças que, também ali, se podiam adquirir. Quanto à Madeira, voltou a trazer a sua própria equipa para, numa azáfama sem quebras e uma energia assinalável, dar vazão a uma clientela de ano para ano mais seduzida pela doçaria e o artesanato muito peculiares desta Região Autónoma.