"É preciso fazer a pedagogia da democracia"
Indignação
e protesto
pela presença de criminoso da Pide
A recente estadia em Lisboa de Rosa Casaco, criminoso da ex-Pide que com pleno à-vontade entrou em território nacional, motivou um vigoroso protesto do Grupo Parlamentar do PCP. Foram palavras de viva indignação as que povoaram o hemiciclo, pela voz do deputado João Amaral, que exigiu do Governo não apenas explicações para tamanha impunidade, como também uma posição de "clara condenação do fascismo e da Pide" e de medidas que façam a "pedagogia da democracia".
"Subo a esta tribuna para uma curta intervenção, para exprimir um protesto e fazer um apelo.
O protesto tem a ver com o Portugal que somos, com a democracia que construímos e com o passado que vivemos.
O povo português, e muitos dos que hoje militam na vida política, sofreram duramente com a ditadura. Com as prisões políticas, com a censura, com as discriminações políticas, com as perseguições, a tortura, até o assassinato político.O fascismo existiu!
A principal organização que foi responsável pela brutal repressão e pelo esmagamento das liberdades, foi a PIDE.
A PIDE foi uma organização de terrorismo de Estado, que praticou brutais crimes, contra muitos e muitos portugueses, contra a liberdade e a democracia.
Os dirigentes da PIDE são criminosos com as mãos manchadas do sangue dos patriotas, de liberdades esmagadas, de palavras reprimidas.
O que cimenta a nossa posição de geração, é a luta pela liberdade, pela democracia, uma luta em que muitos e muitos foram vítimas da PIDE.É por isto que não podemos deixar de trazer aqui um protesto vigoroso quando vemos que um dos carrascos mais responsáveis dos crimes da PIDE, se passeou impunemente e provocatoriamente pelas ruas da capital do País.
Rosa Casaco é um dos mais altos responsáveis da PIDE, associado a muitos crimes, incluindo a brutal cilada e assassinato de Humberto Delgado e da sua secretária.
Exprimo aqui a repulsa por esta indignidade. Rosa Casaco não é um qualquer criminoso. Se não é um PIDE boçal, a sua responsabilidade é ainda maior e mais grave.Ouvi declarações condenatórias de membros do Governo sobre esta estadia em Portugal do criminoso Rosa Casaco.
O que se exige é que o Governo venha aqui, aqui à Assembleia dar explicações: porque é preciso que fique clara a posição de todos os órgãos de soberania, é preciso fazer a pedagogia da democracia e isso exige fazer a clara condenação do fascismo e da PIDE.
É preciso que o Governo faça essa pedagogia. Todo o Governo. Não é aceitável que no Portugal democrático venha de um membro do Governo o elogio do governo de Marcelo Caetano derrubado em 25 de Abril pela acção corajosa dos militares e pelo entusiasmo militante do povo português.
Ainda por cima quando esse membro é o que tutela as Forças Armadas que derrubaram o governo de Marcelo Caetano e o fascismo, nesse dia 25 de Abril.
Marcelo Caetano não retirou uma vírgula ao salazarismo. Manteve a censura, a perseguição política, a guerra colonial, e a PIDE com todo o seu cortejo de violência.
Quando subiu ao poder, houve quem acreditasse nele, mas não demorou a desiludir-se. Como por exemplo uma figura de referência do PSD.
Ouvi na TVI o fotógrafo que fotografou Rosa Casaco dizer que conseguiu que ele cedesse as fotografias que lhe tirou, por causa da corrente de simpatia que se estabeleceu entre os dois.
Tenho de dizer a esse profissional da fotografia que, ou não sabe quem é Rosa Casaco e não sabe o que significa o fascismo, ou então não se entende com o Portugal democrático.Nem em nome de critérios jornalísticos é possível branquear o fascismo.
Daqui a dois meses comemoramos o aniversário do 25 de Abril. Faço aqui um apelo. Talvez seja a altura de voltar aqui a lembrar às novas gerações o que foi o fascismo, o que foi a PIDE.
Voltar a saudar os capitães de Abril.
A liberdade e a democracia consolidam-se todos os dias.
Este é o apelo que aqui deixo, o apelo da liberdade, mas, sobretudo, o apelo à memória da luta pela liberdade!